Pressão Alta

186 12 2
                                    

- Su, ela não pode nascer agora...  - Vitória estava aflita, franzia a testa constantemente.

- Você está sentindo alguma dor? Contração?

- Não, só sinto incomodo, uma leve pressão... Nada demais.

- Então continua respirando e mantenha a calma, se você não está em trabalho de parto, provavelmente não deve nascer agora. Pode me passar seu telefone? Preciso avisar a sua obstetra que você vai ser admitida no hospital... - eu estava sendo seca, mas confesso que por dentro meu coração estava apertado, com medo, me sentia culpada por tudo aquilo.

- Esta dentro da bolsa.

- Vou ligar também para o Rodolfo, preciso avisar a ele... - continuei a falar no mesmo tom.

- Ok, obrigada... - ela me olhou com o olhar triste, inconsolável, buscava em mim algum consolo, contudo por mais que eu a amasse, era algo que eu não poderia dar naquele momento a ela.

Falei com a obstetra que ficou de encontrar com gente no hospital. Rodolfo não atendeu ao telefone, deixei mensagem e liguei também para a Eloise que me atendeu e disse que iria correr para o hospital.

Assim que parei o carro no estacionamento, pedi que Vitória aguardasse sentada no carro enquanto eu buscava uma cadeira de rodas. Ela não poderia caminhar de jeito algum, era arriscado. Peguei ela no carro, apoiando para que sentasse na cadeira, durante esse movimento, nossos rostos ficaram próximos, desviei o rosto para o outro lado. Sei que estava sendo dura, mas realmente não conseguia, Vitória por sua vez buscava em mim apoio o tempo inteiro.

Assim que coloquei ela na cadeira, observamos um filete de sangue descer pela sua perna, nos olhamos preocupadas, tranquei o carro e apressei os passos para entrarmos no hospital. Fomos recebidas na emergência pela obstetra dela que por sorte já havia chegado.

- O que houve Vitória? - a obstetra se aproximou da Vitória e indagou com olhar de preocupação.

- Rompimento de bolsa prematura, ela está estável, sem contrações, mas não consegui aferir a pressão. - respondi no lugar da Vitória.

- Você é??? - a obstetra indagou olhando para mim.

- Eu falei com você ao telefone... Me chamo Suzana, sou médica, cardiologista, amiga da Vitória e  vou operar a neném.

- Achei que fosse o doutor Petroski... - provavelmente ela mencionava sobre o cardiologista Polonês, até ela sabia, pensei. Desviei o olhar e obstetra continuou a falar: - Ok, pode deixar ela comigo agora que vou avaliar o quadro e assim que tivermos um retorno te aviso.

- Não posso acompanha-la? Sou a única pessoa que ela conhece... - pedi preocupada.

- Preciso trabalhar, sabe como funciona, certo? - a obstetra foi coerente com nosso código de ética. Eu não poderia contestar, me restava apenas aguardar:

- Ok, vou ficar aqui esperando então. - parei em frente aos bancos na recepção, eu estava inquieta, preocupa.

- Obrigada. - a obstetra agradeceu e virou para levar Vitória para a sala de atendimento.

- Posso falar com ela um minuto? - Vitória pediu antes que a obstetra a levasse.

- Não podemos perder muito tempo, seja rápida. - a obstetra concedeu. Eu me aproximei da Vitória, abaixei para ficar na altura dos seus olhos e esperei que ela falasse.

- Você promete que não vai me abandonar??? - Vitória implorou com seus olhos sofridos, segurou na minha mão.

- Eu vou ficar aqui até que você e a Helena estejam seguras e estáveis. - tirei a mão, não queria ser tocada, estava criando meu próprio escudo, ja havia sofrido o suficiente, mas passei segurança para a Vitória com o olhar firme.

- Ok... Sendo assim, eu fico tranquila. - ela esboçou um sorriso e eu correspondi para passar mais segurança.

- Pode ir, eu vou ficar aguardando. - continuei a passar confiança com os olhos, ela então soltou um último sorriso nervoso antes de ser levada.

