— O que foi? Tá esperando o que? O assassino vir abrir a porta? — Ironizo, vendo que Lorenzo está simplesmente parado, esperando a porta abrir sozinha. Ele me ignora.
— Você tem grampos no cabelo?
— O que? Pra que? — franzo as sobrancelhas, fazendo uma pergunta por cima. De qualquer forma, não tenho grampo.
— Para abrir a porta — ele gesticula como se eu fosse a burra da história.
— Sinceramente… — balançando a cabeça, empurro ele para o lado e chuto a porta, fazendo ela se escancarar. Lorenzo passa as mãos no rosto e balança a cabeça.
— Bom, agora ele com certeza sabe que estamos atrás dele — sussurro que cale a boca, ciente de que já fizemos zuada o suficiente.
O prédio ainda está em construção. Lorenzo viu pelas câmeras do salão que ele saiu pela porta de emergência, hackeou as câmeras da rua e o seguiu até esse edifício. Não tivemos tempo de descobrir quem é o dono, porém, se não conseguirmos pegá-lo hoje, o dono pode ser um dos suspeitos. Pego a adaga no coldre de perna e uma pistola no coldre da cintura, apontando a arma para frente e a faca em posição estratégica para arremessar ou atingir o que quer que venha dos lados. Lorenzo está defendendo minhas costas, tão silencioso que quase não ouço os seus passos, mas próximo o suficiente para eu sentir o calor do seu corpo.
Subo as escadas devagar, começando a vasculhar as salas de vidro com nada além da nossa visão periférica. Trazer uma lanterna atrapalharia mais do que ajudaria, eu acho.
— Nada aqui — diz Lorenzo, do outro lado do corredor.
— Aqui também não… — digo, antes de ouvir uma zuada vinda do andar de cima. — Vamos! — Chamo, correndo de volta para as escadas.
— Kiara! — exclama Lorenzo.
— O que é? — viro-me para ele, franzindo a testa para o seu tom de aviso. — Você é mais frouxo do que eu imaginava, Lorenzo — subo reclamando e um outro estalo é ouvido quando estamos perto do fim da escadaria. — Ouvi alguma coisa…
— O que? — Lorenzo se apressa para ficar do meu lado e olha ao redor. Balanço a cabeça para dizer que não sei e continuo. Passos disparam para o próximo andar e aponto para a escada, mas a sombra visível pela luz do poste já desapareceu.
— Eu vou atrás dele… — diz Lorenzo, já começando a subir. Eu seguro-o pelo braço e puxo para trás, para que Lorenzo fique onde estou.
— Vamos lá! — Grito para ele, seja lá quem for. — Vai se esconder agora? Um pouco tarde para isso, não acha? Pelo menos tenha a decência de não parecer um menininho acuado… — pirraço, chegando no quarto andar.
— Kiara, é perigoso entrar assim, Kiara… — Lorenzo grita, mas não a ponto de me alertar sobre o brilho prateado escondido ao lado da parede. — KIARA, NÃO! — o som oco da bala, enfim, atinge os meus ouvidos. O impacto me faz ser arremessada para trás, para os braços do Lorenzo. A bala acerta em cheio o meu ombro e a eu não sinto dor, não grito, mas sinto quanto o sangue começa a molhar minha blusa.
— Parece que sua mira não é tão boa… — digo entre dentes, fervilhando de ódio, Lorenzo pressiona o ferimento com mãos hábeis e nervosas. Pede que eu cale a boca e eu rosno de ódio. — Monstre o rosto! Mostre a porra do rosto que ousa tentar me matar! — esbravejo. Lorenzo me guia para trás e para trás e eu quero avançar contra quem quer que seja escondido lá em cima.
Quando algo é arremessado em nossa direção.
— Lorenzo, me solte ou eu vou… — eu me calo, arregalo os olhos. Encaro o objeto arremessado contra nós e tento me lembrar quanto tempo ela demora para explodir.
Uma granada.
Me lembro que é rápido.
— Vamos ter que pular… — diz Lorenzo, me arrastando para a janela.
— O que? É o quarto andar… — eu balanço a cabeça. — Vamos correr…
— Não dá tempo! Deve ter carros lá embaixo! — ele dispara no vidro da janela e me puxa para correr. — CORRE! — A sua voz tem tempo de entrar em meus ouvidos, mas de repente, a explosão.
A explosão vem logo atrás de nós, o fogo irrompe pelo resto do vidro que restou e sinto estilhaços na pele exposta e um calor terrivelmente doloroso nas pernas, queima, arde, estraga todo o conceito de que adrenalina ameniza a dor. E só consigo pensar em quantas coisas não fiz e nas coisas que fiz e não admiti e na minha vida inteira. Ela passa diante dos meus olhos e tudo dói intensamente enquanto pulamos em queda livre.
Lorenzo não ousa soltar a minha mão.
O tombo em cima do carro faz parecer que quatrocentos pregos foram empurrados contra a minha pele e o alarme, o zumbido, os estilhaços caindo em cima de nós, e a dor, a dor, a dor… e o Lorenzo, segurando a minha mão, gemendo ao meu lado. Um zumbido tão forte toma conta dos meus ouvidos e a dor inebria os meus sentidos que eu não entendo como ainda estou viva.
— Lorenzo? — ouço uma voz familiar.
— Rua Longbottom, n°507… — Lorenzo diz ao meu lado, com a voz estrangulada. Meu corpo dói enquanto tento respirar, enquanto tento permanecer acordada e viva. — Venha agora… com médicos… estamos machucados… a Kiara… foi baleada… — ele termina de dizer, apertando sem força a minha mão.
— Porra, Lorenzo! Cazzo! — É Giovanni. Ele xinga, grita alguém do outro lado da linha.
— Ela… ela não pode morrer. — Lorenzo diz, agora com mais força. Eu ainda sinto o seu toque na minha mão e nem sei se estou alucinando quando ouço-o dizer: — Giovanni… ela é a porra da mulher que eu sempre desejei e não pode morrer, não posso perdê-la agora… — e apago.
Em breve começa os pov's do nosso neném.
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Paixão Mortal
RomanceSeria irônico que uma pessoa que odeia casamentos e sempre deixou claro que nunca, em hipótese alguma, se casaria com ninguém, fosse obrigada a se casar? Kiara sempre teve aversão a relacionamentos - a relação de seus pais a convenceram de que essa...