Quando acordo, estou sozinho no quarto de hospital. A última vez que estive aqui, também me lembro de acordar em cima de uma maca, sentindo dores e angustiado por não ter notícia dela, e mesmo depois desse tempo, a sensação de desespero pouco mudou.
A minha cabeça tem uma constante latejar de dor. Fraco e suportável, entretanto. O meu corpo parece bem melhor, dedilho meu rosto e reparo que está quase completamente desinchado, os cortes estão todos com curativos e a perna, enfaixada — essa é a única dor incomodante que sinto. — Acho que foi esse o momento que apaguei novamente, a hora que recebi o tiro do Paolo. Por isso, não consigo esperar alguém aparecer para saber se estou bem ou para me dar notícias. Vou atrás delas eu mesmo.
Desconecto os fios ligados ao meu corpo e o zumbido do monitor cardíaco faz minha cabeça doer um pouco mais, porém essa dor é esquecida quando me sento na cama e tento apoiar a perna do tiro do chão. Dor dos infernos. Já tive mais ossos quebrados do que sou capaz de contar e mais cortes no corpo do que qualquer um que conheço, mas nunca havia conhecido a dor de um tiro.
Entretanto, caminho mancando até uma das paredes onde tem duas muletas em um canto, apoio às duas e posso finalmente tirar o pé do chão. Vou até a porta e percebo um dos meus seguranças de vigia. Ele não se assusta com minha presença, apenas me lança um aceno respeitoso.
— Ótimo que acordou, senhor. Devo chamar as enfermeiras? — Pergunta. Balanço a cabeça em negação.
— Deve me dizer onde está a Kiara. — Exijo, me arrependendo do tom um tanto grosseiro. Apenas preciso de notícias dela.
— Ela estava aqui ainda a pouco. — Ele conta. — Se me permite contar, esse foi o único momento em que ela saiu daqui, obrigada pelo senhor Mattia a comer alguma coisa. — Explica. Dou um suspiro aliviado e agradeço mentalmente pelos meus irmãos.
Como se tivessem sido invocados, Mattia e Giovanni aparecem juntos no corredor, com copos de café nas mãos e conversando distraidamente sobre algo. Assim que me vê na porta do quarto, Mattia abre um sorriso cheio de dentes brancos. Quase consigo ver um pequeno sorriso se abrir nos lábios do Giovanni, junto ao brilho dos olhos acinzentados.
— La morte è tornata! ( A morte está de volta!) — Cantarola Mattia, vindo até mim e abraçando-me de lado. — Olha só, você sobreviveu a um dos maiores traumas de um homem… a tortura do amor… — Brinca, me ajudando a voltar para o quarto. Assim que me apoio na cama, Giovanni também vem me abraçar.
— Estou feliz que está de volta. — Ele diz, mais seco impossível. Mas sinto o sentimento de suas palavras.
Meu irmão ainda tem muitos muros a serem derrubados, embora Melanie e os gêmeos já tenham destruído a maioria deles. Ninguém, embora digam entender o que ele passou, realmente sabe como é estar na sua pele e ver tudo o que ele viu.
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Paixão Mortal
RomanceSeria irônico que uma pessoa que odeia casamentos e sempre deixou claro que nunca, em hipótese alguma, se casaria com ninguém, fosse obrigada a se casar? Kiara sempre teve aversão a relacionamentos - a relação de seus pais a convenceram de que essa...