Abuso

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- Mamãe?! - Malu falou com a voz trêmula.

- Filha, o que houve?

- Você pode vir pra casa... - ela pediu com aflição, meu coração descompassou em desespero, comecei a procurar pelo resto da minha roupa mantendo a Malu na ligação, Vitória franzia a testa me acompanhava confusa.

- Malu, pelo amor de Deus, me conta o que aconteceu! Você está ferida? - olhei para Vitória nervosa que levantou também se vestindo.

- Você está vindo pra cá?

- Estou indo agora, só me diga se está segura?

- Sim.

- Meu amor, eu estou indo o mais rápido que posso, mas preciso saber se está ferida?

- Não estou mamãe... - ela respondeu com a voz embargada, meu coração estava apertado e quase não podia enxergar as coisas de tão nervosa. Vitória já vestida, se aproximou de mim tocando em meu ombro para tentar me acalmar.

- Filha, me espera que estou chegando. Fica em casa e segura. - desliguei o telefone.

- O que houve? - Vitória perguntou preocupada.

- Malu, aconteceu alguma coisa com ela... - Olhei para a Vitória perturbada e nervosa.

- Vamos, eu te levo em casa...

- Não sei se é prudente você dirigir nesse estado.

- Bom, muitas coisas eu deveria evitar "nesse estado". - ela comentou com ironia e continuou: - Vamos, eu estou bem, você está muito nervosa para dirigir.

- Ok, vamos no meu carro. - não relutei, concordei que ela me levasse e saímos apressadas em direção ao meu apartamento.

No caminho não trocamos muitas palavras, eu estava apreensiva.

- Ela está com que idade agora? - Vitória tentou iniciar alguma diálogo para me distrair.

- Fez Quatorze...

- Nossa, uma adolescente! Eu lembro dela pequena animada, cheia de personalidade.

- Ela continua igual, mas agora a tal personalidade virou rebeldia...

- O que acha que pode ter acontecido?

- Não faço idéia, tentei retornar aqui no telefone, mas ela parou de me atender... Estou nervosa.

- Eu sei... Estou aqui com você. - Vitória segurou com a mão livre na minha mão. Sentia acolhida com o seu toque.

Chegamos no apartamento, entrei apressada procurando pela Malu, fui direto em seu quarto e ela estava la encolhida, com a cabeça entre as pernas, ela estava entre a cama e o guarda - roupa, com o rosto vermelho e lágrimas insistentes.

- Filha! - me joguei no chão para abraca-la, ela retribuiu ao abraço e seu choro se intensificou. Eu a deixei chorar no meu colo e quanto senti que estava melhorando, me afastei um pouco, segurei em sua cabeça tirando o cabelo grudado em seu rosto e falei:
- Você está machucada filha? O que aconteceu?

- Eu tive a minha primeira vez...

- Como? Não disse que ia me contar? Foi com quem?

- Não deu pra te contar...

- Como assim? Filha, foi sem seu consentimento? Com quem??? Ele te forçou? Responde Malu! - eu estava desesperada, Vitória que apenas observava, tocou em meu ombro para que eu pegasse leve.

- Oi Malu, lembra de mim? - Vitória se aproximou da Malu com cuidado.

- Vih?! - Malu reconheceu Vitória mesmo tendo passado tantos anos.

- Isso! Você lembra... - Vitória sorriu.

- Você está bem maior do que a última vez... Mas lembro de jogarmos juntas no celular.

- Tô um tanto maior porque estou perto de dar a luz a uma pessoinha... - Vitória apontou para a barriga sorrindo.

- Vai ensinar a ela a jogar?

- Que tal você fazer isso? Estou um pouco desatualizada...

- Claro. Posso fazer esse sacrifício...

- Meu bem, o que aconteceu? - interrompi o papo das duas, estava apreensiva, queria que Malu se abrisse com a gente. Então insisti em perguntar.

- No início eu queria mãe, mas depois eu pedi para ele parar só que ele não parou... Estou me sentindo muito mal.

- Ele usou preservativo? - indaguei preocupada.

- Não sei... Acho que não. Eu pedi, mas sei lá, ele parecia não me escutar. - Malu respondeu perturbada.

- Meu amor... - abracei Malu devastada, meu coração estava dilacerado e comecei a chorar. Vitória ficou próxima, sentada na cama, dando suporte.

- Acho que seria interessante fazer uma queixa, não? - Vitória comentou.

- Sim, vamos fazer isso já. Você tem o nome do tal Bê completo?

- Não foi ele mãe...

- Malu?! Como assim?

- Não briga comigo... Mas foi com um desconhecido, num aplicativo de namoro.

- Meu Deus!!! Você é menor de idade... Já tinha dito que não autorizava você a fazer essas coisas! Você foi tão irresponsável!!! - fiquei exaltada, Vitória segurou no meu ombro para eu segurar a onda.

- Malu, você tem o nome desse rapaz? - Vitória indagou.

- Acho que sim...

- O nome é o que está no aplicativo? Ele não mostrou nenhum documento? - Vitória continuou a perguntar.

- Não... - Malu respondeu confusa.

- Tem alguma foto? - Vitória parecia entender sobre o assunto. Olhei para ela confusa.

- Sim, ele mandou algumas no meu celular. - Malu mostrou a foto no celular, eu confesso que desviei o olhar, não queria ver, pois se eu encontrasse na rua, eu era capaz de cometer uma loucura.

- Perfeito, vamos pegar seu celular e vamos fazer uma queixa, ok? - Vitória falou tomando o celular da mão da Malu.

- Não, por favor! E se ele vier aqui e me machucar de novo???

- Eu vou trocar as fechaduras hoje mesmo, vou colocar trava, alarme, câmera e ainda vou deixar claro na portaria que não autorizo esse doente a chegar perto daqui. - me pronuncei nervosa.

- Mamãe, estou com medo... - Malu me abraçou.

- Calma filha, vai ficar tudo bem... - acalmei a Malu por mais algum tempo.

Fomos então com a Malu na delegacia da mulher onde geramos um boletim de ocorrência  e em seguida fomos encaminhadas ao hospital credenciado onde fizemos todo o procedimento pós abuso. Coletaram material na Malu e ela recebeu medicamentos, ao final de tudo, era madrugada e estavamos exaustas. Vitória ficou o tempo todo ao nosso lado.

Voltamos para o apartamento e levei Malu para a cama, ela apagou com o cansaço e efeito dos medicamentos. Fui na sala a procura da Vitória que estava jogava no sofá, cansada também.

- Obrigada por tudo! Não sei o que faria sem seu apoio... E também desculpa por ter te cansado... Principalmente no estado que você se encontra. - sentei do lado dela, deitei a cabeça no seu ombro e acariciei sua barriga em silêncio. Ela retribuiu ao carinho. Eu me ajeitei no sofá e praticamente implorei: - Dorme comigo? Preciso de você...

- Rodolfo vai chegar amanhã... Vai estranhar se não me encontrar...

- Por favor... Estou completamente devastada, só você pode me acalmar. - continuei a implorar com lágrimas nos olhos.

- Ok... Eu estou aqui, vem cá... - Vitória me puxou e ficamos abraçadas no sofá. Acabamos adormecendo ali mesmo, estavamos muito cansadas, exaustas.

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