Capítulo 109

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Bianca

Ouço o barulho do carro lá fora, já sabendo que é o Choco. Estico minha perna, por baixo do meu corpo, e fecho a mala, em seguida limpo minhas lágrimas, indo até à porta de casa, na cozinha eu vejo a minha avó intertida, então aproveito disso pra sair sem que ela repare e faça perguntas, porque é o que eu menos preciso no momento.

Abro o ferrolho do portão, vendo o Corolla preto parado na porta da minha casa, ele abaixa o vidro do passageiro e eu confirmo que é ele, fecho o portão de novo e subo os três degraus, olhando pras duas esquinas da minha casa, não vendo nada de diferente. Abro a porta do carro e entro, sentindo o perfume masculino e a expressão curiosa no rosto dele.

Choco: Vim o mais rápido que eu pude, isso porque fiquei curioso pelo jeito que tu falou - ele fala pela primeira vez e eu fungo baixo, ainda sentindo um pouco da sensação de agonia no meu corpo - Cadê o Borges? Ele disse que vinha te ver e depois falou que tava indo pra resenha.

Eu: Foi justamente por isso que eu te chamei, porque a gente terminou faz uns minutos - eu passo a mão nos meus olhos e ele franze o rosto, ajeitando a temperatura do ar - E eu preciso falar com alguém, nem que seja pra confrontar a minha decisão ou apoiar, não sei...

Choco: Ele tava tão preocupado lá na viagem, ficou mais ainda depois do que o Aranha falou pra ele, tem a ver com isso? - eu nego e ele fica calado.

Eu: Hoje eu fui no shopping com as meninas, tava tudo bem, até uma menina me pedir pra levar ela ao banheiro - eu falo baixo, passando a mão por baixo dos olhos e continuo - Eu levei, porque era só uma criança e eu nunca iria pensar que poderia chegar onde chegou. Quando eu tava a caminho do banheiro, o homem que tava com ela me abordou e mandou eu seguir pra fora do shopping, ele ainda tava armado, eu não sabia fazer nada, foi um desespero muito grande pra mim e ainda tá sendo - as lágrimas descem de novo e ele me entrega uma garrafinha de água, encaixando ela entre minhas mãos trêmulas.

Abro a tampinha azul da garrafa lacrada e bebo um pouco da água, sentindo minha garganta aliviar um pouco, eu encaro a frente do morro e respiro fundo, voltando a falar.

Eu: Eu cheguei no estacionamento e já fui colocada dentro de um carro preto, quando entrei um homem falou comigo - ele franze o rosto, passando a mão pela boca e eu confirmo - Era o tio do Victor, foi aí que tudo começou a dar errado, ele falou comigo e pediu pra terminar com o Victor, você já deve saber os motivos deles viverem desse jeito - ele balança a cabeça e eu bato uma unha na outra - Se eu não terminasse, ele ameaçou matar a minha avó e a dona Rosa, foi isso.

Choco: Vamo por partes, porque é muita coisa, tá entendendo? - eu confirmo e ele balança as mãos gesticulando - A informação que chegou foi de um carro cinza, mas não bate com a sua versão.

Eu: O carro cinza existe, mas não tava junto dele, eu tenho certeza - puxo meu vestido pra baixo, sentindo um incômodo no meio das pernas e uma dor leve - Eu cheguei a pensar que poderia ser os homens dele, mas não era, porque tava todo mundo ao redor do carro dele, o tempo todo eles diziam que tinha gente vindo atrás de mim.

Choco: Então são duas coisas, tu tá ligada no risco que a gente corre nessa vida e quem se envolve cai junto, mermo sem ter participação - eu confirmo, passando a mão pela minha barriga e ele continua - Tu achou melhor terminar? Eu ainda não sei o que te falar, porque ninguém tem garantia de que ele vai cumprir com a palavra dele.

Eu: Eu sei disso, mas eu acho que é melhor, porque ele disse que queria que o Victor sofresse um pouco da rejeição, você acha que ele iria querer matar o Victor logo assim? Qual o sentido dele sofrer por tão pouco tempo, se o intuito é separar nós dois justamente pra ele sofrer? - ele aponta o dedo pra mim e confirma, parecendo concordar - E o carro cinza quase passou por cima de mim e do Aranha, isso não bate com as intenções do tio dele, Choco - minha garganta falha de novo e eu bebo mais um pouco do líquido inodoro - Eu terminei pra dar mais tempo de evitar alguma coisa, não contei pro Victor porque conheço ele, sei que ele nunca aceitaria se distanciar e ele é tão impulsivo, você sabe disso. Mas não adiantaria eu terminar sem falar nada e ele ficar sem saber o que fazer, é por isso que eu tô te contando.

Além do ImpossívelOnde histórias criam vida. Descubra agora