CAPÍTULO 40

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Três semanas haviam se passado desde que cheguei em Miami, e a vida mão estava muito fácil para mim.

Tentei um acordo com o meu trabalho, mas eles não aceitaram que eu precisaria de quase 10 semanas afastada.

Fui dispensada do emprego, e por conta da estabilidade prevista em lei para as gestantes, eu recebi um valor alto de multa junto com a minha rescisão.

Deixei esse dinheiro no banco, guardado junto com o dinheiro que recebi pelos dias trabalhados como médica particular do Antônio há alguns meses atrás. Pelo menos eu tinha como comprar algumas coisas para o meu bebê, e me manter até ele ter pelo menos seis meses.

Essa instabilidade me deixava ansiosa, e eu me sentia muito mal por tudo o que eu estava vivendo ultimamente.

Eu estava com quatorze semanas e três dias de gravidez, e a minha barriga estava crescendo cada vez mais.

Paro em frente ao espelho para admirar o meu bebê crescendo dentro de mim.

Os dias em Miami eram tristes, principalmente pelo fato de eu estar morando com uma pessoa que eu não queria conversar.

Eu evitava todo tipo de contato desnecessário com o Antônio.

Todos os dias eu esperava ele sair para o treino, para eu poder sair do quarto e andar pela casa.

A sorte é que ele ficava praticamente o dia inteiro fora, e só retornava na hora do jantar.

Eu costumava preparar o jantar antes dele chegar, e levar o meu prato até o meu quarto, mas sempre deixava a parte dele preparada também, como forma de pagar pela estadia em sua casa.

Eu não suportava esse clima estranho entre nós, mas eu também não suportava a ideia de ter sido traída pelo pai do meu bebê.

Às vezes a Lari tentava tocar no assunto comigo, mas eu sempre desconversava. Eu não queria saber mais nada sobre isso.

Eu sei que eu estava sendo teimosa, mas eu só queria passar pela minha gravidez com tranquilidade.

Algumas vezes, principalmente durante a noite ou durante o fim de semana, eu trombava com o Antônio pelos corredores da casa. Ele me perguntava se estava tudo bem com o bebê, se eu estava sentindo alguma coisa, e eu respondia apenas o necessário.

Eu tinha medo de olhar muito tempo para ele, e ceder a tentação de toca-lo, de abraça-lo. Eu sentia tanta saudade dele, de estar com ele.

Seu rosto sempre demonstrava um ar triste, seus olhos apagados como se não tivesse dormindo direito, sua barba mais cheia e o cabelo comprido caindo na testa.

Eu sentia vontade de tocar em seus cabelos, de sentir seus lábios nos meus novamente.

Sem falar nos hormônios em ebulição que estavam me deixando maluca!

Estou em uma fase que tudo me deixa excitada.

O cheiro do perfume dele que se espalha pelo corredor quando ele sai de casa, as veias saltadas em seus braços quando observo ele pegando alguma coisa, o jeito como ele chega suado e ofegante dos treinos no fim do dia.

Ao mesmo tempo que fico extremamente excitada, também fico triste por pensar que não vou nunca saber a sensação de fazer amor grávida com o pai do meu bebê.

Essa nova fase da minha vida estava chata e monótona, e não era nada parecida com o que eu idealizava para quando estivesse grávida.

Suspiro triste enquanto visto um short de malha preto e uma camiseta branca. Era sábado, e o dia estava quente e ensolarado.

Inevitavelmente eu veria o Antônio hoje, já que a Dona Wilma e a Maria estariam chegando em Miami na parte da tarde.

Sinto o meu estômago roncar de fome e resolvo sair do quarto e enfrentar o meu carcereiro.

Estou descendo a escada descalça e em silêncio quando ouço a voz do Antônio falando alto no telefone com alguém.

- Nós precisamos encontra-la, ela não pode ter sumido assim. - ele fala ríspido.

Eu paro no terceiro degrau, sem saber se devo descer ou não.

- Já fazem dez dias que o resultado saiu. - ele faz uma pausa ouvindo a pessoa. - Deu positivo para Xanax, mas era um quantidade pequena em meu organismo, provavelmente porque eu não bebi o drink todo.

Sinto um frio na minha barriga, e desço mais dois degraus tentando ouvir melhor.

- Eu não tenho como provar que foi ela que me drogou, e nem sei qual foi a motivação dela em fazer isso, mas acredito que o plano não era apenas um beijo no meio da multidão. - ele explica e faz uma pausa ouvindo.

Eu sinto uma raiva crescer dentro de mim depois de ouvir o que ele disse.

Ele foi drogado?

Foi aquela mulher?

Termino de descer os degraus e vou até a sala onde ele está.

Antônio está de costas para mim, parado na janela com vista para o jardim. Ele está sem camisa, e com uma calça de moletom baixa em sua cintura. Sua mão mexe sem parar em seus cabelos, bagunçando os fios para todos os lados, enquanto a outra mão segura o telefone em seu ouvido.

- O Fredinho me mostrou o currículo dela, e as informações das últimas agências que ela trabalhou, mas eu ainda não tive tempo de verificar. - ele murmura.

Continuo parada no lugar, esperando ele me notar ali.

Os músculos de suas costas ondulam conforme ele mexe o braço, sua tatuagem preta criando um contraste com a sua pele bronzeada.

- Elas já embarcaram, eu vou busca-las mais tarde. - ele suspira. - A mamãe não está muito feliz comigo, mas ultimamente parece que ninguém está. - ele reclama.

Um sorriso involuntário se forma em meus lábios ao ouvir o drama em sua voz.

Meu pequeno pônei.

Eu limpo a minha garganta para anunciar a minha presença, e ele se vira assustado.

Seu olhar percorre o meu corpo lentamente, e para sobre a minha barriga agora evidente.

Ele da um sorriso torto.

- Mano, eu preciso desligar. - ele fala. - Eu vou te enviar as informações.

Ele encerra a ligação e seu olhar prende o meu por um momento.

- Oi. - ele murmura.

- Oi. - eu sussurro tímida. - Eu vou preparar o café da manhã.

- Eu já preparei. - ele sorri. - Deixei ovos mexidos para você na frigideira, e uma vitamina de mamão com banana na geladeira.

- Obrigada. - eu agradeço e me viro para deixar a sala.

- Sua barriga está maior. - ele diz e eu me viro novamente em sua direção.

- Sim. - eu sorrio e coloco minha mão em meu ventre.

Ele se aproxima de mim e o seu perfume me domina.

- Posso? - ele estica a mão e acena com a cabeça pedindo permissão.

- Sim. - eu sussurro olhando para baixo.

Puxo a minha camiseta para cima, segurando-a logo abaixo dos seios, e minha pele se arrepia quando Antônio coloca as mãos em minha barriga.

Sinto um nó em minha garganta e luto para não chorar quando vejo-o se ajoelhar em minha frente.

CLAREOUOnde histórias criam vida. Descubra agora