CAPÍTULO 29

1.9K 119 30
                                    

ANTÔNIO

É domingo à noite e eu sento em silêncio na banqueta no balcão da minha cozinha, com uma taça de vinho branco em minha frente.

Seguro com força o envelope branco em minhas mãos, observando a etiqueta com os nossos nomes.

Sinto a tensão tomar conta de todo o meu corpo, e tento estalar os meus ombros e pescoço para aliviar.

Esse envelope iria mudar a minha vida para sempre.

Eu havia pegado esse envelope na sexta-feira e ainda não tive coragem de abrir.

E se ela não fosse a minha filha?

Eu não queria fazer isso sozinho. Não queria abrir o envelope e ver que a Maria não era a minha filha, estando sozinho nesse apartamento.

Eu havia deixado a Maria ir dormir na casa da minha mãe, e o silêncio do meu apartamento consumia tudo ao meu redor.

Eu queria ela.

Amanda.

Como eu pude ser tão burro em deixa-la sair da minha vida assim, de um dia para o outro?

Como eu puder ser inocente ao ponto de achar que tudo voltaria ao normal depois de ter vivido um dia da minha vida com ela?

Depois de sentir o cheiro dela.

De provar o gosto dela.

Ela estava tão linda na sexta-feira. Seus cabelos preso em um coque bagunçado, e seu rosto com uma leve marca da máscara e do óculos de UTI.

Lembro de como eu achei a sua aparência frágil, e de como ela parecia um pouco pálida e mais magra.

Eu senti uma raiva gigantesca quando vi aquele médico tocando o seu braço, e ela retribuindo o toque.

Raiva de mim mesmo, por ter afastado ela de mim.

Eu estava tão apaixonado por aquela mulher, que o mísero pensamento dela saindo com outro homem queimava um buraco dentro do meu peito.

Mas é isso o que iria acontecer.

E a culpa seria toda minha.

Ela iria conhecer alguém, e iria sair com ele. Depois deixaria ele tocar em seu corpo, e fazer amor com ela. Ela iria se apaixonar. Ele iria oferecer o mundo para ela, e ela iria aceitar. Eles teriam filhos, e seriam felizes.

Burro! Idiota!

Eu soco o balcão, a dor em minha mão lembrando-me de como seria miserável a minha vida vendo-a ser feliz com outra pessoa.

Eu estraguei tudo!

Imagino-a andando pelo meu apartamento, descalça com o cabelo loiro solto em suas costas. Seu corpo estreito sustentando uma barriga de grávida, e um sorriso enorme de felicidade no rosto.

Eu estraguei tudo!

Coloco minhas mãos em minha cabeça e fico encarando o envelope no balcão.

Devo abrir agora?

Devo chamar o meu irmão?

E se ele fosse o pai da Maria, como seriam as nossas vidas daqui para frente?

Começo a hiperventilar, meu coração acelerado, e minha respiração ofegante.

Eu preciso abrir esse envelope junto com o meu irmão. Nós dois precisamos dessa resposta.

Levanto-me da banqueta e procuro o meu celular, enviando uma mensagem para o meu irmão.

"Chegou a hora da gente saber."

CLAREOUOnde histórias criam vida. Descubra agora