Já era de se esperar que eu tivesse que usar maquiagem na manhã seguinte, quando as olheiras estavam gritando embaixo dos meus olhos. Lorenzo já tinha saído quando eu fui tomar café, a mesa estava posta e Ginevra estava tirando da mesma os pratos que ele usou.
— Bom dia, querida — comprimentou ela, sorrindo. — Sente-se, vou colocar seu café.
— Bom dia, dona Ginevra. Eu agradeço, mas posso colocar o meu próprio café e…
— Não se incomode — ela me cortou quando me sentei e já começou a amontoar meu prato com pães e bolos. — Lorenzo me disse algumas coisas que sabe que você gosta. Posso me sentar aqui para conversarmos? — ela apontou, cautelosa.
— Claro. Obrigada… — Agradeci enquanto ela enchia meu copo de capuccino. Se Lorenzo a trata como se ela fosse da família, eu não faria diferente. — O que você quer conversar?
— Você e o garoto Lorenzo são amigos de longa data, não é? — indagou ela, desconfiada. Hesitei antes de confirmar. — Cuido desse menino desde que ele tinha dezenove anos, vi a barba crescer e vi as coisas horríveis que o pai dele o obrigou a fazer, mas ele sempre sorria quando falava de você. — Contou. Engoli em seco enquanto a ouvia.
— Ginevra, eu…
— Mas quem é essa velha aqui para opinar? O pai da minha filha me abandonou assim que soube da gravidez e eu a criei sozinha. Mas nunca entendi esses joguinhos de desinteresse que os jovens fazem. — Ela apoia um dos punhos no queixo e eu arquejo.
— Não estou fazendo joguinho nenhum! — Minha voz sai esganiçada e minhas bochechas esquentam. — E não estou interessada nele. Eu… esse casamento foi algo que nos obrigaram a participar, por conveniência. — Respirei fundo e voltei os olhos para o meu prato.
— Sei de mais coisas do que parece. — Ela retrucou. — E ele também não vai admitir o que sente de verdade, ainda que às vezes falhe em esconder. O menino irá tentar esquecer você, e como será nos anos que se seguirem? Não vão olhar um para cara do outro vivendo sob o mesmo teto? A vida de vocês não é comum como a das outras pessoas, então vão ficar nessa, fingindo que não ligam um para o outro e fingindo que nada nunca aconteceu no passado quando não sabem o que pode acontecer amanhã? Ele mesmo foi lá organizar aquela festinha e…
— Ele foi o que? — indaguei. Ginevra arregalou os olhos e me encarou como se tivesse falado besteira.
— N-nada, menina, eu me confundi. — Ela levantou e fez menção de ir para a cozinha.
— Não não não. O Lorenzo vai fazer uma daquelas orgias no barco hoje? — indaguei. Ouvi quando ela puxou uma grande lufada de ar para dentro dos pulmões e virou-se para mim.
— Quer saber? não sou baú para guardar segredo! Ele resolveu fazer uma daquelas festinhas hoje, ouvi ele falando no telefone pela manhã sobre a limpeza e arrumação do tal barco! E eu tenho certeza que é para tirar você da cabeça… — ela brincou com os próprios dedos, nervosa e fazendo uma careta estranha. Bufei de raiva e voltei para o meu prato.
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Paixão Mortal
RomanceSeria irônico que uma pessoa que odeia casamentos e sempre deixou claro que nunca, em hipótese alguma, se casaria com ninguém, fosse obrigada a se casar? Kiara sempre teve aversão a relacionamentos - a relação de seus pais a convenceram de que essa...