Enquanto ela estava sendo avaliada, eu aguardava do lado de fora, andava impaciente de um lado ao outro, até que a Eloise chegou aflita:

- Que bom que te encontrei querida! - ela falou aflita ao mesmo passo que me abraçava.

- Fica tranquila, vai dar tudo certo... - a tranquilizei em meio ao abraço.

- Como elas estão? O que houve??? - ela indagou preocupada.

- A bolsa rompeu, ela perdeu muito líquido...

- Mas porque? Apesar do problema no coração da neném, a gravidez estava indo bem... - Eloise respondeu confusa.

- Não sei ao certo, ela está sendo avaliada lá dentro.

- Você é médica, não pode entrar para ter notícias? - Eloise indagou.

- Não posso, código de ética. Eu e Vitória temos uma relação de amizade e eu posso interferir no atendimento...

- Será que vai demorar??? - Eloise também estava aflita.

- Acho que não. - Nesse momento a obstetra saiu da sala de atendimento: - Olha, la vem a obstetra. - nos aproximamos para obter notícia.

- Ja tenho notícias da sua amiga.- a obstetra comentou com um semblante de preocupação. Meu corpo inteiro gelou.

- Essa é a senhorita Eloise, tia dela. - apresentei apressada, queria notícias.

- Sim, já havíamos nos conhecido em consultas pré natais da Vitória. - a médica respondeu imediatamente, o que me levou a concluir que Rodolfo não era muito presente.

- E então doutora, como está minha sobrinha??? - Eloise indagou impaciente.

- Bom, a situação é delicada. Detectamos uma pré eclampsia que é um aumento da pressão arterial gestacional... Como ela está com menos de 34 semanas, vamos seguir o protocolo para tentar segurar a neném lá dentro, o objetivo disso é que a bebê ganhe um pouco de peso.

- Mas a bolsa não rompeu? O bebê pode continuar lá dentro? - Eloise indagou curiosa. Eu já tinha acompanhado casos parecidos e não era novidade para mim.

- Sim, nesses casos podemos manejar com os cuidados adequados, mas ela vai precisar ficar internada e em repouso absoluto.- a obstetra explicou.

- Ela vai ficar internada então? O que causou isso?- Eloise estava perdida.

- Até nascer a bebê. - por algum motivo a obstetra ignorou a segunda pergunta da Eloise, provavelmente a pedido da Vitória ou entendeu que se tratava de uma situação delicada.

- Perfeito, aqui ela vai estar bem monitorada. Vocês vão seguir com os protocolos de eclampsia? - eu que estava em silêncio, resolvi me manisfestar.

- Sim, já estabilizamos inclusive a pressão. É importante que ela se mantenha calma e tranquila. Não podemos provocar nenhum tipo de estresse.

- Pode deixar, vamos seguir todas às suas recomendações.- Eloise comentou.

- A bebê tem um sopro importante, você que vai operar? Preciso que se cadastre na minha equipe de suporte, eu havia cadastrado o dr. Petroski. - a obstetra me fitou por completo, me senti constrangida e respondi:

- Sim, mas só vou conseguir intervir se ela tiver mais de um kilo e meio, na última ultra ainda tinha apenas 1 kilo. - eles ja tinham avançado com tudo em relação a ida a Polônia, estava me sentindo uma idiota.

- Vamos então torcer para manter ela segura no útero o máximo possível e plausível. - a obstetra me jogou um sorriso safado, franzi a testa confusa, acho que estava dando em cima de mim, "que estranho dada as circunstâncias", pensei. Respondi sem graça:

- Obrigada Dra.! Podemos ver a paciente?

- Sim, só aguardem mais um pouco porque estão transferindo ela para um quarto. Enquanto isso vocês precisam resolver a parte burocrática na recepção. - a obstetra respondeu olhando para a Eloise. Concordamos com a cabeça.

-  Obrigada doutora! - Eloise agradeceu.

- Imagina, vocês e aqui no hospital também têm meu telefone, estarei de prontidão para qualquer mudança. Minha equipe estará por perto também. - a obstetra terminou de falar, se despediu para fazer as anotações no posto de enfermagem e ir embora.

Nova chance para o Amor Onde histórias criam vida. Descubra agora