|| CAPÍTULO TRINTA E SEIS ||

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17 ANOS ANTES…

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17 ANOS ANTES…

Aqui, parece ser proibido sentir a dor do luto. É inadmissível que mesmo um filho fique mais de uma semana sofrendo pela morte dos pais. Lembro-me de reparar na mãe dos irmãos Costa, lembro-me de achá-la doce como a minha mãe adotiva é e a minha mãe biológica seria caso tivesse tido chance — ou pelo menos gosto de acreditar que ela me amaria assim.

Contudo, o mais velho dos irmãos Costa foi obrigado a engolir o choro e ajudar o tio — que será o regente da famiglia até que ele complete dezoito — isso se não houver um daqueles atentados de traição cujo traidor nunca é desmascarado mesmo que seja óbvio e todos saibam quem foi. Engraçado pensar que o submundo consegue ser mais clichê que os contos de fadas. Ouvi, entretanto, que a mais nova dos irmãos não abre a boca para dizer uma só palavra desde que foi encontrada sozinha ao lado dos pais mortos.

O que andam dizendo por aí é que o pai — tão psicopata quanto o meu — atirou na mãe, e que antes de morrer ela atirou de volta. Os dois corpos foram encontrados na sala de estar, junto a duas pistolas, e a Kiara Costa estava deitada no chão com a cabeça apoiada no peito ensanguentado da mãe, chorando. Deve ser algo traumático para uma menina de sete anos, de fato.

A casa deles é tão espaçosa e ornamentada quanto a da minha família. O bom disso é que há cômodos demais aos quais posso escolher para me enfiar e recarregar a minha bateria social — que parece ser consumida mais rapidamente quando estou no meio dessas pessoas. Ando entre os corredores procurando por um quarto aberto e vazio que eu possa ficar sem ser incomodado por ninguém.

Entro em um quarto aparentemente feminino, mas não como o quarto de Mariá, cheio de bonecas e brinquedos espalhados. Nesse quarto não há dezenas de bonecas, apenas algumas em uma prateleira, não há brinquedos espalhados pelo chão ou roupas sujas, há apenas uma mesa de estudos. Olho ao redor, percebendo ser o quarto da Kiara, e me perguntando se o motivo do quarto cor de creme ser tão monótono era o pai cruel dos Costa.

Sendo assim, foi melhor que morresse, então.

Distraído, não percebo a presença no canto entre a mesa de cabeceira e a parede. Kiara Costa está escondida, os joelhos perto do peito e os braços abraçando as pernas, os cabelos castanhos escuros com cachos espessos cobrindo o rosto manchado por lágrimas secas.

Observo o vestido alegremente colorido em que enfiaram a menina. Com borboletas e bordado na barra. Uma jaqueta jeans esconde seus braços e nos pés, uma sapatilha branca. Não combina com ela, a roupa, Kiara parece ser o tipo de criança sem o espírito infantil que todas tem que ter — não que seja culpa dela não ter isso. Provavelmente, lhe foi tirado assim como foi tirado de mim.

Ela está me lançando um olhar mortal. Aquele tipo de olhar que ameaça sem precisar de uma frase verbal, aquele tipo de ameaça que lhe desafia a dar mais um passo e morrer. Ela franze os lábios e cerra os punhos em cima dos joelhos, o brilho castanho dos olhos refletindo contra a luz da janela.

Paixão MortalOnde histórias criam vida. Descubra agora