Sempre gostei de grandes apostas. Eu e meus irmãos criamos uma tradição de sempre apostar em coisas banais valendo muito dinheiro. Dessa vez, eles apostaram o meu controle. Mattia apostou que não conseguirei prolongar a tortura, ficarei tão infurecido que deixarei a raiva me cegar a ponto de acabar com tudo rapidamente. Giovanni apostou que eu conseguirei ser frio, irei me deleitar do sofrimento da pessoa que causou sofrimento a mim e Kiara. Irei fazer juz a fama da Cosa Nostra por sempre vingar quem ousa nos enfrentar.
Dessa vez não participei da aposta. Quero tanto colocar minhas mãos no Paolo que nem eu sei como irei me controlar durante esse tempo. O carro estaciona em frente ao galpão e a Kiara já está em frente ao mesmo, me inspirando a dar uma longa respirada funda para acalmar os nervos. O couro fica tão bem nela, é como se fosse o tipo de roupa criada para a Kiara. Fica bem nela como não fica em qualquer outra pessoa. A presença dela aqui talvez me sirva de controle. Tê-la me assistindo, como antigamente, talvez me ajude a prolongar o sofrimento do Paulo.
— Vamos acabar com isso de uma vez. — Ela diz quando paro em sua frente, colocando as mãos no meu rosto. Dou um beijo estalado em sua boca e seguro em seus braços, balançando a cabeça em concordância.
Anseio pelos dias de paz, mesmo duvidando que haja essa possibilidade. Algo me diz que ainda tem mais alguma coisa para acontecer, mais forças a serem colocadas em linha de fogo.
O galpão foi reformado. Achamos por bem deixar o local melhor iluminado, limpo e arejado. Não pelos direitos humanos das vítimas que trazemos aqui, é claro, mas notamos que o risco de nos infectarmos com qualquer tipo de sujeira feita pelas torturas anteriores era maior.
Paolo irá inaugurar o lugar.
Ele está pendurado por correntes, exatamente como eu fiquei. Como um porco no abate. Antes de acordá-lo, caminho com calma até os armários de vidro postos no canto da sala, com todos os tipos de utensílios de tortura possivéis. É difícil decidir como começar, como continuar e como terminar. Kiara se senta em uma poltrona posta no canto, confortável, colocada ali justamente com a finalidade de acomodar telespectadores. Escolho uma coisa ou outra para colocar no carrinho hospitalar e arrasto até o Paolo. Ele se remexe e acorda. Kiara o encara com ódio mortal e eu abro um sorriso falso.
— Acordei você? — Idago. — Perdão, eu tinha planos de como fazer isso. Acho que preciso colocar novos carrinhos em pauta na próxima reunião. — Coloco as mãos na cintura. Mesmo levantar a cabeça parece difícil para ele. O rosto desfigurado de socos sarou um pouco. Os cortes feitos pela Kiara, nem tanto, mas cuidei de que não deixassem infectar. Não queríamos que ele morresse antes que eu colocasse minhas mãos nele.
— Você parece mal, Paolo — Kiara estala a língua e bate palmas para chamar os seguranças. — Coloquem ele na maca, ele parece cansado de ficar em pé. — Fala em tom de deboche. Me afasto alguns centímetros para deixar que façam o que ela pediu. Quando prendem as pernas e braços dele na maca, me aproximo novamente.
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Paixão Mortal
RomanceSeria irônico que uma pessoa que odeia casamentos e sempre deixou claro que nunca, em hipótese alguma, se casaria com ninguém, fosse obrigada a se casar? Kiara sempre teve aversão a relacionamentos - a relação de seus pais a convenceram de que essa...