Borges
Caminho em direção ao meu copo com água gelada e viro na minha boca, ouvindo os passos da minha mãe atrás de mim.
Rosa: Filho, eu acabei de acordar ouvindo o barulho de quando você chegou, tá tudo bem?
Bebo da água, esvaziando todo o copo, quando termino coloco em cima da bancada da cozinha e olho pra minha mãe com o rosto de sono, pelo horário ser madrugada ela tava dormindo.
Eu: Tô tranquilo, mãe, só queria falar com meu pai, ele tá aqui?- ela nega e se senta na mesa da cozinha- eu espero ele chegar, preciso falar com ele.
Depois de uns minutos eu vejo meu pai aparecer na sala de casa, com a arma na cintura, ele tira ela do coldre e coloca no suporte da televisão, vindo em minha direção abrindo os braços pra falar comigo.
Jorge: Tá tarde pra caralho pra tu tá aqui me esperando pô, a porra da tua mãe me ligando uma hora dessa e eu tive que sair da boca nas pressas só pra falar contigo- ele aponta o dedo pra mim e eu me levanto pra falar com ele- só porque é tu, sabe como teu pai te ama, dá aqui um abraço.
Sem falar nada eu continuo imóvel, fico puto pra caralho com a forma que ele se refere a minha mãe, ele é um merda com ela, na verdade com todo mundo, menos comigo. Ele se aproxima e passa os braços pelo meu corpo em um abraço apertado, retribuo e quando me afasto, vejo o sangue escorrendo pelas minhas mãos e o meu pai caído no chão, nesse momento eu escuto os gritos da minha mãe no chão chorando, meu coração acelerado e a mente bagunçada sem entender nada, no chão o sangue vai se espalhando...
Acordo no susto com mais uma noite seguida de pesadelo, sinto a boca seca e o suor formado na minha testa. Respiro fundo tentando relaxar e focar pra não ter crise de ansiedade no meio da madrugada. Tá foda pra caralho esses dias, não sei mais o que fazer pra ter um sono tranquilo, só me fodo, papo reto, loucura da porra.
Pego meu celular olhando as horas, vendo marcar 3h da manhã e eu aqui acordado por causa da porra de um pesadelo que vive me atormentando, sei que não vou dormir mais, então levanto da cama sentido o frio do ar condicionado gelar o suor que tá em meu rosto. Ajeito minha cueca preta no corpo e vou em direção à área da piscina dar um mergulho pra relaxar, depois disso só botar um pra subir e começar mais um dia traficando. Daquele jeitinho.
Lá fora vejo o céu escuro e o morro parado, só os meus na rua, tomando conta do meu império, tudo na tranquilidade na gerência, comigo nem tanto, mas nem tudo é do jeito que a gente quer, um dia eu ainda encontro minha paz, sou filho da puta desde que nasci, mas sei que mereço conquistar minha tranquilidade, antes de ser traficante eu sou ser humano, pô...só mente cara.
Caminho em direção à piscina e pulo ficando alguns segundos em baixo da água, regulando a respiração pra não surtar. Tô a um passo de coringar, às vezes parece tá tudo no seu devido lugar, dinheiro, controle sobre quase tudo, menos o controle sobre o meu próprio psicológico. Minha própria mente me trai, é a minha maior inimiga, já passei vários inimigos, mas a mente é a única imbatível, a única que não consigo controlar por mais que eu tente pra caralho, eu sei que preciso de ajuda, mas não sei como vou fazer isso. Por isso tenho o baseado na mão toda hora e mulher pra tirar esses pensamentos.
[...]
Com o baseado na boca, passo perfume, pego minha carteira e as chaves do carro, pronto pra ir pra boca resolver umas paradas, dia vai ser corrido pra caralho. Coloco a camisa no ombro e vou descendo às escadas indo lá pra fora vendo o cara do plantão aqui na frente.
Gaspar: Bom dia, patrão- ele estende a mão pra mim e troco o baseado de mão estendendo a mão direta pra ele- tudo na tranquilidade por aqui.
Eu: Suave, pô... Tiver no horário troca de plantão, quero que vocês respeitem o horário de cada um- sou chato pra caralho com horário de plantão de cada homem que trabalha pra mim, justamente porque não quero nenhum cansado do meu lado, se chegar invasão aí fode. Mas também tem a saúde pô, são moleque ainda, tem que ta de boa mermo.
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Além do Impossível
FanficAmar não é olhar um para o outro, é olhar juntos na mesma direção.