|| CAPÍTULO TRINTA E CINCO ||

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Cada célula do meu corpo formiga de inquietação desde que abri o e-mail da clínica ontem

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Cada célula do meu corpo formiga de inquietação desde que abri o e-mail da clínica ontem. É verdadeiramente insano pensar que há outro ser humano crescendo dentro de mim como uma fruta que cresce em uma árvore. Não sei se quero saber se ele está saudável, se o seu coração está batendo como deve estar ou se sequer quero continuar com essa gravidez.

Estou grávida de seis semanas, um tempo ainda aceitável para um aborTo legal. Pesquisei sobre o progresso do embrião nesse tempo, o que o corpo já tem e não tem e descobri que sequer os órgãos já estão formados, o feto é acéfalo e o embrião não sente dor.

Entretanto, quando tento considerar a ideia de abortar, lembro-me da gargalhada infantil dos gêmeos, da esperteza da Mirella ou da forma que a Sophie aperta meus dedos com aquela mão minúscula, como se confiasse em mim.

Não sei o que fazer. A minha mente já está beirando a insanidade e o fato do Lorenzo ainda não ter me mandado mensagem, me deixa ainda pior. As inseguranças me corroem, ele não falou nada sobre ficar inativo e devia ter chegado aos Estados Unidos ainda ontem e dado notícias. Mas as minhas mensagens não estão chegando até ele e não tive coragem de perguntar nada aos seus irmãos.

— Vai ficar em casa hoje? — Pergunta Ginevra. Hoje é sua folga, então ela veste roupas normais, porém não saiu de casa ainda.

— Sim, a Jade vai vir aqui... com as crianças. — Engulo em seco, tirando os olhos da TV e checando mais uma vez meu celular em busca de mensagens.

Ginevra tira algo das costas e se senta ao meu lado. Reparo que é um álbum de fotos. Deixo o celular de lado e encaro curiosa o álbum de capa preta de couro. Ela tira a fivela e me encara com cautela.

— A única outra pessoa que teve acesso a esse álbum foi o Lorenzo. Na minha adolescência, a minha família não era rica, mas eu tinha acesso a coisas como uma câmera fotográfica. — Ela abre a primeira página e encaro-a apreensiva, mas não é uma foto que vejo. Está escrito "melhores momentos".

— São da... — ela prediz.

— Gravidez. E depois dela. Eu estava... com medo, estava triste pois não tive o apoio do meu pai ou do pai da criança. A minha mãe foi a única que ficou ao meu lado, mas houve um momento que sim, Kiara, eu pensei sim em abortar, mas não tive coragem. — Ela suspira. — E eu não pego esse álbum com frequência, é doloroso, porém quero que veja. — Ginevra o coloca em cima das minhas pernas.

Sinto minhas mãos meio trêmulas quando meus dedos tocam a capa fria. Quando passo a primeira foto, é em frente ao espelho, Ginevra veste uma blusa curta, os grandes cabelos cacheados e uma das mãos na barriga ainda pequena. Ela carrega um sorriso enorme no rosto e atrás da foto está escrito "dois meses de gravidez, dias depois que descobri você, princesa."

Há mais fotos do início da gravidez, registros do progresso lento do crescimento do bebê, fotos da ultrassom — que na época era uma porcaria — mas ainda assim, fotos. Fotos do primeiro vestido cor de rosa, o primeiro sapato, a expressão de choque do primeiro chute.

Paixão MortalOnde histórias criam vida. Descubra agora