Sem pressão

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Anoiteceu e já havíamos organizado tudo para o dia seguinte. Eu pedi para Vanessa que cuidasse da Malu pois eu precisaria sair, pedi que ela fosse discreta quanto a isso, eu deixaria Malu dormindo no quarto e que ela precisaria apenas dar uma olhada de vez em quando. Não queria que Laura e nem Eloise desconfiassem de que eu havia saído.

Estava nervosa, haviam anos que eu não frequentava uma festa, principalmente assim de jovens. As últimas festas que eu havia frequentado eram as reuniões de final de ano do trabalho e familiares. Me arrumei, coloquei uma calça social preta e uma blusa de botões amarela em um tecido leve, era cavada e um pouco solta, deixava meus ombros a mostra. Me maquiei, coloquei um batom vermelho e uma maquiagem suave. Deixei meus cabelos soltos. Me olhei no espelho insegura apesar de saber que eu estava bem arrumada. Minha insegurança inundava minha alma por conta do que poderia acontecer nessa festa. "O que Vitória planejava? Porquê me convidou?" Eu estava com medo, estava confusa, perdida. Fechei os olhos e pensei no seus beijos suaves, doces, seu toque, perfume, sua pele macia... Seus cabelos longos e tão sedosos, com movimento. Lembrei de suas curvas, seu corpo, seu gosto... Meu corpo inteiro a desejava, e ao mesmo tempo a repelia, estava em conflito. "Eu queria rememorar a Helena?" "Estava usando a Vitória?", pensei. Ela era filha do meu grande amor, eu não poderia machuca-la, alimenta-la com falsas esperanças. Eu não poderia ceder a nada... Aquilo tudo precisava acabar, era o sensato, o correto. Laura tinha razão...Cumpriria a promessa que fiz a Vitória indo a festa, e acabaria aí, "eu precisaria resistir apenas a essa noite e pronto!", conclui em pensamento. Amanhã seria meu último dia naquela casa e eu me afastaria, esse seria o melhor remédio, cortar tudo pela raiz.

Meus pensamentos foram interrompidos pelo meu celular que vibrou, era a Vitória perguntando por mim. Eu me perdi na hora, Malu havia demorado para dormir e levei um tempo para me vestir, já passavam das onze da noite. Respondi a mensagem dizendo que desceria em cinco minutos. Terminei rapidamente de me arrumar, fui no quarto da Vanessa, dei duas batidas leves e ela me atendeu prontamente.

- Deixei ela dormindo, passa só mais tarde para dar uma olhada... Ela não costuma despertar de madrugada.

- Hummm... Está gata, hein?!

- Eu?! Nada demais. - corei envergonhada.

- Ok, você pediu, não vou perguntar nada. - Vanessa estava curiosa, mas ela era muito menos invasiva que a Laura e respeitou meu silêncio.

- Obrigada de verdade! Eu nem sei como agradecer por olhar a Malu.

- Espero que esteja tudo bem Su, quero te ver feliz.

- Está.- sorri sem convencer, sabia que Vanessa era uma pessoa muito sensível e que podia notar minhas "rugas" a distância. Nos despedimos e eu desci para a saleta da entrada onde Vitoria me aguardava. Ela estava jogada em uma das poltronas mexendo no celular. Não notou quando entrei no recinto, aproveitei então para admira-la em silêncio, estava mais bonita ainda, usava um vestido florido despojado, calçava botas de cano curto, sua roupa era cheia de identidade e confiança. Refletiam bastante do que ela era, maquiagem era bem suave, seus cabelos soltos e compridos assim como os da Helena... Eu poderia me perder naquelas madeixas longas e onduladas. Seu perfume marcante também inundava o ambiente.
Ela estava realmente concentrada no celular, puxei uma tosse leve para que ela me notasse, na hora que emiti o som, ela pulou da poltrona e me olhou assustada.

- Calminha... Outro susto desses vou ter que passar um eletrocardiograma em você apenas para checar. - brinquei com ela.

- Você demorou! Achei que fosse me dar cano. - Vitória respondeu impaciente.

- O que posso fazer? Malu demorou para dormir... - justifiquei minha demora.

- Está bonita...- ela me encarou sorrindo de baixo para cima. Eu me encolhi constrangida, não tinha a metade da confiança que ela tinha. Sorri timida e respondi sem encara-la nos olhos.

- Você também...

- A conversa do eletrocardiograma é entediante, vai precisar de mais que isso para entreter meus amigos chatos.

- Certo... Sem pressão. - respondi nervosa.

- Ei... Não precisa se preocupar, é uma festa informal, sem cobranças. Seja apenas você. - Vitória tocou em minha mão e nos olhamos por alguns segundos, ela se aproximou de mim e pedia um beijo. Eu me senti tentada, seu rosto estava próximo, minha mão coçou para pegar em seu pescoço e puxar seu rosto para mim, mas resisti, estava determinada a não ceder aos meus desejos. Senti que Vitória ficou decepcionada, e isso me fez mal, "seria assim a noite inteira?" pensei. Respirei fundo e desconversei:

- Não estávamos atrasadas?

- Sinceramente?! Achei que nem fosse topar ir comigo. Vamos antes que desista! - Vitória se recuperou e seguimos para o uber. Não iriamos dirigir, me recusei, pois eu queria beber, iria precisar beber e Vitória não disposta a ser responsável por manter- se sóbria.

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