Destino

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- É o exame? - Vitória indagou olhando para o envelope na minha mão.

- Ah sim, a médica te procurou e como não te achou, deixou comigo, toma, isso te pertence. - entreguei o exame para ela, nossas mãos se tocaram e mesmo em meio a todo aquele turbilhão eu senti a tensão do toque quase que como um choque. Ela tirou a mão e deu alguns passos para trás, respirei fundo e olhei para o lado constrangida, o silêncio foi quebrado pela própria Vitória que franziu a testa e com os olhos marejados me indagou preocupada:

- É aquilo mesmo? Vai ter que operar?

- Sim... - coloquei a mão sob seu ombro demonstrando empatia e continuei: - Sinto muito por isso... Mas conte comigo! - falei procurando pelos seus olhos.

- Ok, chamei o Rodolfo, ele está vindo para me buscar... - ela secou  algumas lágrimas que insistiam cair dos seus olhos e continuou ainda desviando o olhar, parecia querer blindar sua angústia: - Você não se importa de deixarmos nosso café para outro dia? Estou sem cabeça hoje...

- Claro, não se preocupe com isso. - consegui encontrar seus olhos por um instante, toquei em seu queixo e falei confiantei: - Vih, olha para mim. - dei uma pausa, esperei o contato firme dos olhos e quando finalmente consegui, continuei a falar: - Vai dar tudo certo, confia em mim! Sua neném vai ficar bem.- ela deu um sorriso tímido em agradecimento e de repente deu um pulo para trás constrangida, firmou o olhar por cima dos meus ombros, estava assustada, virei acompanhando-a.

- Oi amor, eu vim voando, estava aqui perto... - um homem alto, elegante, de pele branca e cabelos soltos lisos se aproximou da Vitória e a beijou na testa.

- Foi rápido mesmo... - ela comentou surpresa. Eu os olhei, faziam um casal muito bonito, capa de revista, típico "comercial da Doriana". Notei que ele usava aliança, ela não, provavelmente por estar dando plantões em hospital, pensei. Enfim, Vitória estava feliz, casada e iria ter um bebê. Me perdi nos meus pensamentos e fui interrompida pela Vitória que falou:

- Suzana esse é o Rodolfo. - ela me apresentou ao rapaz.

- Muito prazer. - apertei firme a mão dele.

- A Vih me contou que você e cardiologista... Acha que pode operar nossa bebê? - Rodolfo indagou preocupado.

- Bom, vou estudar o caso e consultar alguns amigos... - senti uma leve pressão, mas sabia lidar com aquilo, não deixava transparecer.

- Nem sei como te agradecer! - o rapaz me interrompeu e me abraçou agradecendo. Eu arregalei os olhos, não esperava um retorno tão caloroso.

- Amor, calma, assim vai sufocar ela... - Vitória puxou o rapaz para que se afastasse do abraço. Eu fiquei tonteada.

- Desculpa, me desculpa. As vezes sou um pouco estabanado.  - ele se recompôs se desculpando.

- Tudo bem. - respondi sorrindo.

- Que conveniente que estivesse acompanhada justamente por uma cardiologista no exame da Helena... - Rodolfo comentou curioso.

- Helena?! - eu indaguei confusa.

- Sim, sera Helena, como a mamae.- Vitória olhou para mim e sorriu.

- Que linda homenagem... - nos olhamos com a conexão que tínhamos e fomos interrompidas por uma tosse curta e seca do Rodolfo.

- Querido! Suzana é amiga de longa data, na verdade da minha vida inteira. Aliás foi ela que me levou para prestar o vestibular para medicina sabia?

- Bacana! Isso é incrível...

- Ela era amiga da minha mãe, não nos falavamos há uns seis ou sete anos...Justo hoje nos esbarramos pelo hospital que estou fazendo residência, como você não poderia me acompanhar no exame, eu a chamei. - Vitória justificou.

- Estou aliviado que você esteja aqui. Não acredito em coincidências, o destino sempre foi mais plausível para mim.  - Rodolfo tinha enorme e expressivos olhos azuis. Ele sorriu para mim e eu retribuí ao sorriso.

- Bom, preciso ir embora... - falei ja me posicionando para ir embora, não havia mais nada que eu pudesse fazer ali e de fato estava me sentindo um pouco desconfortável.

- Obrigada Su.... Você quer levar o exame para estudar? - Vitória esticou a mão com o envelope.

- Não precisa, me manda uma cópia no celular, é melhor você guardar o original com você.

- Ok. - Vitória respondeu, eu me despedi dos dois, fui embora e os deixei no laboratório.

Estava um turbilhão por dentro, sentia um misto de alegria com angústia e tristeza. Tudo ao mesmo tempo... Eu tinha muitos sentimentos pela Vitória, eu a amava desde sempre e doía ve-la com outra pessoa... Na verdade aquilo havia sido um balde de água fria para mim. Outra coisa que me doía era ver que ela iria sofrer com o problema da sua bebê, a pequena Helena que desde tão pequena ja deveria ser uma guerreira. Meus últimos sonhos, principalmente o da última noite começavam a fazer muito sentido... Eu estava sendo chamada para ajudar a Vitória de alguma forma. Talvez o Rodolfo tenha razão,o destino nos prega peças. Acredito também que as vezes recebemos mensagens de outros planos através dos sonhos e Helena estava tentando se conectar comigo... Eu iria me empenhar ao máximo para poder ajudar a bebezinha.
Cheguei em casa exausta, coloquei minhas coisas na sala e fui no quarto da Malu para saber se ela estava em casa, nada, quarto vazio. Saquei o telefone e liguei para ela:

- Malu, filha, cheguei em casa... Onde você está?

- Shopping. - resposta seca.

- Não vai lanchar comigo? - indaguei preocupada.

- Vou demorar um pouco mãe...- Mal respondeu arrastada.

- Ja lanchou? - Indaguei.

- Não.

- Está tudo bem? - fiquei preocupada com as respostas curtas.

- Ta sim mãe...

- Filha não chega depois das dez e vê se come algo aí, ok?

- Tudo bem.

- Vou ficar te esperando, espero não me estressar, dez horas em ponto.

- Ta bom mãe, posso desligar?

- Ok, até daqui a pouco. Ja está tarde, não vem de ônibus, pega um uber.

- O dinheiro não vai dar...

- Usa o cartão de emergência, não quero você dando bobeira na rua a essa hora.

- Ok, ok...

- Filha, te amo. - de repente senti uma necessidade enorme de expor para Malu o quanto ela era amada.

- Também mãe... - Malu respondeu com timidez.

- Ok, vai se divertir.  - desliguei o celular, respirei fundo, passei a mão na cabeça e fui tomar um banho.

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