Ele saiu daquele corredor como se nada tivesse acontecido, falou que queria ir embora pois queria ter tempo de se despedir de mim antes de viajar. Não tocou no assunto sobre a aproximação com a Rosa no corredor e meu orgulho também não me permitiu perguntar. Talvez eu seja a única culpada pela minha falta de sono. Fingi estar dormindo quando Lorenzo saiu do banho e veio me visitar em meu quarto, ele se deitou ao meu lado e pegou no sono enquanto fazia carinho nas minhas costas. Quando finalmente abri os olhos, só conseguia enxergar as mãos da Rosa em seu peito, e mesmo vendo ele tirar, ela continuou falando algo que eu não conseguia ouvir de tão longe, e não sei o que deve ter acontecido em seguida pois não fiquei para ver.
Essa é a maior vantagem das paranoias. Quando somos orgulhosos o suficiente para não procurar saber o que realmente aconteceu, ela se aproveita da situação e implanta cenas fantasiosas na nossa cabeça. Depois que saí, ele não demorou cinco minutos para aparecer, mas ainda assim sinto as paranoias de infiltrando na minha cabeça como um vírus.
Sai de fininho do quarto, coloquei uma calça e um casaco de moletom, peguei meu arco e uma aljava de flechas e andei sozinha por quase trinta minutos até o topo da montanha onde os meninos treinam. É claro que comuniquei aos seguranças do turno, mas a montanha é privada para a família e cercada por todos os lados, não se faz necessária a companhia de nenhum.
Os calos em meus dedos são as únicas provas das duas horas atirando em um alvo já gasto. O vento corta o topo da montanha e faz meus dedos doerem, ferindo-os contra o material frio. Arranco mais uma flecha do alvo e viro-me para voltar ao posto quando vejo Lorenzo se aproximando ao longe.
Sabia que ele sentiria minha falta mas não achei que ele viria até aqui me procurar.
— Posso saber porque saiu da cama de madrugada para vir até aqui? Está frio... — Uma trovoada repentina interrompe sua fala. — E vai chover. — Ele cruza os braços. Está de regata e calça moletom.
— Estava afim. — Respondo, dando os ombros. Coloco a flecha no arco e viro-me para o alvo de novo. — Pode ir para casa, não preciso de companhia. — Respiro fundo e miro para atirar.
— Está estranha, Kiara, o que houve? — Indaga ele, tirando a minha concentração. — Sabe que pode falar comigo, não é? — Ele para a uma distância de quase três metros. Dou uma risada fria.
— Você também pode. — Dou os ombros.
— Do que você está falando? — Ele pergunta com a voz confusa, anasalada.
— Não sei, Lorenzo... — Suspiro. — Da Rosa quase beijando você, talvez? Digo quase, pois não fiquei para ver o final... não queria o conselho em cima de mim depois que eu matasse os dois. — Encaro-o por cima do ombro com um sorriso falso, apertando os dentes.
— Ela não me beijou. — Lorenzo suspira. — Se tivesse ficado, teria visto que a afastei, que deixei claro que ela devia parar. — Ele enfia as mãos no bolso. — Para quem diz não sentir ciúmes, isso parece ter lhe abalado bastante.
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Paixão Mortal
RomanceSeria irônico que uma pessoa que odeia casamentos e sempre deixou claro que nunca, em hipótese alguma, se casaria com ninguém, fosse obrigada a se casar? Kiara sempre teve aversão a relacionamentos - a relação de seus pais a convenceram de que essa...