Dei duas batidas na porta, ouvi a sua voz ressoando através da porta e senti meu coração acelerar:
- Pode entrar tia! - Vitória gritou achando ser a tia. Entrei e notei que seu rosto corou imediatamente ao me ver, o corpo inteiro respondeu, olhos arregalaram, ela não esperava por mim. Eu sorri nervosa com timidez:
- Oi... - foi tudo que consegui falar. Olhei rapidamente para ela que estava deitada na cama, inchada quase que irreconhecível. Era normal por conta de toda terapêutica que estava recebendo para manter a gravidez.
- Desculpa, não estou na minha melhor versão. - ela comentou tímida enquanto tentava ajeitar a camisola e os cabelos.
- Você está linda. - sorri, me aproximei dela e sentei a ponta da cama. Ela se acomodou para me dar espaço. Coloquei a mão sob seu joelho.
- Estou enorme... - ela lamentou pela aparência.
- Logo que ela nascer, tudo isso vai melhorar, você está com retenção de líquido. Não se preocupe. - comecei involuntariamente a acariciar suas pernas que estavam brilhosas e descobertas.
- Esses soros não param... - Vitória apontou para os soros que de fato eram infundidos pela sua veia com o objetivo de manter sua hidratação e uma boa perfusão de sangue para a bebê.
- Sacrificaram bastante suas veias... - notei seu braço roxo provenientes também de muitas "picadas" (tentativas ou trocas de acessos). Acariciei agora seu braço com dó por estarem naquela situação e fui descendo até sua mão. Segurei firme em sua mão e dei um suave carinho com meu polegar, ela correspondeu ao carinho sorrindo, seus olhos me procuravam, mas eu desviava o olhar.
- Obrigada por vir. - assim que ela agradeceu, acabei cedendo e a encarei, nos olhamos com a conexão de sempre. Fiquei nervosa.
- Você e sua tia me assustaram pela segunda vez. - eu respondi irritada, mas ainda de mãos dadas a ela.
- Me perdoe por isso, mas precisava tanto te ver. Você não respondia a nenhuma mensagem minha... - ela de fato vinha mandando diversas mensagens, eu não estava pronta para isso. Desconversei:
- Esta se saindo muito bem. Já ganhamos quase duas semanas na gestação e isso é ótimo. Helena passou de um kilo e se por ventura ela venha a nascer, já posso ousar em opera-la. Claro, isso caso vocês queiram. Não sei o que foi combinado com o dr. Petroski... - lamentei ainda magoada. Nesse momento ao rememorar tudo, recolhi minha mão. Vitória franziu a testa surpresa e falou:
- Vejo que tem acompanhado tudo mesmo estando de longe.
- Não estou tão longe quanto você imagina. - olhei em seus olhos novamente.
- Para mim você está sim a milhares de kilometros de distância... - ela abaixou a cabeça, não respondi e continuou: - Bom, para sua informação, você irá sim operar a Helena. Ninguém mais irá tocar nela.- me encarou com um sorriso tímido.
- Ok, agradeço por isso, tenho me preparado e me sinto apta para cuidar dessa situação. - respondia confiante.
- Não sei se você já sabe, mas eu não vou mais viajar... - ela comentou.
- Como?! Bom, sua tia me disse que o Rodolfo viajou, mas acredito que depois que tudo se resolver, você e sua bebê vão ao encontro dele. - olhei para ela confusa.
- Eu vou pedir o divórcio, assim que tudo isso passar, depois que a Helena estiver recuperada da cirurgia. - ela me olhou confiante e segura do que falava. Meu coração se encheu de esperança, mas não queria demonstrar.
- Você tem certeza disso?! Ele é o pai... - indaguei insegura.
- E vai continuar sendo, mas ele lá e eu aqui. Su, ele me abandonou, nos abandonou e nem deveria ser chamado de pai... - Vitória comentou chateada.
- Nisso você tem razão. - comentei concordando.
- Eu quero recomeçar a minha vida, eu e minha filha. Ja estou decidida. - Vitória falou mais uma vez com segurança.
- Fico feliz por você, sabe que torço muito pela sua felicidade. - sorri e sabia que ali talvez houvesse espaço para mim, ao mesmo passo que já havia sofrido muito e precisava me blindar.
