Convidada

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- Meu Deus! Vocês deram uma festa aqui?! - Malu falou alto ao chegar na sala. Eu e Gui estávamos apagados no sofá e de fato as coisas estavam jogadas, comida, bebidas enfim,uma bagunça da qual Malu não estava acostumada, eu sempre fui uma pessoa extremamente limpa e organizada. Eu e Gui adentramos madrugada conversando e a última vez que lembrava de ter visto a hora, já passavam das quatro da madrugada. Meus olhos mal conseguiam se manter abertos, minha cabeça latejava pela noite não dormida. Para piorar, Malu abriu as cortinas com toda vontade, só podia ser o troco por eu acorda-la cedo todos os dias. Com os olhos entre abertos procurei meu celular e Malu me entregou:

- Procura por isso???

- Que horas são... - tentei olhar a hora no celular.

- Nove e meia da manhã. - Malu respondeu.

- O que?!! - Guilherme que até então não havia se mexido no sofá, arregalou o olho e deu um pulo do sofá me derrubando no chão.

- Ei! Calminha...  - falei ainda sem conseguir abrir os olhos direito.

- Perdão amiga! Tenho uma cirurgia daqui a uma hora!!! - ele levantou procurando suas coisas: - Bom dia "Maluzita", acha a carteira do seu tio... - Gui interagiu com a Malu, eu ainda estava de "ressaca" esparramada no sofá.

- Malu, você já não tinha que estar na escola? - indaguei sem fazer muito movimento.

- Achei! - Guilherme achou a carteira que havia tirado do bolso da calça ontem a noite.

- Hoje não tem aula, conselho de classe. - Malu respondeu.

- Que estranho, não recebi nenhuma notificação...

- É apenas do nono ano, só que os professores são os mesmos, então suspenderam as aulas do primeiro ano...

- Mas a tarde você vai, certo?

- Vou mamãe... O que vocês estavam fazendo heim?! - Malu indagou confusa.

- Amiga, vou nessa, estou mega atrasado. - Gui se aproximou e beijou minha testa.

- Vai operar com a equipe do Dr Fernando? Achei que ele estava de férias...

- Quando?! Ele é igualzinho a você querida, nunca tira férias! Bom, preciso mesmo ir.

- Ok... Depois me manda notícias.

- Vou esperar o mesmo de você, sabe que sou bicho curioso. Ah! Toma uma aspirina, tá com uma cara péssima. - ele falou sorrindo,eu sorri de volta e nos despedimos. Assim que o Gui saiu, Malu que apenas nos observava curiosa,resolveu se jogar do meu lado no sofá.

- Vem cá filha... - a abracei e continuei: - Está com fome?

- Morrendo! - ela respondeu rindo.

- Vamos, coloca uma roupa, vou te levar naquela cafeteria que você adora. Vamos tomar café lá...

- Jura?! Posso comer uma bomba de chocolate???

- O que você quiser comer...

- Você é a melhor mãe do universo! - Malu me abraçou empolgada e foi se trocar eufórica. Eu fui tomar um remédio para dor de cabeça e uma ducha fria para despertar.

Cancelei alguns compromissos que não eram tão importantes para passar o dia com a Malu. Eu sentia que ela estava precisando de mim e eu dela. Quer dizer, não iria abrir jogo com ela, não por enquanto.
Passei o dia sem mexer no celular, voltamos da cafeteria, descansamos um pouco, Malu foi para o turno da tarde na escola e eu fiquei relaxando em casa, mais específicamente dormindo. O dia voou. Acordei por volta das cinco da tarde e fui preparar o jantar  antes que Malu chegasse da escola. Enquanto preparava a janta, pela primeira vez me dei conta do celular vibrar algumas vezes. Não havia mexido nele o dia inteiro. Apaguei o fogo e peguei no smartphone que estava lotado de mensagens e notificações. Fui deletando e lendo uma a uma, algumas eram do hospital, atualização dos meus pacientes que estavam internados. Eu tinha uma assistente que fazia a visita e me passava o quadro deles todos os dias, todos estáveis graças a Deus. Tinha uma ligação perdida da Vanessa e duas mensagens da Vitória. Sempre sentia um frio na barriga quando se tratava dela... Eu resolvi abrir as mensagens da Vitória antes de retornar a ligação da Vanessa.

