CAPÍTULO 38

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ANTÔNIO

Assim que saio do quarto de Amanda, caminho pelo corredor decidido a encontrar alguém que pudesse me dar detalhes de como ela e o meu bebê estavam.

Minha maior preocupação era com a gravidez, já que a Larissa havia dito que ela quase abortou.

A culpa me consome lentamente, mesmo uma parte de mim sabendo que eu nunca tive a intenção de engana-la, ou trair a sua confiança.

Antes que eu consiga chegar ao posto de enfermagem no fim do corredor, sinto o meu celular vibrando loucamente em meu bolso.

Quando verifico, perco os meus passos.

Inúmeras notificações do instagram, em plena madrugada. Algo não estava certo.

Quando abro o aplicativo, fico surpreso ao ver que havia sido feita uma nova publicação na minha conta, com as fotos tiradas na noite passada na inauguração da 'Le Feu'.

Eram as fotos que a Cecília tirou de mim na entrada da casa noturna, em frente ao logo da casa.

Sinto a raiva me dominar.

Eu havia dito para ela resolver o problema, e ela além de me ignorar ainda faz publicações comprovando que eu estava no local.

Os comentários que aparecem na foto não são os melhores, e vejo que muitos deles mencionam a Amanda.

Flexiono os meus dedos, sentindo vontade de socar alguma coisa.

Não era isso que essa mulher deveria estar fazendo.

Era para gerenciar a crise, e não causar mais uma.

As palavras da Larissa ficam repassando na minha mente conforme eu vou lendo alguns comentários.

"Eu avisei sobre essa mulher! Para vocês dois! Eu falei várias vezes como ela era estranha e como eu sentia os olhares dela! Mas vocês dois ignoraram e continuaram deixando ela tomar conta de tudo!"

Será?

Encosto na parede quando me recordo de alguns detalhes da noite passada.

A forma como ela entrou na minha casa, decidida a me fazer ir na inauguração, o jeito estranho como ela me olhava, a bebida que ela me ofereceu, e depois quando ela desapareceu por alguns minutos.

O jeito como eu me senti apenas com alguns goles da bebida soou estranho em minha mente.

A sensação de estar bêbado com tão pouca dose de álcool. A tontura, a visão turva. Uma parte de mim soava alarmada, e outra me dizia que eu deveria estar pirando.

Não seria possível, seria?

Mas por quê? Por qual motivo?

Eu nunca tratei ela mal, sempre fui muito educado com ela.

Mas parando para analisar, a Larissa tinha razão, a mulher era estranha.

A forma como ela sempre falava com uma pontada de veneno com a Larissa, os olhares e sorrisos que ela jogava em direção ao Fred quando a Larissa estava por perto, o jeito como ela sempre fazia questão de me tocar quando estávamos sozinhos.

Até mesmo às vezes que ela invadia o vestiário da academia quando eu estava me trocando, sempre dando alguma desculpa sobre horários ou algum trabalho.

Mas o que ela ganharia com isso? Me prejudicando dessa maneira?

Se fosse um interesse genuíno, ou alguma paixão, ela falaria comigo no particular, quando estivéssemos sozinhos, e não seria um beijo roubado em uma balada cheia de gente, certo?

E se eu fizesse um exame?

Ligo novamente para a Cecília, mas ela não me atende.

Ligo para o Fred, mas também é em vão.

Já é muito tarde, mas eu preciso falar com alguém, então resolvo tentar o meu irmão.

Ele me atende no terceiro toque.

- Juninho. - ele fala com a voz sonolenta.

- Me desculpe a hora. - eu murmuro. - Eu estou precisando conversar com alguém.

- Aconteceu alguma coisa? - ele pergunta agora mais desperto.

- Eu estou desconfiando que fui drogado.

- O quê?! - ele parece bravo. - Aonde você está? Com quem?

- Não, não agora. - eu o tranquilizo. - Na noite passada.

- A foto? - ele pergunta.

- Sim, eu estou desconfiando que o plano era pior do que somente aquele beijo.

- Porra! - ele xinga. - Quem é a mulher?

- Minha assistente.

