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NO CASARÃO...

Inês entrou batendo o solado de suas botas, bufava e largou a bolsa ali mesmo no pé da escada, ia subir, mas se incomodou com aquele silêncio todo e deu alguns passos para chamar Clarisse. O celular no bolso tocou alto e ela sentiu os pelos do braço arrepiar, levou ao ouvido e antes que dissesse algo, ouviu:

— De tchau para a mamãe, Amora... — E o choro estridente de sua menina foi o último que ouviu.

Inês sentiu que o chão sumiu debaixo de seus pés, o ar lhe faltou a obrigando a sentar-se no último degrau da escada, estava zonza, perdida e não sabia se o que tinha ouvido era real ou fruto de seu nervosismo. Levou cerca de dez segundos para raciocinar e entender que sua filha estava em perigo, mas como?

Victoriano!

O sangue pareceu voltar a circular por seu corpo, praticamente engatinhou para o andar de cima já que suas pernas pouco a respondia pelo nervosismo.

Nada!

Ninguém!

Seu coração errou tanto as batidas que ela se apoiou na parede levando a mão que segurava o celular ao peito, respirou uma, duas, três vezes para não cair desmaiada no meio do corredor. Caminhou com pressa para o andar debaixo, buscou alguém ou até mesmo seu noivo, mas parecia que todos haviam desaparecido.

— Merda! Merda! Merda! — gritou várias vezes.

As mãos tremeram, os olhos se encheram de lágrimas e ela tentou falar com Victoriano que não a atendeu, saiu de dentro da casa e avistou um dos capatazes.

— Você viu o Victoriano? — Inês perguntou.

— Ele nos dispensou mais cedo, estava feliz, disse que ia encontrar a senhora na cidade e saiu com as crianças.

Inês hiperventilava tentando manter o controle, não queria acreditar no telefonema, mas somente em ouvir o homem, o desespero tomou conta totalmente de seu corpo e ela chorou. Chorou tão forte que os pássaros de algumas árvores voaram, João a segurou antes que caísse de joelhos e a colocou sentada no banquinho.

— O que aconteceu, senhora Inês?

Não podia ser verdade que sua filha estava em perigo, tentava discar o número de Vicente, mas as lágrimas lhe atrapalhavam um pouco e ao ouvir chamar, colocou o telefone no ouvido.

— Olá, Inês. — Vicente falou com calma.

— O-O quê você fez?— respirou fundo para não se engasgar com o muco.

— Não sei o que está falando.

Inês tentava ouvir algo, um choro talvez do outro lado da minha, mas nada ouviu.

— Você sabe perfeitamente do que estou falando. — Inês gritou com ele. — O que fez com minha família?

— Ahh, sim. — ouviu barulho de copo do outro lado. — Nossa filha está bem, já não pode dizer o mesmo do boiadeiro. — riu com sarcasmos.

Inês se levantou, estava difícil se manter parada, sentiu enjoo e se curvando para frente vomitou.

— Oh, meu amor, não fique tão nervosa. — Vicente soou do outro lado da linha por entender o que acontecia. — Não farei nada com nossa filha, mas tirarei algumas pedras do nosso caminho para podermos ser feliz.

— Não ouse machucar nenhum deles ou eu vou...

Inês não teve tempo de terminar, pois a ligação foi encerrada a fazendo quase jogar o celular em qualquer canto. Virou-se, olhou o homem, que estava apavorado sem saber o que fazer e ela gentilmente pediu que ele procurasse qualquer pista do carro de Victoriano pela estrada que dava para a cidade, ele concordou de imediato e ela voltou correndo até a casa onde a mãe estava.

Día De Sorte - Ineriano ♡Onde histórias criam vida. Descubra agora