"Status"

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Chegamos a festa, era enorme, uma festona mesmo. Vitória já estava com o celular registrando tudo, falando com o telefone e criando os tais "stories". Ela me deixou de lado inclusive, me senti deslocada logo de cara, ainda por cima, não trocamos uma palavra no caminho para a festa, ela parecia ter ficado chateada por eu ter recusado ao beijo antes de sairmos.

- Que-ri-da!!! - um jovem rapaz, com roupas vibrantes, desinibido, empolgado se aproximou da gente.

- Oi amor!!! - Vitória deu uma rápida bitoca no rapaz e o abraçou. Gravou imediatamente o tal "storie" com ele e começou a conversar. Em nenhum momento ela me apresentou, virou inclusive de costas para mim. Ela cochichava no ouvido do tal amigo e ambos me secavam com os olhos. Fiquei constrangida mais uma vez, queria sair dali. Avistei um bar não tão distante, era minha deixa, me aproximei do ouvido da Vitória e falei alto para que me ouvisse:

- Vou buscar alguma coisa no bar, você quer algo?

- Ok.

- Isso é sim ou não?

- Ok. - ela não me dava atenção, me irritei e a deixei para trás. Era completamente grosseiro. Andei até o bar bufando de raiva, pelo visto Vitória não notou que me afastei, continuou conversando com o amigo e com outras pessoas que se aproximavam para falar com ela. Pedi uma bebida e fiquei sentada no bar a observando de longe.

Vitória era uma mulher popular, conhecida no mundo virtual, as pessoas se aproximavam dela para tirar fotos, quase como uma atriz. O tal namorado dela também apareceu por lá e com isso eu fiquei pensando o que eu estava fazendo ali. Aquele ambiente não era para mim, Vitória tão pouco parecia se importar ou ela queria provar algo para mim... Sera que queria me provocar? Mostrar algo? Eu não conseguia compreender. Respirei fundo, mandei uns dois shots para dentro e levantei do bar, iria dar uma circulada pelo ambiente. Claro que eu não tirava os olhos da Vitória, estava curiosa e preocupada ao mesmo tempo. Senti alguém tocar no meu ombro, me virei era o Gustavo, o tal namorado "debochado" da Vitória.

- Oi, tudo bem? - ele me abordou.

- Tudo! - respondi franzindo a testa com um sorriso ligeiramente contido.

- Você estava na casa da Vih no outro dia, né? - o rapaz falou.

- Sim... - respondi ainda sorrindo.

- Você é tia dela?

- Algo assim... - minha expressão mudou, fiquei constrangida.

- Ela tem essa mania...

- Mania?! - indaguei curiosa.

- De arrastar todo mundo para os "rolos" dela, pior que larga a gente que nem cachorro. É muito auto centrada... - o rapaz parecia inconformado e de certa forma ele tinha razão, era exatamente o que ela havia feito comigo.

- Vocês estão juntos há muito tempo? - perguntei com intuito de puxar conversa.

- O suficiente para eu saber que estou perdendo meu tempo. Tia, a Vih só quer saber dela mesmo. - o rapaz respondeu desanimado, me inconformei por ter sido chamada de "tia" por aquele marmanjo, resolvi corrigi-lo:

- Pode me chamar de Su, meu nome, me chamo Suzana. - o corrigi antes que eu ouvisse um outro "tia".

-Ah sim! Me desculpa. - ele respondeu sem graça.

- Você parece ser um cara bacana. - afirmei sorrindo.

-Ela não percebe, né? - o rapaz mais uma vez desanimado.

- Sei que não é do meu ... Mas vocês estão brigados? Discutiram?

- Sabe qual é o problema da Vih? Quer chamar atenção da tia Elo, do irmão, do pai... De todos que a cercam, ela usa o que e quem for preciso para isso.

- Hum...

- A gente discute o tempo todo. Agora ela cismou que vai fazer faculdade de medicina.

- Isso deveria ser positivo.

