Casa

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Ja haviam passado alguns dias que havia recebido a carta, eu li e reli algumas vezes. Estava dando plantão no hospital e me sentindo um pouco solitária, Guilherme estava em um congresso e a equipe de plantão era diferente da que eu estava acostumada a trabalhar.

Fui na unidade coronariana atender alguns pacientes, quando retornei ao posto de enfermagem, peguei o celular e vi duas chamadas da Vitória. Meu coração gelou, pensei que pela insistência nas ligações, que poderia ter entrado em trabalho de parto. Retornei prontamente e estava dando fora de área. Fiquei nervosa, não tinha o contato do marido dela e resolvi então ligar para Eloise que logo me atendeu.

- Oi Elo, o que houve com a Vitória??? Ja chegou a hora? - falei esbaforida.

- Não... Achei que soubesse, mas ainda é cedo, faltam algumas semanas.

- Pois é, mas é que ela me ligou duas vezes e eu não pude atender, estava com paciente. Agora estou retornando as ligações mas está fora de Área...

- Calma querida, fica calma! Aguarda na linha que vou ligar para o Rodolfo para entender o que aconteceu.

- Ok, obrigada. - ela demorou alguns segundos na outra linha e voltou.

- Filha, ela está bem. Está numa consulta médica com o marido e disse que vai te ligar assim que sair. - Eloise me tranquilizou.

- Tem certeza? Ela está bem mesmo?

- Claro que sim, acabei de falar com ela pelo telefone do marido. O celular dela descarregou, por isso não está conseguindo falar.

- Ok... Obrigada Elô.

- Su? Depois daquela carta... Você já procurou por ela?

- Não, ainda não...

- Era o desejo da Helena.

- Eu sei... - silêncio constrangedor na ligação.

- Ok, não demore para fazer isso.

- Eu não compreendo... - tentei aprofundar no assunto, mas Eloise desligou o telefone na minha cara. Me acalmei e fui tomar uma água enquanto aguardava pela ligação da Vitória. O telefone tocou apesar do número ser diferente, sabia que era ela, provavelmente ela estava me ligando do celular do Rodolfo, meu coração disparou, atendi prontamente.

- Oi, estava preocupada com você!

- Calma doutora, seus pacientes precisam de você bem...- Vitoria respondeu usando aquele tom sempre irreverente.

- Como você está? - perguntei com algum alívio na voz.

- Estamos bem... E você?

- Bem.

- Ótimo... - silêncio.

-Vih!

-Su! - falamos ao mesmo tempo.

- Pode falar... - dei a vez para ela.

- Fala você primeiro. - ela pediu.

- Ja fazem alguns dias que quero conversar com você.

- Perfeito, era justamente o que eu ia pedir. Podemos conversar? - Vitória pediu.

- Claro, quando?

- Pode ser hoje?

- Sim, largo aqui no plantão as cinco da tarde.

- Ok, Rodolfo vai fazer uma viagem rápida a trabalho hoje, volta amanhã. Temos um tempo a sós. - notei que ela parecia sussurrar no telefone.

- Onde?

- Pode ser na minha casa?

- Sua casa?! - respondi surpresa.

- Sim, como falei, vou estar sozinha...

- Tudo bem, me passa o endereço que chegarei por volta das seis. - meu corpo inteiro tremeu, estar com Vitória a sós não iria ser uma tarefa fácil, ficar perto dela era muito difícil, pois eu tinha nutrido dentro de mim sentimentos fortes. Mas eu precisava encarar, era isso, eu tinha que entender o que afastava e aproximava a gente na mesma intensidade desde sempre.

Quando cheguei no endereço, fiquei muito surpresa. A casa era a mesma, a que eu e Vitória conhecemos aquela senhorinha, Silvana era o nome dela, havia acontecido há anos atrás, tinham algumas reformas, mas a fachada era a mesma. Quantas coisas se passaram na minha cabeça, essa casa tinha um significado importante para mim, primeiro por conta das inúmeras vezes que eu e Helena passamos por ali observando a senhora e depois por Vitória e eu termos tido finalmente a coragem de nos apresentarmos e conhecer a senhora Silvana.
Eu não precisei tocar a campainha, quando cheguei Vitória estava la, sentada na varanda, sentada no mesmo banco segurando linhas de crochê. Eu fiquei parada no portão sorrindo, admirando - a com ternura e com certeza entregando paixão com meus olhos. Ela estava bem barriguda, estava uma grávida linda, com brilho nos olhos. Ela me olhou e não se levantou, ficou apenas me encarando e sorrindo de volta. Era como estivéssemos paquerando uma a outra. O momento foi tão intenso que não precisava de palavras, apenas olhar, senti meu rosto corar e ela correspondeu da mesma forma, e por fim ela desviou o olhar sem graça.
O fato dela estar morando naquela casa significava tanta coisa, principalmente que ela poderia ter se apegado a memórias que tivemos juntas, comecei a pensar que Vitória talvez gostasse de mim mais do que eu poderia imaginar e que meus sentimentos não eram totalmente platônicos. Ela por fim levantou empinando a barriga e apoiando a mão nas costas, veio em direção ao portão para me atender...

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