|| CAPÍTULO QUARENTA E OITO ||

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	Quando me preparo para soltar a flecha em direção ao arco, o choro da Andrea me distrai, fazendo o tiro sair pela culatra e atingir a parede invés do centro do alvo

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Quando me preparo para soltar a flecha em direção ao arco, o choro da Andrea me distrai, fazendo o tiro sair pela culatra e atingir a parede invés do centro do alvo. Ela está com a Scarlett, que me encara com compaixão, vendo o quanto a falha me deixa frustrada. Não aceitei deixá-la com uma babá e nem deixá-la em casa para voltar aos treinos, então minha cunhada aceitou me acompanhar. Contudo, estou sempre em alerta máximo, ciente de cada respiração da minha filha, que acabou de completar três meses.

Escolhi o nome do meu irmão não só como uma forma de homenageá-lo, mas porque o seu nome significa “poderosa” e é isso que ela será. Poderosa, forte, como a mãe e as tias.

Melanie e Jade não me falaram sobre como é difícil entrar em forma depois do resguardo, ou como apenas quatro meses sem treino nos deixa enferrujadas. Estou a vinte minutos na sala de treinamento e sequer consigo me concentrar direito ou mirar no alvo. O disparo mais próximo que consegui chegar do alvo foi o último círculo, o que não me acontecia desde quando aprendi a atirar.

— Posso ir passear com ela? A Melanie está lá em cima… — pergunta a Scar e eu franzo as sobrancelhas em preocupação. Eu não fiquei longe da minha filha um dia sequer desde o dia em que saímos do hospital. — Eu prometo cuidar dela, Kiara. Você precisa respirar, não vai se concentrar se estivermos aqui. Ela está bem, de barriga cheia, fralda trocada e sem sono. É só uma cólica, é normal. — Explica ela, e realmente acredito em sua opinião. Ela já tem dois sobrinhos e ajudou a cuidar das meninas da Jade também, ainda ajuda, para falar a verdade.

Mas é estranho a forma como nós transformamos em uma leoa quando se trata de nossos filhos. Eu tenho sentido tanto medo de colocá-la em risco, ser condescendente ou negligente com minha filha, que acabo perdendo o controle do aceitável.

— Pode ir, Scar. Eu converso com a Kiara. — Lorenzo entra na sala, enfiando as mãos no bolso da calça, com um sorriso puxando o canto do seu lábio. Ela acena com a cabeça, mas me espera concordar antes de sair. Quando acabo cedendo, ela dispara para fora com a Andrea nos braços. — Você precisa relaxar, querida. Se escolheu trazê-la, precisa confiar nesse lugar que, diga-se de passagem, é uma fortaleza. O CT está quase vazio e o Mattia, a Jade, a Melanie e o Giovanni estão aqui. E nós. — Suas palavras são afirmativas, graves, como se ditas apenas para me causar confiança.

E sei que é tudo verdade, então me obrigo a relaxar os ombros. Lorenzo voltou a treinar há um mês, mas é claro que foi mais fácil para ele. Ele não foi dilacerado pela vagina ou tirou da barriga um bebê de quatro quilos. Ele não precisou amamentar a ponto de perder cinco quilos ou teve anemia pós parto. Eu, sim. O meu resguardo não foi fácil como o das meninas. Ninguém me avisou sobre esses riscos, além da médica, é claro, que é uma fonte científica confiável. Mas não é mãe. Nem é mafiosa. Nem precisa saber se defender fisicamente para viver. E se eu desaprendi a usar as armas?

— Não está conseguindo acertar? — Lorenzo pergunta, encarando o meu fracasso por cima dos meus ombros, sem saber o quanto suas palavras me atingem, como um tapa.

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