Borges
Saio do banheiro dentro do quarto em plena madrugada de domingo, sentindo o corpo tenso, mas mais relaxado após um banho. Caminho até a bancada ao lado da cama, pegando a camisinha com um nó, pra jogar no lixo do banheiro. Passo a mão no meu cabelo úmido, me sentando na ponta da cama, olhando o corpo nú da Nayara que tá dormindo, desvio fechando meu relógio no pulso e pego meu celular em cima da cama com a fronha branca.
Apoio meus cotovelos nos joelhos, entrando no whatsapp indo nas mensagens com a Bianca e apago as duas últimas que eu tinha mandado. Quando cheguei aqui, ainda discuti com a Nayara prolongando aquele assunto que ela puxou lá do passado, mandei mensagem pra preta perguntando mais uma vez se ela queria passar a noite comigo, sabia que ela tinha ido pra casa, porque o Choco me passou a visão, mas ela demorou a responder, então por isso eu tô apagando.
Respiro fundo desligando a tela do celular e abaixo a cabeça olhando os meus tênis nos pés, a cabeça cheia de neurose, vira e mexe puxando pra porra que a Nayara falou pra mim dentro do carro. Puxo o ar olhando a tatuagem no meu antebraço, é o pezinho do serzinho que poderia ter mudado o rumo da minha vida, papo reto. Odeio ficar pensando nisso, porque é uma parada que mexe comigo, bagunçando meus sentimentos de uma forma fodida.
Flashback on...
Chego em casa olhando as mensagens no celular apitando pra caralho, quando eu vejo são todas da Dandara querendo falar comigo. Com pouco tempo, eu já tô aqui com ela de frente pra mim, me olhando apreensiva desde que me viu...
Eu: Pode falar, pô - ela aproxima da bolsa e eu continuo com os braços cruzados no peito - Vim correndo, porque tu disse que era urgente.
Dandara: Mas é urgente - ela caminha até a bolsa dela que tá em cima do braço do sofá marrom - Acabei de ter uma discussão séria com a Nayara por causa disso, isso aqui - aponta pra mim e pra ela - Não vai dar mais certo desse jeito que tu tá fazendo, se antes não dava, agora piorou - continuo calado estranhando esse papo dela, então ela pega um cartão de capa dura na cor verde na bolsa me entragando - Olha.
Eu pego o cartão grande com o nome bem chamativo de uma clínica, parece ser um exame... Quando eu abro não entendo de primeira, mas vou lendo e sentindo o coração disparar a cada palavra escrita nesse papel, mais em baixo tem duas fotos de ultrassom mostrando o bebê. Eu olho pra ela sem reação, só sinto meu coração batendo forte pra caralho no meu peito.
Dandara: Eu tô grávida, Borges - fecho o cartão com o corpo fraco e as mãos trêmulas - Acabei de descobrir e quando tava vindo ainda discuti com a Nayara.
Passo as mãos no rosto sentindo o nervosismo e a cabeça cheia pra caralho. Um filho, papo reto sei nem como reagir.
Eu: E o que tu quer fazer? - pergunto chegando perto dela e é impossível não olhar pra barriga dela, coberta pela blusa preta - Quer dizer o que sobre isso não dar certo?
Dandara: Tô no terceiro mês de gestação, suspeitava desde o mês passado, mas deixei fluir pra ver como você se comportava - ela fala sentando no sofá e eu fico em pé nervoso pra caralho - Todo esse tempo ficando comigo e com a minha ex melhor amiga - eu confirmo me agachando pra ficar na altura dela que tá sentada - É complicado isso e eu não quero criar o meu filho nesse ambiente, eu quero me afastar de tudo isso.
Eu: Não precisa disso, eu fico com você e largo qualquer coisa pra poder participar da criação do meu filho - ela passa as mãos no rosto impedindo as lágrimas de descer - Tu quer?
Flashback off...
Aconteceu em um momento que eu não esperava, minha vida era resumida na gestão do meu morro e mulher pra caralho. Mas foi uma parada que aconteceu sem eu esperar e me trouxe um sentimento de querer fazer o certo, pelo menos tentar, pra ter o meu bebê nos meus braços. Era pra ser a minha menininha, pô...
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Além do Impossível
Hayran KurguAmar não é olhar um para o outro, é olhar juntos na mesma direção.