Mais três dias se passaram e me martirizo por não poder ajudar em nada, principalmente porque nas minhas atuais circunstâncias Giovanni e Andrea decidiram que é inadmissível qualquer tipo de estresse. O mais engraçado é eles acharem que irei obedecer e ficar em casa enquanto eles trabalham duro para encontrar o Lorenzo e ainda assim não acham nada.
Desço do carro no estacionamento subterrâneo do CT e jogo a chave para o manobrista, indo em direção ao elevador segurando uma vitamina com cor de vômito que a Ginevra preparou para mim e estou até com medo de beber — entretanto irei, já que o médico pediu que eu ficasse de repouso e aqui estou eu no CT, então ela insistiu que isso ao menos me fortaleceria. Dou o primeiro gole e percebo que nem é tão ruim, o que me deixa aliviada.
O elevador abre na sala da presidência. Mattia, Giovanni e Andrea estão aqui, todos em volta da mesa e discutindo alguma coisa relacionada a localização do Lorenzo. Quando bato na porta — que já estava aberta — para anunciar minha presença, os três olham para mim de vez.
— O que você está fazendo aqui? — Pergunta meu irmão. Reviro os olhos para ele e me aproximo, olhando por cima do ombro do Mattia para o mapa posto na mesa.
— Bom dia, irmão do meu coração. Bom dia, queridos cunhados. — Empurro Mattia para o lado e tento entender as marcações. — Vocês já conseguiram descobrir alguma coisa?
— Você devia estar em casa. — Giovanni afirma, ignorando completamente a minha pergunta.
— Gravidez não é doença, vocês sabiam? — Apoio a mão em cima da mesa e inclino a cabeça para encará-los com deboche. — Eu estou gerando uma vida, não morrendo. Entendem a diferença? — Junto a sobrancelha e gesticulo com os dedos.
— O médico mandou você ficar de repouso por uns dias. — Andrea volta a debater.
— Tudo que fiz para chegar até aqui foi dirigir e entrar em um elevador. Não andei cinquenta passos, não acho que isso se caracterize como esforço. — Tomo mais um gole da vitamina já perdendo a paciência.
— Eu entendo que você esteja ansiosa, cunhadinha. Principalmente agora que está esperando um filho do desaparecido — Mattia segura em meus ombros e dá uma risada de desespero. — Mas nenhum dos melhores hackers conseguiram descobrir nada! É impossível trabalhar sem o maior deles aqui! — Ele gesticula.
— Daqui a pouco será viável procurar por todos os galpões abandonados das redondezas. Mas não faz sentido, já que eles saíram de avião, porém, o sinal foi perdido ainda na Itália. E como ao que parece o Paolo quer que você os encontre, eles devem estar aqui. — Andrea discute.
— Certo, então vamos achá-lo, se ele quer que eu os encontre, então…
— Mas é arriscado, Kiara — Giovanni intervém. — Você está grávida, se ele descobrir, pode tentar usar isso ao favor dele ou até mesmo tentar fazer você perder esse bebê! — Discute.
— Então enquanto isso eu espero? — Cruzo os braços e encaro o Giovanni. — Eu não vou ficar sentada esperando um milagre, Giovanni! Eu estou esperando um filho dele, e estariamos à frente disso se eu não fosse tão idiota e tivesse acreditado naquela vadia e… — franzo os lábios, sentindo-os tremer. Meus olhos começam a arder. — Ele ainda está lá por minha causa. E se o Paolo quer guerra, ele terá, com o consentimento de vocês ou não. — Aponto e viro as costas, pisando duro para fora da sala.
{...}
Encaro o prato em minha frente, incomodada com o fato de não saber onde o Lorenzo está agora, ou se ele está se alimentando. Encaro o prato sem saber ao certo se irei conseguir chegar até o final da comida sem jogar tudo para fora na privada do banheiro. Os sintomas da gravidez já começam a aparecer e a presente situação não me ajuda a deixar nada no estômago.
Ginevra entra na sala de estar com uma xícara de café em mãos. Sei que também está preocupada, Lorenzo é a única família que ela tem — eu não a culparia se ela me culpasse por isso.
— Você precisa se alimentar — ela censura. — Não sei se ele ficaria contente em saber que você não está cuidando da gravidez de um filho dele, por causa dele. — Ela cruza os braços e me encara emburrada.
— Minha teimosia é a causa dele estar lá. — Engulo em seco. — Não posso ficar aqui só comendo e descansando como se a gravidez fosse a única coisa que importa agora. O meu filho precisa de um pai! — Brado, finalmente desistindo do jantar e o deixando de lado.
As horas passam e as notícias não chegam. Mattia ameaçou me dopar para que eu parasse de importuná-lo com ligações. Eles ainda não conseguiram nada, sequer pistas sobre a direção em que foram. Apenas acreditar que elas vão cair do céu como um milagre divino não está adiantando.
Estou a horas à espera de uma ligação de alguém com notícias dele. Preciso me desculpar por tudo que disse e pensei mesmo que ele não saiba. Preciso dizer que acredito nele, que aceito ter esse filho e que me jogo de cabeça nessa paixão mortal e que não me importo com os riscos.
O telefone toca e o frio na barriga que sinto arrepia os meus pelos. Ginevra me entrega o telefone sem fio e cruza as mãos apreensivas à frente do corpo quando atendo.
— Kiara… Kiara é a Rosa… — Fico sem reação ao ouvir a voz desesperada da vadia psicótica. — O Paolo… pretende matar o Lorenzo. Amanhã… ele mandará as coordenadas de onde estamos para que você nos ache e ele o mate em sua frente…
— Como eu vou acreditar em você… sua vadia desgraçada… — Falo entredentes, sentindo lágrimas de ódio molharem minha bochecha.
— O plano era fazer com que Lorenzo aceitasse ficar comigo para que Paolo não fizesse nada a você… — Explica ela, entre lágrimas. — Aproveitamos da sua raiva pelas coisas que mandei… mas ele tinha os próprios planos. Ele não me deixa mais ver o Lorenzo… ele deve estar machucado, e-eu não sei o que fazer… salve ele, por favor…
— Me fale em que lugar ele está que mandarei os meninos verificarem. — Exijo.
— Não! — Ela grita. — O CT está sendo vigiado… ele está planejando isso a muito tempo, eu… não venha sozinha, mas não traga os meninos… — Franzo a testa em desconfiança e suspiro.
— Isso quem irá decidir sou eu. — Respiro fundo. — Agora fale onde caralho vocês estão! — Pego o celular para digitar o endereço e mandar mensagem para Melanie e Jade. Se não posso levar eles, levarei elas. E ninguém melhor para me ajudar nisso.
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Paixão Mortal
RomanceSeria irônico que uma pessoa que odeia casamentos e sempre deixou claro que nunca, em hipótese alguma, se casaria com ninguém, fosse obrigada a se casar? Kiara sempre teve aversão a relacionamentos - a relação de seus pais a convenceram de que essa...