- Ou eu estou sonhando, ou essa conversa não está fazendo sentido nenhum. - ele murmura.

- Eu vou te explicar. - eu falo e começo a contar para ele tudo o que aconteceu na noite passada, e como eu me senti no local, e depois em casa.

Ele me escuta atentamente.

- Então eu queria aproveitar que estou no hospital e solicitar um exame, o que você acha? - eu pergunto.

- Espera, o que você está fazendo no hospital de madrugada? - ele pergunta confuso.

- Porra. - eu respiro fundo. - Tem mais uma coisa que eu preciso te contar, mas você tem que jurar que não vai contar para ninguém.

- Desembucha, Juninho. - ele fala sério.

- A Amanda está aqui. - eu começo.

- A Amanda está em Miami? - ele pergunta gritando e ouço alguém no fundo reclamando. - Desculpa anjo, eu vou para a sala. - eu ouço ele murmurando para alguém.

- Anjo, hein. - eu brinco.

- É a Roberta, ela estava dormindo e eu a acordei. - ele explica. - Agora me fala, que história é essa da Amanda estar em Miami?

- Ela veio me fazer uma surpresa, mas quando desceu do avião e viu as notícias ela passou mal e precisou vir para o hospital.

- Ela vai passar a noite? É grave? - ele pergunta preocupado.

- Ela está grávida. - eu falo e um silêncio absurdo ocupa a ligação. - Mario?

- Você vai ser pai de novo? - ele pergunta e ouço a sua voz embargada.

- Sim. - eu murmuro.

- Júnior. - ele respira fundo. - Parabéns, mano! Eu estou muito feliz por vocês!

- Não conta para ninguém! - eu peço. - Nem para a mamãe.

- Ela vai amar. - ele ri. - A Maria...

- Eu sei. - eu respondo sorrindo. - A Maria vai ser uma ótima irmã mais velha.

Ficamos em silêncio por alguns segundos até que ele entra no modo advogado e começa a falar sem parar.

- Júnior, você precisa fazer o exame com urgência, pois já passou 24 horas e estamos correndo contra o tempo. Mas primeiro você vai acessar todas as suas mídias sociais e tirar o acesso dessa mulher, e trocar todas as senhas.

- Certo.

- Eu vou redigir agora mesmo um acordo de confiabilidade, vou enviar para o Fred levar até o hospital amanhã cedo. - ele suspira. - Você pode ser reconhecido enquanto fizer o exame, ou pelo fato de estar acompanhando uma mulher grávida.

- Droga, eu não tinha pensado nisso.

- Faça o médico da Amanda assinar o acordo de que não vai vazar informações sobre a gravidez. - ele indica. - Mas é foda, é muito difícil essa informação não vazar porque tem os enfermeiros, e os outros funcionários do hospital.

- Eu não quero prejudica-la. - eu murmuro. - Não mais do que já prejudiquei.

- Vamos por partes, vai dar tudo certo. - ele me tranquiliza. - Vai até a recepção e solicita o exame.

- Vou fazer isso agora.

- Eu te amo, Juninho. Vai ficar tudo bem.

- Eu te amo, mano. - eu falo e desligo.

Vou até a recepção e solicito o exame, fazendo o pagamento e aguardando me chamarem.

Enquanto espero, entro nas minhas mídias socias e retiro o acesso da Cecília, e mudo todas as senhas.

Algum tempo depois, o meu nome é chamado e eu vou até a coleta de exames.

Eles pegam uma amostra do meu sangue, da minha saliva e do meu cabelo. Depois me entregam um pote para eu colher uma amostra da minha urina no banheiro.

A enfermeira me informa que o resultado sairá em até 10 dias, e eu agradeço, saindo da sala.

Vou até a cafeteria do hospital, precisando urgente de uma dose de café.

Depois que bebo um café quente e como um croissant de queijo, eu volto para o corredor do quarto da Amanda.

Já passam das quatro horas da manhã e eu não consigo nenhuma informação sobre o quadro da Amanda e do bebê. A enfermeira me disse que o médico iria passar no quarto por volta das oito horas da manhã.

Respiro fundo e caminho de volta para o quarto.

Entro lentamente, não querendo acorda-la, e me acomodo no sofá ao lado da cama.

