Torta de Maçã

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O dia parecia se arrastar para passar, olhei para o relógio várias vezes e nada. Havia marcado com Vitória no final da tarde, por volta das seis horas. Quanto mais se aproximava do horário, mais meu corpo respondia, minhas mãos estavam geladas e sentia frio na barriga.
Cheguei na cafeteria pontualmente, procurei uma mesa mais reservada e pedi apenas água para esperar pela Vitória. Ela me mandou uma mensagem dizendo que iria se atrasar, mas que estava a caminho. Na porta da cafeteria tinha um "sininho", ele ressoava a cada pessoa que passava pela porta, a cada ressoar eu olhava nervosa. Minhas pernas estavam inquietas, não conseguia ter nem mesmo concentração para me distrair no celular.
Ela atrasou quase uma hora, já estava desistindo de esperar, pensando que havia acontecido algo com ela ou então tomado uma espécie de "cano". Enquanto meus pensamentos desenhavam cenários, ela entrou, estava com um vestido solto, florido e com um jaleco pendurado no braço. Sorria constrangida pelo atraso, se aproximou de mim, eu senti meu rosto esquentar, não podia controlar o rubor em minhas bochechas, ela causava isso em mim. Seu perfume era o mesmo, e me envolvia de tal forma que eu poderia indetifica-lo em meio a uma multidão. Ela sentou-se a mesa e falou quase que bufando:

- Desculpa pelo atraso...

- Tudo bem, quer dizer, já estava pronta para deixar um "bilhete" aqui na mesa para caso você chegasse e não me encontrasse mais.

- Isso é ultrapassado, os celulares são mais eficazes... Mas, estou curiosa, o que diria no bilhete? - ela me olhou nos olhos e tivemos aquela conexão com a mesma entrega que tinhamos desde sempre. O tempo parou e sorrimos uma para outra constrangidas, eu podia sentir seu nervosismo a distância.

- É...Hum... - pensei em algo e logo respondi: - Estaria escrito " Aqui jaz uma cardiologista que deixa família por inanição".

- Ok, agora me senti culpada. Vamos pedir algo para você comer... A torta de maçã daqui é incrível. - Vitória fez sinal para o garçom.

- Como está se sentindo? - indaguei enquanto aguardávamos pelo garçom.

- Oi amor! Desculpa o atraso. - Rodolfo chegou apressado, beijou a testa da Vitória e sentou-se ao seu lado. Eu não pude conter minha expressão de decepção. Vitória também parecia confusa e surpresa.

- O que você está fazendo aqui?! - ela indagou quase que em um sussurro com ele.

- Ué, você comentou que estaria com a Suzana hoje a tarde para falar do problema no coração da Helena, eu gostaria de me inteirar também.

- Hum... Claro. - Vitória parecia estar decepcionada, abaixou a cabeça e levantou as sombrancelhas. Eu desviei o olhar e também abaixei a cabeça Rodolfo parecia ter notado que estava sendo um intruso e demonstrou alguma desconfiança ou até mesmo confusão, mas não se abalou, ignorou. O garçom chegou a mesa e anotou nosso pedido. Logo que ele saiu, Rodolfo indagou olhando para mim:

- Então dra, acha que vai ser uma intervenção simples? A sra vai poder realizar o procedimento na nossa bebê?

- Simples nunca é, principalmente num "serzinho" tão minúsculo, mas me sinto preparada e tenho a melhor equipe para isso.

- Tem riscos Su? - Vitória perguntou olhando para mim preocupada.

- Sempre tem, mas eu prometo que vou dar minha vida por ela. - olhei firme nos olhos da Vitória e ela sorriu aliviada confiando em minhas palavras. No final acabamos conversando um pouco sobre o procedimento, utilizei alguns termos técnicos com a Vitória e Rodolfo tentava acompanhar.
Todo o tempo eu sentia os olhares da Vitória e inclusive como ela desviava o olhar do marido, tirava a mão de perto da dele, Vitória parecia querer evita-lo na minha frente e eu não conseguia entender o porquê. Era como se ela se sentisse constrangida em demonstrar carinho por ele na minha frente.
Quando já havíamos pedido a conta, pedi licença para ir ao banheiro estava definitivamente apertada depois de tanta água, chá...
Assim que saí da cabine me deparei com a Vitória, ela me esperava ali no banheiro em silêncio, estava de braços cruzados escorada na bancada da pia. Arregalei os olhos sem compreender.

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