Capítulo 62

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Borges

Passo minhas mãos pelo meu rosto, olhando ela entrar no táxi, indo embora daqui. Já é madrugada, mas por esse lado de Angra tem muito movimento, então tá cheio de gente ao redor. Observo algumas pessoas olhando pra mim e encaro elas, até desviar, povo fofoqueiro do caralho.

A contenção tá lá no quiosque, um ponto mais distante daqui, caminho até o meu carro, parado no meio fio da avenida e mando dedo pros carros que passam buzinando pra mim.

Xx: Tu é o dono da rua, palhaço? - o cara dentro de um carro, grita pra mim, reduzindo a velocidade pra poder falar comigo - Tu tá todo errado colocando o carro aí, meu irmão.

Eu: Vai tomar no seu cu, caralho! - me aproximo da porta da Evoque e ele fala algumas coisas pra mim - Para o carro aqui na frente e desce pra tu falar na minha cara, filho da puta! - entro na porra do meu carro e vejo ele sumir do meu campo de visão - É um caralho mermo, papo reto - estalo a língua no céu da boca, abaixando os vidros da minha Evoque.

Olho pro outro lado da avenida, movimentada pra caralho, e percebo o táxi diminuindo a velocidade, depois que passou pelo retorno lá na frente. Eu fico olhando, mais um pouco, e vejo ela descendo do carro, andando sozinha pelo calçadão. Franzo as sobrancelhas e ligo meu carro, virando no retorno proibido pra cortar caminho mermo, os carros buzinam pra mim, mas eu quero mais é que se foda. Giro todo o volante e acelero, reduzindo a velocidade quando chego perto dela. Ela se assusta com o carro, mas depois que me vê, continua andando.

Eu: Entra no carro - falo sério pra ela entender que eu não tô brincando - Entra ou eu paro aqui e te coloco nessa porra! - ela para de andar e respira fundo olhando pros lados, lá na frente tá a minha contenção preparada pra seguir meu rastro - Quer que eu vá te buscar?

Bianca: Eu já tô indo, Borges - ela bufa e eu percebo a menção do meu vulgo ao invés do nome.

Toda vez que ela fica com raiva quer trocar o nome pelo vulgo, tô ligado na dela, pô. Ela abre a porta e se senta, trazendo o cheiro o cabelo e do perfume dela, mas eu não olho na sua direção, apenas passo a marcha e acelero pra ir embora desse caralho.

Passo a mão no meu cavanhaque, me sentindo em uma situação fodida pra caralho, papo reto. Eu fiz tudo na fé mermo, queria trazer ela até o show pra curtir comigo, aquele bagulho todo eu fiz por ela, pra no final terminar assim. Falei com a Janayna desde a chegada, que hoje eu estaria acompanhado, mas que caralho eu posso fazer se ela veio me procurar? Falei na boa, não dei moral nenhuma, porque na minha mente só tinha ela, eu só tava ali por ela. Mas é difícil manter um bagulho com a Bianca, porque a personalidade dela fala mais alto que tudo nesse caralho.

Olho pro lado, vendo ela com o rosto virado pra janela, fechos os vidros e ligo o ar, ouvindo ela respirar fundo.

Eu: Por que o motorista parou? - pergunto olhando pra frente e ela fica calada - Não adianta me negar voz agora, papo reto, o que ele fez?

Bianca: Nada, eu só não tinha 350 reais pra ir daqui até o morro, Victor - ela fala toda marrentinha - Pode voltar a dirigir calado, papo reto - ela fala gíria e eu olho pro rostinho de raiva, tem até um biquinho na boca.

Eu ouço a voz dela, tá toda marrentinha, me fazendo segurar o sorriso de vagabundo por ouvir ela falando desse jeito. Eu não tô com raiva dela, eu só queria ficar na boa, mas ela não quer e eu também não vou ficar me humilhando, porque, como eu disse pro Choco, eu sei do meu valor.

Acelero o carro, olhando a contenção mais distante, pelo retrovisor, e me viro pra frente, tirando um baseado de dentro do meu bolso, puxo o isqueiro que ela me deu e acendo. Coloco entre meus dedos e dou a primeira tragada longa, sentindo um pouco da agonia passando. Olho pro meu celular tocando no suporte, nele tem o nome da Janayna, ela olha e depois vira o rosto.

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