|| CAPÍTULO TRINTA E SETE ||

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	Nunca gostei de lidar com incertezas

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Nunca gostei de lidar com incertezas. Sempre preferi as coisas sólidas, garantidas — talvez por isso a minha história com Lorenzo nunca tenha tido um ponto final, apenas vírgulas de uma escrita constante. Eu não tinha certeza se estava certa sobre ele, assim como não tinha certeza se queria realmente que ele saísse da minha vida.

Sentada na cama fria do hospital, o que mais me incomoda não são as injeções ou a agulha do soro espetada no meu braço. Ou sequer o transdutor que está sendo manuseado dentro da minha vagina pelo médico homem, o que torna tudo ainda mais desconfortável. Mas não, o que me incomoda é que o monitor de imagem não está no meu campo de visão e não sei se perdi ou não esse bebê.

O meu bebê.

E dele, a pessoa que me traiu pela segunda vez. Percebi que a vida é como o mar, nunca calmaria constante, sempre instável e cheia de mistérios. Não sei como ousei achar que estava tudo bem, acreditar que tudo finalmente ficaria bem.

Conheci um novo sentimento hoje. O da incerteza que vem de dentro. Não quero ser mãe, mas não tenho certeza se me sentiria melhor se a gestação fosse interrompida. Parte de mim anda tentando imaginar como seria minha vida com um filho — cujo pai, talvez eu mesma deva matar.

Um som rápido e ágil de batimentos cardíacos toma conta da sala, me fazendo arregalar os olhos. O médico levanta um pouco a cabeça para me cumprimentar e sorri. Quase não ouço suas palavras, concentrada demais no som que inunda o quarto.

— Seu bebê está bem. — É o que diz. Minha mão vai ao peito e suspiro aliviada.

Sinto como se fosse uma sentença, qual terei que conviver pelo resto da vida — mas não me atinge como algo ruim.

{...}

Graças a língua grande da Melanie, depois que passei mal a minha gravidez virou notícia pública entre os irmãos Cassano, que não demoraram a aparecer no hospital enquanto eu estava em observação. Nem sequer sabia que tanta gente podia entrar no quarto de uma só vez, quando Mattia, Jade, Mirella, Melanie, Giovanni e Pietra entraram pela porta — onde ficaram Sophie e Axel, não sei dizer.

— Titia Kiara! — As duas gritam e me alcançam juntas. Mirella sobe com ajuda da escadinha e Pietra na poltrona ao meu lado. — O seu neném está bem? — Pietra pergunta.

— Mamãe disse que ele deu um susto… — Mirella comenta.

— O bebê está bem. Mas e eu? Não ligam pra mim? — Faço biquinho. As duas riem e sobem devagar na cama para me abraçar.

— A gente sabe que você tá bem né, estamos vendo! — Diz Mirella, balançando a cabeça em negação e apoiando a cabeça em minha barriga.

— É uma menininha ou um menininho, titia? — Pergunta Pietra. Aliso a sua cabeça e dou risada.

— Ainda não dá para saber.

— Cadê o titio Lorenzo, hein? Ele não devia estar aqui? — Mirella reflete, batendo o dedo indicador no lábio. Qualquer resquício do sorriso desaparece do meu rosto.

— É, devia. — Eu murmuro. Melanie resolve intervir e se aproxima da cama, colocando a mão nas costas das meninas.

— Vamos parar de encher a Kiara de perguntas? Agora os adultos precisam conversar… — Ela ajuda as meninas a descerem. — Luca… você pode levar as meninas na brinquedoteca? — Ela pede ao segurança parado a porta. As meninas, animadas com a ideia, logo correm até ele.

— Se só os adultos precisam conversar, o Mattia não devia sair com as meninas? — Ironizo, numa tentativa de mascarar minha reação ao que Mirella disse.

— Engraçadinha — ele pesa as pálpebras na minha direção. — Então, presumo que também não conseguiu contato com o Lorenzo desde que ele viajou? — É uma pergunta retórica, pois ele não me espera responder. — Nós também não.

— Talvez devesse perguntar a prima de vocês. — Desvio o olhar para a janela, tentando fazer com que minha voz soe desinteressada. — Eles devem estar muito ocupados.

— Ela também não nos responde. E o combinado era que Lorenzo reportasse para mim tudo que estava sendo feito por lá assim que chegasse, e as mensagens sequer chegam no seu celular. Ele é irrastreável, então não é um meio viável de sabermos onde ele está. — Explica Mattia. Emito um som ceticista e pego meu celular na mesa ao meu lado, abrindo a foto que recebi e entregando na mão da Mel, que está mais perto de mim.

— Essas foram as notícias que recebi dele quando estava mandando mensagens para falar sobre a gravidez. — Melanie arregala os olhos e passa o celular para os outros. Quando os meninos veem, se entreolham cúmplices.

— O Lorenzo é maluco por você, Kiara, ele não faria isso, tem algo de errado. — Giovanni opina enfiando as mãos no bolso. Reviro os olhos. Jade dá um passo ao lado do cunhado.

— Acho que você não está encaixando as peças. Acha que Lorenzo faria isso mesmo? O ciúmes está cegando você. — Ela discute.

— Ele está incomunicável para todos. — Melanie insiste.

— Deve ser para tornar o sumiço mais convincente…

— Já chega, Kiara. — Giovanni interrompe entredentes. — Não finja que não conhece o meu irmão, ponha a porra da cabeça no lugar e enxergue o que há de errado nessa situação. Lorenzo nunca sumiria do mapa sem dar satisfações quando deveria estar resolvendo assuntos sérios nos Estados Unidos. Ele não faria isso por nenhuma mulher, além de você! — Ele esbraveja. Melanie se aproxima do mesmo, cruzando o braço no seu.

— Nós vamos tomar as providências de sua procura. — A voz do Mattia está diferente quando diz, fria e sombria. — Sem tornar a notícia pública. Pode não estar se importando com isso agora, mas eu ficaria feliz em ver meu sobrinho crescer com um pai. — Ele cerra o punho e o esconde debaixo do suéter. Abro a boca para responder quando meu celular vibra.

De novo, um número desconhecido.

Pensei em mandar o corpo dele de presente como fiz com todos os outros. Entretanto, percebi que não teria graça, preferi testar sua capacidade e esperar que nos encontre dessa vez.

Se for boa o suficiente, ele ainda estará vivo e deixarei vê-lo morrer.”

Todos estão olhando para mim quando levanto o rosto. Minhas mãos soam e meu estômago começa a revirar.

— É melhor começarmos logo.

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Paixão MortalOnde histórias criam vida. Descubra agora