CAPÍTULO 17

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ANTÔNIO

- Um, dois, três, girou... - meu treinador gritava ao meu lado enquanto eu impulsionava os braços em socos alternados. - Defende! Um, dois, três! Bora Sapato!

Meus músculos queimavam, minha pele estava quente e meu suor escorria. Eu estava com muita saudade dos meus treinos. A minha rotina inclui dois treinos por dia, chegando a três quando estou me preparando para alguma luta.

Só houve dois momentos da minha vida que eu fiquei tantos dias seguidos sem treinar, o primeiro quando a Maria nasceu e eu tirei um mês sabático para ajudar a minha esposa a cuidar da nossa bebê, o segundo quando precisei fazer uma cirurgia no meu joelho direito e fiquei três meses parado com minha bunda colada no sofá de casa.

- Mais rápido, Sapato! - gritava o meu treinador. - Está com a cabeça aonde? Acorda! Um, dois, três, troca o braço...

Apertei o meu protetor bucal com mais força entre os meus dentes e soquei a porra do sped ball o mais rápido que eu podia.

A minha cabeça estava flutuando em direção a minha médica preferida e o beijo mais quente que eu já recebi nessa vida, mas o meu treinador não precisava saber disso.

- Parou! - gritou ele. - Para o chão, flexão!

Desci até o chão e comecei a erguer o peso do meu corpo com meus braços em uma flexão rápida e ágil.

- Vinte! - ouvi o treinador contar. - Eu quero cem, continua!

Continuei os movimentos, sentindo todos os músculos dos meus braços e abdome trabalharem.

O cheiro da Amanda não saía da minha cabeça e eu podia sentir o gosto da sua boca só de lembrar aqueles lábios nos meus. Senti-me no céu quando finalmente pude colocar minhas mãos naquela bunda gostosa ontem, e imaginava como seria quando eu tocasse nela sem suas roupas para atrapalharem o meu caminho.

Estava ansioso para o nosso jantar de hoje à noite.

Pedi para a Bruna passar o final de semana com a Maria, para poder aproveitar tranquilo cada minuto do tempo que a Amanda pudesse ficar comigo.

Havia feito uma reserva em um dos melhores restaurantes do Rio de Janeiro, e esperava poder passar um tempo agradável com ela, porque apesar de todo o tesão que eu sentia por ela, só de estar na companhia dela já seria muito especial.

- Parou! - gritou o treinador. - Caralho, Sapato! Está perdido mesmo! Eu pedi 120 e você fez 140, e se eu não tivesse te parado você ia continuar sabe-se lá até quanto.

- Desculpe, mestre. - respondo enquanto limpo o meu suor e bebo água para me hidratar.

- Por hoje chega, é o seu primeiro treino depois do que aconteceu, então vamos pegar leve. - ele fala batendo nas minhas costas e indo embora.

Jogo-me no chão emborrachado fitando o teto e tentando normalizar a minha respiração.

O Fred já havia recebido alguns telefonemas de patrocinadores cobrando uma nova luta, e a organização queria agendar ainda para esse ano, valendo um cinturão.

Se eu vencesse, seria o terceiro cinturão da minha carreira.

Penso no motivo que levou a minha perda na última luta.

Mario.

A raiva toma conta do meu corpo ao recordar-me da traição do meu irmão e de minha esposa.

Eu nem tive coragem de ler o restante daquele caderno, e quem sabe se eu nunca soubesse disso a vida seria bem melhor.

Mas eu soube, e agora eu precisava lidar com isso. Precisava contar a Maria, ela merecia saber quem é o seu verdadeiro pai.

CLAREOUOnde histórias criam vida. Descubra agora