|| CAPÍTULO NOVE ||

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	A morte é engraçada, existem incontáveis formas de ir com ela, da mais dolorosa a mais tosca, e tem outros tópicos também

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A morte é engraçada, existem incontáveis formas de ir com ela, da mais dolorosa a mais tosca, e tem outros tópicos também. Algumas pessoas precisam lutar contra ela e ainda assim perdem a batalha, algumas pessoas são levadas do nada, outras nem se dão o trabalho de tentar despistar, evitar ela. E uma fração, ela decide que não quer. Ela fica parada, vendo a desgraça acontecer, com sua capa preta cobrindo o rosto e sua foice descansando na mão, sente a agonia, vê todo o sangue, os ferimentos, a destruição, e pensa: "sabe, acho que não quero mais você, não vou levar você comigo". Como se fôssemos descartáveis — e talvez seja exatamente isso que somos: descartáveis. — Depois de tudo, quando você já está preparado para a escuridão, ela decide que você não vale a pena e a deixa para trás. Você sente agonia, sente definhar e… apaga.

Quando acorda, tudo dói e queima. É como se tivesse sido jogado em cima de uma cama de pregos e não bebesse uma gota de água a décadas. É isso: uma cama de pregos no meio do deserto. Não sei ao certo se Lorenzo fez uma boa escolha com esse apelido, afinal, nunca vi ele desistir de matar ninguém. Ele é o tipo de morte que vem para isso, para exterminar da face da terra quem quer que seja enquanto sua sócia assiste e espera ele fazer o trabalho por ela.

Lorenzo. Começo a pensar. Ele deve estar vivo, já que eu, que fui baleada, pulei junto com ele e estou viva. Forço-me a abrir os olhos, enxergo uma sala branca, uma mulher de branco ao meu lado, tirando uma das agulhas que estavam enfiadas em mim, no meu braço esquerdo. Se ele morresse, ou eu estaria longe dos perigos do casamento, ou estaria sujeita a ser obrigada a me casar com outra pessoa. Um velho rabugento, um homem sociopata ninfomaníaco, não sei. Então é melhor que ele não esteja morto. Só não sei se estou desejando isso pelos motivos certos.

— Cadê o meu… — tento falar. Mas não é a boca seca que me impede de dizer as palavras. — Meu… hum… — engulo em seco. Muito seco. Minha garganta dói muito.

— Seu noivo? — ela completa. Aceno levemente com a cabeça. — Ele está bem, já recebeu alta. Você dormiu por mais de cinco dias, a pancada na cabeça e nas costas foi forte e você perdeu muito sangue. Retiramos o projétil do seu ombro, o seu médico vai vir conversar com você. — Ela avisa, antes de deixar a prancheta em cima da mesa e colocar outro soro conectado ao tubo da agulha que está enfiada no meu braço direto, para depois se retirar.

Então espero por meu médico. A propósito, o mesmo médico da família do Giovanni, uma vez que o antigo médico da nossa família de aposentou. Ele já cuida de nós há mais ou menos um ano, mas nunca cuidou de um tiro meu, já que nunca levei um. Eu sempre estive preparada para me ferir, só nunca dei espaço para que acontecesse. Ser baleada é estranho, você não sente nada e, quando a bala atinge o seu corpo, você continua sem sentir nada porque seu sangue está quente, a adrenalina está correndo por suas veias, mas você de repente toma um choque de realidade. Você levou um tiro, seu subconsciente avisa. Está sangrando, grita, você não pode perder mais que dois litros de sangue, senão você morre, está exasperado, sacudindo seu cérebro. VOCÊ NÃO PODE MORRER! Lhe acorda, e você cai na real. Você não pode se dar ao luxo de entrar em desespero se quiser viver, mas se concentra na dor mesmo assim. Respira, respira, e tudo dói. A dor se espalha, e é terrivelmente desesperador, e você nem pode gritar. Pelo menos eu, não posso me dar ao luxo de gritar, nunca pôde.

Paixão MortalOnde histórias criam vida. Descubra agora