CAPÍTULO 5

1.6K 85 33
                                        

- A sua filha é um amor! - eu murmuro para o Antônio enquanto estou debruçada em cima de seu rosto retirando os pontos do seu supercílio.

São quase 22:00 horas e eu ainda não consegui me desligar e ir para a cama.

Por isso, após um banho relaxante, vesti um robe por cima do meu pijama e vim verificar o Antônio. Todas as noites eu durmo na suíte anexa, e deixo a porta de conexão aberta.

E foi ai que decidi adiantar o trabalho que eu faria amanhã bem cedo, e comecei a remover os pontos do corte em seu supercílio.

- Eu estou encantada por ela, e também conheci a Nina. - dou uma risadinha. - Quando você acordar eu irei te mostrar a foto que tirei dela, você nem vai acreditar. Bati algumas fotos da Maria também. Ficamos um bom tempo no balanço, e conversamos bastante. Ela é uma menina muito inteligente!

Eu toco em sua mão e dou um leve aperto.

- Ela está sentindo a sua falta, Antônio. - eu sussurro. - Ela me contou das coisas que vocês fazem juntos e de como você é o melhor pai que ela poderia ter.

Sinto um leve roçar de seu dedo no meu e me assusto.

Dessa vez eu acho que não foi coisa da minha cabeça.

- Antônio, você está me ouvindo? - eu sussurro de novo, esperando para sentir se ele irá mexer os dedos novamente.

E novamente eu sinto uma leve mexida, quase imperceptível.

Nesse momento, o aparelho que mede seus sinais vitais começou um barulho frenético, anunciando que sua pulsação estava muito rápida.

Mas entendi rapidamente que aquela reação era uma ansiedade e não um quadro clínico.

Noto uma lágrima solitária escorrer pelo lado esquerdo de seu rosto e me emociono.

Ele podia me ouvir, e não estava conseguindo se comunicar.

- Fica calmo, fica tranquilo. - eu falo bem perto do seu ouvido. - Eu estou aqui com você, eu não vou sair daqui. Só preciso que você se acalme ok?

Novamente o seu dedo roçou o meu.

O bipe do monitor estava mais atrapalhando do que ajudando. Se aquilo era realmente uma crise de ansiedade, ouvir aquele barulho só o deixaria mais ansioso, ou talvez imaginando que estava acontecendo algo de grave com ele.

Resolvi arrancar o aparelho do seu peito e seu dedo, em uma certeza absoluta de que ele estava bem clinicamente.

Usei a minha lanterna de pupila para detectar alguma reação ou arco reflexo em seus olhos.

- Antônio, fica calmo, eu estou aqui com você. Não vou a lugar algum, ok?

Eu falava baixinho, enquanto fazia carinho em seus cabelos.

- Quando você se sentir pronto para abrir os olhos, faça isso. Não tenha medo.

Ele respirava fundo, constante. Seu peito subia e descia rapidamente.

- Sua filha está ansiosa para te ver acordado novamente.

Outra vez seu dedo se mexeu levemente.

Falar da Maria era a chave.

- Ela me contou que faltam cinco dias para o seu aniversário! - eu falo animada para distraí-lo. - Você precisa abrir esses olhos antes disso, bonitão.

Fico falando amenidades enquanto continuo tentando acalmá-lo.

Preciso de uma reunião com a minha equipe amanhã pela manhã, irei traçar um novo plano para o tratamento do Antônio. Irei trabalhar em conjunto com a Pâmella para me aprofundar no trauma que ocasionou tudo isso. Alguma coisa aconteceu com o Antônio. Alguma coisa que ele quer fugir, esquecer.

CLAREOUOnde histórias criam vida. Descubra agora