Capítulo 46

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Borges

Ajeito o relógio no pulso voltando pro carro depois de comprar o negócio que segura o sangue, ainda comprei outras coisas.

Volto pro carro parado na esquina, ainda tô com um pouco de sono, dormi tarde e tive que acordar cedo, pelo menos foi com uma gostosa do lado, abusada, mas gostosa na merma proporção. Abro a porta olhando a carinha de dor que ela tá.

Eu: Eu comprei cinco caixas pra tu, tá ligada? - coloco a chave na ignição olhando pra ela - Também pedi pra mulher me dá remédio, olha - mostro a caixa pra ela que se aproxima me dando um selinho - Fiquei com dificuldade pra explicar a parada, a mulher perguntando se era pra grávida.

Bianca: Lindo - me dá outro selinho e eu ligo o carro, saindo da farmácia - E como ela confundiu com gravidez?

Eu: Eu falei que tu tava enjoada, com um pouco de dor e sangramento - ela confirma, mas dá risada, ajeitando o cinto no corpo - Ela ficou me perguntando se era um aborto espontâneo, aí depois de eu ficar lá explicando ela me deu remédio pra mulher menstruada.

Bianca: Era só falar que eu menstruei - giro o carro na rua de cima, pegando a descida que tem alguns moradores na porta - Ficou com vergonha?

Eu: Fiquei mermo - ouço a risada dela e na merma hora para segurando a risada - Qual foi?

Bianca: Não posso rir - eu franzo as sobrancelhas trocando a marcha - Se rir desce tudo, Victor, e esse cinto aqui me apertando não ajuda.

Eu diminuo a velocidade e aperto a trava do cinto pra tirar dela, tô ligado que mulher fica toda doidona nesse tempo. Mas eu vou fazer ela ficar mansinha na minha mão, papo reto. Vai jorrar sangue, mas nem vai sentir a parada direito, vou ser um traficante disfarçado de príncipe, porra.

Eu: Tá chegando já - ela confirma e eu acelero olhando os moleques na barricada, uns pé de chinelo que não sustenta nem a porra do fuzil, vou trocar tudo - E amanhã tu trabalha?

Bianca: Trabalho, mas é no salão ali da Rosângela sabe quem é? - não sei, mas confirmo - Então, amanhã é nela que eu atendo.

Confirmo, descendo do carro pra pegar as compras no fundo do carro quando chego em casa. Fêu ainda tá virado do plantão, me encarando do outro lado, eu dou a volta esperando a Bianca sair pra gente poder entrar.

Eu: Entra lá que eu já vou, preciso trocar uma ideia rápida - ela confirma pegando o controle do portão e vai entrando segurando as sacolas das coisas que eu comprei pra ela.

Olho ela andando igual um pato e passo a mão no nariz dando risada, caminho até o Fêu olhando ele encarando a Bianca lá do outro lado. Franzo as sobrancelhas, coçando a garganta quando chego perto dele, cruzo os braços, sentindo o sol das 8h nas minhas costas, cobertas pela camisa branca.

Eu: Tá olhando muito por que? - ele me olha ajeitando o fuzil no braço, eu me aproximo descruzando os braços, tiro a arma das costas e coloco na frente - Responde a porra da pergunta, tá olhando o que caralho? - ele me olha, desviando pra minha cintura e sobe o olhar pro meu de novo.

Fêu: Bom dia, patrão - troca o apoio de perna e eu continuo parado encarando o rosto dele - Só tava tentando lembrar se ela era a menina que estudou no mermo colégio que eu há uns anos atrás.

Estreito os olhos olhando pra ele que passa a língua nos lábios, abaixando mais a aba do boné vermelho por conta do sol. Ele acha que eu sou algum otário pra cair nesse papinho de moleque do caralho, ontem eu peguei ele encarando ela também, hoje é a segunda vez, mas eu só vou avisar agora, na próxima eu cobro.

Borges: Tem certeza? - ele confirma - Sabe como funciona as regras, faz quem quer, obedece quem tem juízo - me aproximo dele percebendo os outros moleques observando em cada canto da esquina - Se ela tá comigo tu não tem que encarar não, seja lá que porra tu queira saber, não é pra olhar, tá ligado? - ele confirma mais uma vez, ajeitando o boné de novo - Da próxima vez tu vai aprender de outro jeito, se olhar já sabe - dou as costas caminhando pro lado da sombra, onde fica minha casa, que tá com o portão aberto - Fudido do caralho.

Além do ImpossívelOnde histórias criam vida. Descubra agora