Passei mais cinco dias internada. Foi insuportável, a comida do hospital é horrível e ninguém veio me visitar além de Andrea. Não os julgo, estou brigada com todos e disse que não queria a presença de ninguém aqui. Lorenzo também não veio mais desde que eu acordei e hoje estou indo para casa sozinha. Um motorista me buscou, já que não posso dirigir com uma tipoia no braço. Me sinto uma inválida.
Hoje é aniversário de Mirella e resolvi que quero ir. Todos estarão lá e preciso… fazer as pazes. Ninguém realmente tem culpa do que decidiram para mim, mesmo que me contassem, não mudaria o fato de que eu teria de me casar e já podia até ter acontecido, se eu soubesse antes. No final, só quero encontrar um culpado por ter arruinado minha vida, por ter ferido todos os meus ideais e me obrigado a isso. Mas a verdade é que não tem culpado, ninguém é culpado pela minha miséria, ninguém é culpado por eu ter nascido mulher.
Ou todos são culpados. A sociedade é culpada, a máfia é culpada, por só achar uma mulher na famiglia aceitável se ela estiver casada. Se tiver uma aliança no dedo, filhos para criar, um marido para satisfazer e disponibilidade para organizar eventos e fofocar com outras mulheres.
De volta a minha casa, subi para guardar os remédios na minha gaveta, afinal, tomarei antibióticos por mais algum tempo. Luigi recomendou que eu desse uma "pausa" nas bebidas e drogas. Não tem ninguém em casa, Andrea teve de viajar ontem a noite, depois de me visitar, então eu pego papel filme para tentar cobrir a tipoia, já que tirar seria pior, para conseguir tomar banho. Faço o melhor que posso, ajeitando o plástico de frente ao espelho. Estava de vestido solto, para facilitar quando eu precisasse tirar sozinha, mas odeio a roupa.
Meu braço lateja a cada movimento básico e isso me deixa furiosa. Eu me sinto irritada, irada pelo fato de que me deixei ser baleada por estar, hipoteticamente, mais lenta por causa dos alucinógenos. Então, para aliviar o meu estresse e neutralizar a dor, tiro da gaveta um dos comprimidos que me receitaram. Irônico o fato de que eles me dão drogas para tratar algo que culparam as drogas de me causar.
Ligo a ducha com a mão boa depois de me despir e tento ao máximo não deixar a tipoia debaixo da água, me lavando e tentando lavar os cabelos. Demoro quase uma hora no banheiro para conseguir me virar, e quando saio me enrolo na toalha, pego o secador no armário da pia e coloco em cima do mármore, encarando ele e o pente como se fosse um bicho de sete cabeças.
Alguém me tira dos meus devaneios, batendo na porta do quarto. Penso ser algum segurança e vou atender para saber se aconteceu algo, segurando a toalha para não cair. Quando abro a porta, dou de cara com Lorenzo, vestindo calças jeans e camisa polo, e sapatos casuais.
— O que você tá fazendo aqui? — pergunto. Afinal, ele não fez questão de aparecer no hospital depois que acordei.
— Seu irmão avisou que teve que viajar e que você ficaria sozinha em casa. Pensei que podia precisar de ajuda — ele dá os ombros, indiferente. — Mas pelo visto está se saindo bem.
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Paixão Mortal
RomanceSeria irônico que uma pessoa que odeia casamentos e sempre deixou claro que nunca, em hipótese alguma, se casaria com ninguém, fosse obrigada a se casar? Kiara sempre teve aversão a relacionamentos - a relação de seus pais a convenceram de que essa...