|| CAPÍTULO QUARENTA E SEIS ||

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Alguns anos antes…

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Alguns anos antes…

Consigo sentir o cheiro familiar dela nas minhas narinas.

A morte.

Tão comum para mim desde que me entendo como gente. A morte já faz parte da minha história. Viver não deveria ser sobre morrer, deveria? No fim, acho que tem sim tudo haver. Aproveitar cada respiração até que não reste mais nenhuma. Inevitavelmente, a hora de todas chegam, não importa quão cedo ou quão tarde, a morte é a única certeza que temos. Principalmente aqui, no submundo da máfia, onde estamos em alerta não só a nossa respiração, mas a de todos ao nosso redor.

O gosto ferroso de um sangue, que não é meu, cobre os meus lábios. O meu tio caiu para trás com um tiro certeiro que saiu pela sua testa e fez espirrar sangue em meu rosto. Seguro a blusa rasgada como se fosse me proteger de alguma coisa. Eu me sinto impotente. Consegui afetá-lo com um chute no meio das pernas, pois sem nenhuma arma por perto, o combate corpo a corpo — o qual não sou tão boa — foi a única coisa que me sobrou. Ele cambaleou, mas quando se recuperou, estava tão furioso que rasgou a minha blusa com um único puxão, expondo meus seios.

Sua luxúria e fúria cegaram às suas costas. Ele não viu meu irmão se aproximar de fininho e mirar uma arma em sua cabeça. Andrea estava esperando a hora certa; queria o aval do conselho para executá-lo, fazer tudo como exige os mandamentos. Mas uma tentativa de estupro que usurparia  a minha honra era a desculpa perfeita para se livrar das burocracias. Andrea acabara de completar dezoito anos e, se não agisse rápido o suficiente, iria morrer tão rápido quanto.

Meu olhar terrífico se levanta até encontrar os olhos do meu irmão, que me encaram de volta cobertos de preocupação. Ele, ao contrário de mim, nunca teve medo de demonstrar fraqueza, amor e preocupação. De alguma forma, ele aprendeu sobre essas coisas sozinho, me usando como pilar, e embora eu precise admitir que ele é tudo que eu tenho, não consigo expor meus sentimentos além de deixar que ele me abrace com alívio exposto em cada respiração.

Como eu me sinto? Se estou assustada por quase ter sido estuprada? Por ter me deparado com uma situação da qual já vi a minha mãe submetida tantas vezes e prometi a mim mesma que nunca aceitaria nada igual, pelo menos não quieta? Se amaldiçoo minha família por ter me criado no meio da máfia e não me dado escolha de sair dessa? Se amaldiçoo Andrea por não me mandar para longe daqui desde que fui encontrada ao lado dos meus pais mortos aos sete anos?

A resposta é nenhuma dessas coisas. Eu me sinto furiosa. Eu me sinto arrasada por não tê-lo matado primeiro. Andrea fez isso por mim, mas eu só precisava que ele se aproximasse mais um pouco e usaria a única coisa que estava ao meu alcance. Um grampo de cabelo de seis centímetros, que eu pretendia enfiar em sua garganta, perfurar sua veia jugular e vê-lo sangrar até morrer. Ter outra pessoa para fazer isso não me causa a mesma satisfação. Contudo, sussurro um obrigada a Andrea mesmo assim, e permito-me respirar fundo.

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