|| CAPÍTULO VINTE E TRÊS ||

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Dois dias até o casamento, dois dias até que todos saibam que a Kiara será minha para o resto das nossas vidas, algo que eu sempre desejei, entretanto, tudo que fiz faltando dois dias para isso acontecer, foi me esconder no quarto e inventar um re...

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Dois dias até o casamento, dois dias até que todos saibam que a Kiara será minha para o resto das nossas vidas, algo que eu sempre desejei, entretanto, tudo que fiz faltando dois dias para isso acontecer, foi me esconder no quarto e inventar um resfriado que não existe.

Foi Kiara, que com apenas sete anos, abriu meus olhos para o mundo. Foram os olhos da Kiara que me encantaram quando eu, que era apenas uma criança com medo dos terrores da máfia e das cobranças do meu pai, e que queria me esconder do brilho de qualquer coisa e me afundar na escuridão, foram eles que brilharam pra mim. Foi Kiara que me mostrou que eu era capaz de tudo, era capaz de fingir, embora não fosse o que eu queria. Kiara me mostrou que dava para olhar para o meu pai e todos os outros de cabeça erguida, que eu podia me igualar a eles.

E eu não queria obrigá-la a isso. A se casar comigo, se não é o que ela quer, embora seja o que eu quero. Mas foi ela quem me disse um dia que temos que fazer o que tem que ser feito. E vê-la admitir que ela já quis se casar comigo um dia, que ela já me quis um dia, destruiu qualquer vontade que eu ainda tinha de subir naquele altar.

Porque ela queria, e é passado, ela não quer mais. Embora ela tenha entendido tudo o que aconteceu no passado de maneira errada, não está mais disposta a ouvir, e pelo que conheço dela, não tem como eu voltar atrás, ou fazê-la acreditar em mim.

Sempre me esforcei para ser o melhor, fazer o melhor, pois sempre fui o mais cobrado entre os meus irmãos, por ser o bastardo. Eu não era o prometido a uma garota, ou escolhido para missões de teste, ou o que participava de reuniões ao lado do Vicenzo, mas era o que tinha que ser melhor em tudo. O melhor em tiro com armas de fogo, o que tinha a melhor mira e a destreza impecável com armas brancas — que, diga-se de passagem, gosto de usar — ou o que melhor conversava em uma reunião. O mais duro, ou mais frio, ou por vezes o mais carismático.

Lorenzo Cassano, A Morte, deveria sempre usar a melhor máscara, a que melhor lhe favorecesse no momento. Eu nunca devia deixar meus sentimentos à mostra, pois isso era um sinal de fraqueza. Chorar era inaceitável, não importa se com cinco, oito, dez, ou treze anos de idade. Tenho marcado nas costas todas as penitências pelas minhas lágrimas derramadas. Meu apelido é A Morte porque, quando eu tinha treze anos, e viajamos até a Rússia enquanto uma guerra era travada, fui eu que matei dezenas ao lado do meu pai. Pois eu devia fazer o que tinha que ser feito. Mas com ela eu era só o Lorenzo, não era um Cassano, ou A Morte.

Ginevra entra no quarto carregando uma bandeja, e vejo que nela tem café e pãezinhos. Ela me olha de cara feia, e tenho vontade de me esconder embaixo das cobertas como uma criança acuada.

— Vai ficar escondido nesse quarto até quando? A menina Kiara já saiu do quarto, tomou café, está na sala e perguntou por você. — Ela indaga, colocando a bandeja na mesinha de centro.

— Perguntou? — ergo os olhos, talvez expectante demais com a notícia. — Fala pra ela que se eu sair do quarto ela vai se contaminar com meu resfriado — deixo o notebook de lado e afundo mais na cama.

Paixão MortalOnde histórias criam vida. Descubra agora