Tento não encará-lo enquanto dançamos, e não reparar nas mãos dele em mim, ou em sua respiração em meu pescoço, ou no seu calor corporal.
Suas palavras reverberam em minha mente, assim como o beijo que veio logo depois. É insuportável a forma como nos encaixamos, como as mãos dele parecem perfeitas em meu corpo e a sua boca parece ideal para a minha, a sincronia que nossas línguas partilham, a dança erótica e sensual.
— No que está pensando? — ele pergunta no meu ouvido, tirando-me dos meus devaneios. Um arrepio indesejado percorre a minha coluna.
— Quer entrar até nos meus pensamentos agora? — arqueio a sobrancelha, mesmo sabendo que ele não pode ver. Lorenzo emite um som indiferente.
— Um pensamento por outro? — pergunta ele, deslizando a mão pela base da minha coluna. Eu lhe dou uma risada de escárnio.
— Nós não somos mais dois adolescentes, Lorenzo, devia saber disso. — Inclino a cabeça para o lado e encaro-o de soslaio.
— E eu sei — dispara ele. — Por isso espero que seja sincera. — Ele afasta o rosto para me encarar. Hesito um pouco, mas resolvo entrar no seu jogo.
— Primeiro você, então. — Decido.
— Estou pensando naquele caderno que deixei para você quando…
— Quando foi embora depois de me fazer de brinquedo? — Abro um sorriso sarcástico.
— Quando viajei para os Estados Unidos. Sim, Kiara, você por acaso chegou a ler? — ele arqueia as sobrancelhas.
— Na verdade, não. — Faço uma careta. — Não queria ter nada que me lembrasse de você. — Dou os ombros, deixando-me ser guiada por ele na dança.
— Hm — ele soa indiferente. — Agora você.
— Agora que tocou no assunto, estou pensando no primeiro poema que fez para mim — resolvo dizer. — Ele está guardado até hoje dentro desse caderno, mas nunca mais o li.
— Então ainda guarda o caderno, apesar de não ter lido? — ele indaga divertido. Reviro os olhos e ele me faz girar.
— Lhe dou uma verdade verdadeira se você me der outra de volta. — Negocio com ele. Lorenzo arqueia o canto do lábio e balança a cabeça em concordância. — Guardei o caderno porque aquela época foi a melhor época da minha vida. É uma lembrança boa, mas gosto de lembrar dela pelo que ela é: passado. — Conto sem rodeios. Ele suspira e parece prender a respiração.
— Naquela época, eu odiava você tanto quando você me odeia agora. — Conta ele, prendendo os lábios entre os dentes.
— Odiava, é? Creio que seja muito diferente… — junto às sobrancelhas, um pouco confusa.
— Sim, é diferente. Eu odiava você por não poder amá-la por inteiro. E acredito que você me odeie, por já ter me amado um dia. — Reflete, me deixando sem palavras. Por acaso eu posso negar o que foi sempre tão óbvio para nós dois?
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Paixão Mortal
RomanceSeria irônico que uma pessoa que odeia casamentos e sempre deixou claro que nunca, em hipótese alguma, se casaria com ninguém, fosse obrigada a se casar? Kiara sempre teve aversão a relacionamentos - a relação de seus pais a convenceram de que essa...