O helicóptero nos deixou na casa da ilha particular da família Cassano. É quase tudo de vidro e pedras escuras. Tem uma montanha no meio da ilha, cercada de uma linda vegetação. Na nossa frente, o mar azul e infinito. Teremos que ficar uma semana aqui, então eu quero aproveitar o lugar já que aproveitar o meu marido não é mesmo uma opção.
Não é uma opção que eu queira, acho que vale ressaltar.
Lorenzo desce as escadas, tirando a gravata e o blazer. Tiro a arma e a faca do coldre que estava escondido na minha perna embaixo do vestido e me apoio no balcão do bar observando a vista calma por trás da parede de vidro, sem prestar muita atenção na sua presença nas minhas costas.
— Kiara, precisamos conversar. — Ele diz. Encaro-o por cima do ombro e vejo que se senta numa poltrona.
— O que temos para conversar? — eu pergunto. Os olhos dele estão nas costas nuas do vestido, na minha tatuagem exposta na lombar.
Sei que entende o significado.
— Sobre o que aconteceu no passado. Você acha que sabe o que aconteceu, mas não sabe, hora ou outra terá que me ouvir. — Ele gesticula. Contorço a mandíbula e aperto o cano da adaga com força.
— Não, Lorenzo. Eu não estou mesmo afim de falar disso… — balanço a cabeça.
— Você vai ouvir o que eu tenho a te dizer nem que eu te amarre numa cadeira, Kiara… — ele insiste. Suspiro pesado, já começando a me irritar. — Por favor, colabora, porra… — viro-me na direção dele, surpresa com a audacia da sua voz, segurando a minha adaga.
— Quer falar sobre o que aconteceu? Vamos lá, eu lhe ajudo a refrescar a memória. Você disse que gostava de mim, você me beijou, íamos transar se não fosse o bendito Andrea ter batido na porta! Louvado seja ele, não é? Porque no dia seguinte, você apareceu no salão de mãos dadas com a Rosa, assumiu o relacionamento com ela na frente de todos e no final da noite entrou naquele maldito carro e foi para os Estados Unidos sem nem olhar na porra da minha cara! — Digo, entre os dentes. — Foi isso que aconteceu.
— Não, não foi. Eu tive os meus motivos, por favor… — eu interrompo, arremessando a adaga na sua direção. Lorenzo, de olhos arregalados, desvia com destreza e a adaga perfura a poltrona.
— Teve os seus motivos? — esbravejo. — Não pensou em falar os seus motivos enquanto estava me agarrando em cima da porra da sua cama, cazzo? — Lorenzo também impunha sua adaga, mas não faz menção de arremessar.
— Estou disposto a falar agora, gostaria que você calasse a boca e me escutasse, cazzo! — ele se altera, se levantando. Emito um som agudo, me aproximando da poltrona e arrancando a adaga de lá, pronta para pelo menos fazê-lo sentir na pele apenas metade da dor que senti naquele dia no peito. Ele faz posição de ataque e balança a cabeça. — Eu não quero estragar o seu vestido, mas também não quero mesmo morrer hoje, querida — ele arqueia as sobrancelhas, sugestivo. Dou uma risada fria antes de avançar em sua direção.
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Paixão Mortal
RomanceSeria irônico que uma pessoa que odeia casamentos e sempre deixou claro que nunca, em hipótese alguma, se casaria com ninguém, fosse obrigada a se casar? Kiara sempre teve aversão a relacionamentos - a relação de seus pais a convenceram de que essa...