- Eu sei que vida não estará completa sem uma coisa, mas enfim, não vou entrar nesse assunto pois não posso me alterar e... - Claro que Vitória se referia a nós duas, as coisas estavam mal resolvidas.
- Sim, é o melhor. Você precisa estar bem, manter essa pressão baixa. - concordei, entrar naquele assunto iria levar a possíveis discussões, e naquela situação era impreterível evitarmos. Eu tinha traumas, mágoas do presente e passado e precisava supera-las.
- Su, obrigada por ter vindo, eu realmente precisava te ver, falar com você e te deixar atualizada sobre essas coisas.
- Eu prometo que virei mais vezes até a bebê nascer. - sorri com carinho olhando em seus olhos.
- Por falar nisso, como está a Malu? - Vitória indagou preocupada.
- Melhor, fazendo terapia e acho que está colocando a cabeça nos eixos. - respondi balançando a cabeça preocupada.
- Se for como eu, vai levar um tempo ainda para acertar o eixo. - sorriu timida.
- Espero que não, ela tem me rendido alguns fios brancos. - brinquei alisando meus cabelos.
- Você está tão bonita quanto da última vez que te vi. - ela jogou uma cantada me encarando e desviei o olhar e corei com vergonha.
- Ok, acho que é hora de ir embora...
- Tudo bem, fico feliz por ter te visto. Ganhei minha semana! - me olhou com segundas intenções, conhecia seus olhares, no fim era mais uma cantada, Vitória estava ousada, eram os hormônios, pensei. Não, não eram os hormônios, Vitória sempre foi assim e isso que me atraía, eu sabia que com ela nunca iria cair na rotina.
- Eu também fico muito feliz por isso. - me aproximei e toquei em sua barriga acariciando-a, me abaixei, dei um suave beijo na barriga, sussurrei bem baixinho: "cresça forte e saudável minha pequena, amo você e sua mãe..."
Senti o corpo da Vitória tremer de desejo e saber que eu provocava aquela reação nela, me deixava nervosa. Foi rápido, mas enquanto eu estava ali sussurrando, encostada em sua barriga, ela acariciava meu cabelo, o que me fez sentir conforto e saudades do seu toque, precisava me recompor. Contudo ao invés disso, me levantei de forma delicada e me estiquei para beijar sua testa, nossos olhos se encontraram e veio aquele impulso de querer beija-la.
Meu coração acelerou, pois nossos rostos estavam próximos, eu não iria beija-la, estava convicta, mas como de costume Vitória ergueu o pescoço, aproximou mais seu rosto e meu roubou um beijo, não diria ser um selinho, pois nossos lábios se encostaram por completo, mas foi rápido. Em meio ao beijo, arregalei os olhos e pulei da cama nervosa. Ela sempre fazia isso... E eu gostava. Sorri tímida, ela sorriu de volta, eu falei:
- Ok! Agora realmente preciso ir, tenho visitar meus pacientes. - falei limpando o brilho ou hidratante labial dela que passou todo para minha boca, certamente ela havia acabo de retocar. Precisava ir antes que eu cometesse uma loucura, não podia agir por impulso, não eu.
- O que falou com ela? - Vitória indagou sobre o que eu tinha sussurrado para a barriga. Em seu semblante, parecia satisfeita por ter me roubado um beijo.
- Você não escutou? - indaguei sorrindo.
- Não... - ela lamentou.
- Um dia te conto. - sorri apaixonada e me distanciei para ir embora. Ela sorriu de volta e acenou me dando tchau.
Eu fui embora com o coração quente e cheio de amor. Ao sair do quarto, me escorei na porta, toquei meus lábios, fechei os olhos e sorri apaixonada.
A chama estava voltando a acender no meu coração, mas ainda vinha acompanhada por muito medo e insegurança.
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Nova chance para o Amor
FanfictionSuzana (Suranne Jones) amou sem limites sua melhor amiga a Helena. Na época era um amor proibido, Helena teve medo de assumir o romance e deixou Suzana para casar e ter filhos. Suzana seguiu a vida, formou em medicina e reencontrou com Helena alguns...