CAPÍTULO 4

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Hoje era domingo, e fazia exatos seis dias que eu estava trabalhando no rancho.

Eu e minha equipe estabelecemos uma rotina regrada para fazer dos dias do Antônio os melhores possíveis apesar da situação.

Todos os dias, eu tinha a ajuda dos enfermeiros para os horários de higienizar a sonda de alimentação, dar banho e trocar o paciente. Nas demais horas, eu ficava sozinha com o Antônio.

Às vezes eu lia alguns trechos de um livro para ele, ou colocava alguma música com o som do meu celular bem baixinho.

Na maioria das vezes eu me pegava conversando sozinha pelo quarto. Se ele estiver realmente me ouvindo, estou com dó pelos seus ouvidos.

Todos os dias às 15 horas a Larissa vinha até o quarto, e passava uma hora exercitando as pernas e braços do Antônio. Ela fazia massagens para aliviar e relaxar os músculos, e com a ajuda do Cézar ou da Victória, ela virava o corpo do Antônio de lado por alguns minutos, para evitar formar feridas nas suas costas.

Como hoje era um dia de folga dos dois enfermeiros, quem estava ajudando a Larissa era eu.

O pequeno Cris estava sentado no tapete em frente à cama da king size no centro do quarto, brincando com alguns brinquedos de super-herói, enquanto nós duas virávamos o corpo do Antônio.

- Vocês estão conseguindo se adaptar por aqui? - questionei.

- Na verdade sim, está sendo melhor do que eu imaginava. - ela responde. - Meu trabalho é tão simples que eu tenho até vergonha! E eu nunca passei tanto tempo com o meu filho. Essa oportunidade caiu do céu para mim.

- Então aproveite sem culpa. - eu sorrio.

- E você, não vai tirar uma folga nunca? Você não sai desse quarto, Amanda.

- Eu não quero deixa-lo sozinho.

- Mas a mãe dele não vem ficar aqui?

- Ela entra aqui nesse quarto todos os dias, chega perto dele, faz carinho, mas sempre sai correndo com lágrimas nos olhos. Ela não fica aqui dentro por muito tempo. - eu suspiro, passando a mão no cabelo do Antônio. - Está na hora de você acordar, garoto. Você está deixando a sua mãe triste.

- E a filha dele? - Larissa pergunta.

- A menina é linda e muito educada. Mas muito tímida. Eu tento conversar com ela, mas ela sempre fica quieta olhando para o pai. Amanhã ela vai começar as sessões de terapia com a Pâmella. Acredito que fará muito bem a ela.

- Ainda não descobriram por que ele não acorda?

- Não... - eu exalo forte. - Eu e a Pâmella analisamos todos os relatórios médicos dele. Todos os exames. Fizemos uma chamada de vídeo com o neurologista do hospital que ele estava nos Estados Unidos. Ele não tem absolutamente nada clínico. O trauma dele é aqui... - eu digo apontando para a sua cabeça. - Ou aqui... - eu suspiro passando a mão no peito dele, perto do coração.

Larissa empurra o corpo dele de volta para a posição anterior, e eu ajeito a sua cabeça.

Ouvimos uma batida na porta, e o pequeno Cris deu um leve gritinho.

- Boa tarde! - entra Frederico.

- Boa tarde, Fred. - eu respondo e noto Larissa ficando vermelha e olhando para o chão.

- E aí garotão? - Fred vai até o pequeno Cris e passa a mão na cabeça da criança, que exibe um enorme sorriso com pequenos e adoráveis dentinhos.

- Como ele está hoje? - pergunta apontando para o Antônio.

- Na mesma... - eu respondo.

- Qual é, Papato?! - ele brinca. - Vamos acordar, porra! Você tem um cinturão para recuperar, cara!

CLAREOUOnde histórias criam vida. Descubra agora