Ela dorme com uma expressão serena, e o seu rosto parece um pouco mais corado.

Coloco o meu celular no silencioso e navego pelo twitter buscando as notícias com o meu nome, e curioso para saber o que as pessoas estavam falando sobre mim.

Algumas coisas que eu leio me deixam muito ansioso, principalmente comentários duvidando do meu caráter ou falando sobre a Amanda.

Sinto uma necessidade de protegê-la de tudo isso, mas ao mesmo tempo sinto minhas mãos atadas sem saber por onde começar.

Amanhã eu teria uma conversa séria com o Fred sobre a Cecília.

Eu precisava saber como foi feita essa contratação e se ela havia apresentado alguma referência.

E eu precisava encontra-la.

E demiti-la.

Respiro fundo, pronto para sair do aplicativo e tentar tirar um cochilo quando uma postagem me chama a atenção.

Finn O'Sullivan, o meu adversário na próxima luta, publicou uma foto da minha última luta onde eu estava nocauteado no chão, com a legenda "Bastardos infiéis merecem porrada".

Mas que porra?

Esse filho da puta!

Sinto o meu sangue esquentar de raiva e saio do aplicativo, apagando o celular e fechando os meus olhos.

Deus, tudo isso parecia um pesadelo sem fim.


Tento achar uma posição mais confortável, e adormeço alguns minutos depois.

¤¤¤¤¤¤



Os raios de sol que entram pela frestas da persiana da janela aquecem o meu rosto e eu abro os meus olhos, de repente consciente de onde eu estou.

Passo as mãos em meu rosto tentando me despertar do sono, e me levanto, olhando ao redor.

Um par de olhos cor de whisky me encaram com raiva.

- Amandinha! - eu me aproximo de sua cama e tento pegar em suas mãos, mas ela me afasta.

- Não me toca! - ela fala, sua voz cheia de raiva assim como seus olhos.

- Amor, não faz assim. - eu sussurro e tento tocar em sua testa, mas ela vira o rosto.

- Vai embora. - ela fala e fecha os olhos com força.

- A gente precisa conversar. - eu falo.

- Eu não quero conversar com você! Eu quero que você saia daqui! - ela fala mais alto.

- Amandinha... - eu tento falar mais ela me corta.

- Amanda! - sua voz é afiada como uma faca, e ela me olha novamente, os seus olhos escurecendo de raiva. - Para você é Amanda!

- Não... - eu sussurro de novo, e sinto um nó na minha garganta.

Uma lágrima fina escorre pelo seu rosto e eu sinto o meu coração apertar.

- Por favor, só me ouve. - eu peço olhando em seus olhos.

Ela não me responde.

- Eu não fiz aquilo. - eu falo e ela fecha os olhos, agora mais lágrimas escorrendo pelo seu rosto. - Eu nunca faria aquilo com você. Eu te amo.

- Se você me ama, vai embora daqui agora. - ela fala com os olhos ainda fechados. - Eu não consigo nem olhar para você, eu tenho nojo.

- Não faz assim, amor. - eu peço e sinto vontade de chorar também quando ela diz que sente nojo de mim.

Nojo.

Ela secas as lágrimas em seu rosto, mas continua com os olhos fechados.

- Amanda? - eu chamo baixinho mas ela não responde. - Eu te amo, eu vou te provar que eu não fiz aquilo, que eu não te traí.

- Eu não sou burra, Antônio! - ela fala mais alto. - A foto está em todo lugar.

- Ela me beijou e eu me afastei dela no mesmo instante. - eu explico.

Ela abre os olhos e me fita.

- Quem era a mulher? - ela pergunta.

- Cecília. - eu respondo.

- Claro. - ela ri nervosa e desvia o olhar novamente.

Vejo ela colocando as mãos sobre a barriga e um sorriso nasce em meus lábios quando me lembro do meu bebê crescendo ali.

Dou um passo para me aproximar novamente, mas ela se encolhe inteira e eu paro no lugar.

- Vai embora. - ela pede novamente, sua voz triste quebrando o meu coração.

CLAREOUOnde histórias criam vida. Descubra agora