- Se ela fosse fazer para ajudar as pessoas Su, mas não, ela vai estudar para ganhar "estrelinhas" da tia Elo. - o rapaz parecia conhecer a Vitória mais do que eu imaginava. Ele continuou: - Enfim, não vou mais te alugar.

- Quer sair daqui? - indaguei, queria saber mais da Vitória, e o rapaz me fez sentir piedade dele, estava inconsolável.

- Pra onde?! - indaguei confusa.

- Qualquer lugar longe daqui... - o rapaz inconsolável pediu.

- Só se for agora, essa festa está um tédio! - ele topou, nos viramos para sair da festa, quando estavamos prestes a sair do salão, senti uma mão tocando na minha, fui puxada quase que abruptamente para trás. Arregalei os olhos assustada, era a Vitória que me puxou contra o seu corpo e me encarou. Nossos olhos se encontraram, nossos corpos estavam colados e eu podia sentir sua respiração. A minha estava acelerada, eu ainda estava assustada, não contava com aquilo.

- Onde você pensa que vai... - ela sussurou no meu ouvido. Estava mais desinibida que o comum, provavelmente havia bebido ou se drogado.

- Você estava ocupada e eu resolvi... - respondi nervosa e quando menos esperava, Vitória me interrompeu roubando-me um beijo ávido, sem permissão, não pediu passagem, colocou sua língua dentro da minha boca, a princípio resisti, mas não por muito tempo, quando me dei conta estava segurando em seu pescoço, passando a mão por baixo dos seus cabelos e correspondendo ao seu beijo, a empurrei escorando-a contra a parede mais próxima e comecei a descer a minha mão pelo seu ombro, fui descendo até a sua cintura a segurando firme para que não se afastasse, não que ela fizesse menção para isso, ao contrário, ela estava tão entregue ao beijo quanto eu. Fomos interrompidas por alguém que colocou a mão sob nossos ombros e nos afastou.

- O que significa isso Vih?!!! - Gustavo que presenciou a cena indagou furioso, seu rosto parecia ferver. Vitória limpou os lábios e eu tentei me recompor sem graça. Gustavo nos olhava com uma mistura de raiva e nojo, estava incrédulo. Fiquei nervosa com o destrinchar deste "flagra".

- Está acabado entre a gente Gu, já tinha dito isso! - Vitória respondeu indignada pela interrupção do nosso beijo.

- Vou deixar vocês conversarem... - comentei sem graça.

- Não! Você vai ficar aqui "tia" Su! - Gustavo usou um tom de deboche, irônico. Eu não sabia onde esconder minha cara, só conseguia pensar onde eu havia chegado, pensava na Laura e na Eloise.

- Será que você pode ir embora?! Quem te convidou??? - Vitória ordenou ao Gustavo irritada.

- Você sabe que ela está te usando não é? Ela faz isso... O que quer com essa senhora Vitória? Vai te ajudar com a faculdade? Já sei, vai te dar status! É isso, deve ter um bom engajamento nas redes sociais.... Qual é sua profissão mesmo??? - Gustavo se direcionou a mim, estava alucinado de raiva e ciúmes.

- Já deu para mim... - Eu não podia aguentar qualquer humilhação, principalmente de um garoto que eu nem conhecia, me afastei dos dois e os deixei conversando. Fui de novo até o bar e dessa vez tomei um shot sem respirar, o "barman" me olhou assustado pois havia pedido uma bebida forte para beber numa só golada. De longe eu podia observar Vitória discutindo com o Gustavo, que situação, lamentei. Não poderia mais lidar com aquilo, "por que fui ceder àquele beijo?" "E se o menino bater isso para a Eloise?" Meus pensamentos me assolavam, eu estava completamente arrependida de ter ido àquela festa. Além de deslocada, ainda arrumei uma confusão que era uma batata quente. Bufei algumas vezes e por fim resolvi me recolher para ir embora. Notei que Vitória ainda conversava com o Gustavo, eles pareciam menos exaltados, "menos mal!", pensei em voz alta. Aquilo tudo era demais para mim, mandei mensagem no celular dela e sai sem que ela pudesse perceber, não queria ser impedida.

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