" Pode me ligar?" Essa tinha sido há mais de oito horas atrás.

" Su, eu preciso entender o que está acontecendo comigo..." Essa tinha apenas duas horas. Sem querer eu havia ignorado às duas mensagens, não foi premeditado, apenas me distrai. Provavelmente ela estava achando que eu estava dando um "gelo" nela. De fato estava confusa com aquele beijo de ontem, agora essas mensagens, não conseguia entender o que estava passando com ela e muito menos comigo. Eu precisava demonstrar alguma dignidade, afinal ela havia me dado um baita fora há alguns anos atrás sem dar a oportunidade de explicar meus sentimentos e agora aparece grávida,casada e confusa? O pior é que eu ainda tinha os mesmos sentimentos, para falar a verdade, agora eles eram ainda mais claros. Eu a amava, a desejava como mulher e também queria protegê-la. Mas precisava me blindar, me proteger, eu tinha muita dificuldade para lidar com rejeições e não queria coloca-la em uma situação delicada, muito menos bancar uma amante. Meu Deus, como meus pensamentos eram controversos, pensei. Precisava responder a mensagem da Vitória, digitei e apaguei várias vezes uma resposta, mas não conseguia elaborar nada relevante. Resolvi então retornar a ligação da Vanessa.

- Oi amiga! Está viva??? Te liguei o dia inteiro...

- Perdão, eu tive um daqueles dias dos quais não toquei no celular.

- Não sabia que você podia tirar "dias" assim doutora. E se um paciente precisar de você?

- Eu tenho uma assistente e... - balancei a cabeça e continuei: - Você não me ligou para saber dos meus pacientes,certo?

- Eita, que bicho te mordeu!

- É que... Estou com algumas situações e...

- Já fiquei curiosa, mas não, não te liguei para controlar se esta atenta ao celular. Agora as sete da noite tem uma amostra daquele meu amigo e gostaria de saber se você quer me acompanhar?

- Aquele teu paquera?

- Sim...

- Eu não sabia que ele era um artista... Isso é incrível.

- Vamos? Ou vai me deixar sozinha nessa?

- Vamos. Mas ele vai expor o que?

- Ele faz pinturas e esculturas, é até conhecido no meio...

- Que legal! Estou animada, me passa o endereço que ja vou me arrumar aqui.

- Certo. Amiga?!

- Sim...

- Posso te pedir um favor?

- Hum...

- Pode me ajudar a contar uma mentirinha?

- O que você inventou agora Nessa?

- Que fiz curso de arte contemporânea.

- Isso é sério?! Você tem noção da vergonha que você pode passar...?

- Não foi premeditado, quando eu vi ele ja estava concluindo coisas a meu respeito...

- Achei que você estava gostando mesmo dele...

- Estou, pelo menos acho, ainda é cedo para falar.

- Então vai ter que abrir o jogo em algum momento. Mas tudo bem, não vai ser hoje e no que depender de mim ele não vai saber.

- Muito muito obrigada! Ah, e você ja me ajudou a organizar uma exposição também, ok?

- Vanessa, Vanessa...

- Você é quem me entende melhor...

- Posso chamar uma pessoa para nos encontrar?

- Quem? Alguma coisa mudou e eu não sei??? Agora já sei...Foi por isso que passou o dia ausente!

-Para de concluir coisas ... Você vai saber... Posso convidar? Ou não???

- Claro que sim!

- Ok, obrigada, te encontro em uma hora, não esquece de mandar o endereço.

-  Ja mandei.

- Ok, obrigada. Tchau.

- Tchau.

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