Capítulo 22

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Borges

Dentro da minha sala eu acompanho as mensagens no grupo do WhatsApp que tem os chefes da maioria das favelas do RJ, tudo favela em que o CV reina. É rotina os cara marcar um encontro com geral mermo só pra manter as ligações firmes e sustentar a rede de tráfico aqui do estado. Ainda mais com os avanços que os tcputa tão tendo ultimamente, aqui na minha área terceiro não passa. Anti terceiro até o fim, bagulho é esse.

Encontro com os de mais alta patente, muita babação de ovo, mulher pra caralho, droga e o assunto que reina é o tráfico. Meio em que muitos são bons, parceiro pra levar pra vida e guardar no coração, mas é desse mermo lugar que vem a traição de quem tu menos espera, papo reto, já cai em muita coisa, já tive do outro lado desde pequeno e hoje escolhi o lado em que fui bem acolhido e na sagacidade da vida eu consegui viver e subir meu império.

Antes eu vivia no Complexo de Israel, região dominada pelo TCP, fui criado no meio por influência de um bagulho muito maior, mas falar que me identificava com a parada toda eu estaria mentindo. Nunca fiz parte, bagulho pesou na minha mente depois que eu saí de lá completamente perdido, sem rumo, parada com meu pai mexeu com tudo a minha volta e meu destino foi o Vidigal. Cheguei era na faixa dos meus 23 anos, moleque novinho que vivia nas asas do pai, aprendi a ser independente e descobri que tinha mente quando eu me vi sozinho, tendo que procurar o meu, mas minha preocupação era a minha mãe, sem foi tudo pra ela e por ela.

Quando cheguei o dono era o finado Peixe, maluco cheio de mulher, vivia tirando com a cara de morador, tinha respeito nenhum com a tropa, pô. Destino de vagabundo sem conduta pra mim é um só, na vida a gente tem que ter respeito às hierarquias, ninguém pode bancar de galo pra cima dos outros achando que tem o rei na barriga e vai sair por isso mermo. Aproveitei de tudo que pude e consegui ter só uma chance com a tropa do CV, relatei a situação toda, bagulho foi no papo reto, não foi na base da bondade, foi na troca mermo, se não fosse a situação eu taria morto, sendo considerado como X9 pelo que fiz.

Mas eu deixei bem claro, passei toda rota e o planejamento necessário, o morro seria dominado pelo CV e eu só queria apoio pra fazer um bagulho. Desde então voltei no Complexo de Israel com uma só missão, um só objetivo e quando consegui eu só senti a necessidade de ter alto grande, nasci pra isso, pra mandar e não ser mandado por ninguém. Meu objetivo era tomar o poder do Peixe e não só isso, eu também queria as duas amantes que ele andava pra cima e pra baixo igual um troféu, foi só tesão e emoção de um cara com apenas 23 anos.

Matei o cara na covardia mermo, foda se, no final os fins justificam os meios. Consegui fazer parte da contenção da casa dele e eu mermo fui lá e matei o cara enquanto ele dormia, só tive que me explicar com a facção, banquei toda responsabilidade e assumi o comando do morro do Vidigal, o cara já tava com os dias contados, só fiz agilizar a situação. Mais pra frente já com meus 24 anos, eu consegui o que queria, foi tudo de uma vez, já tava com a Nayara e a Dandara no porte, as duas amantes do Peixe. Como eu falei, nunca teve amor, era só calor do momento. Fiquei com elas por um bom tempo mermo, mas sempre tinha outras no meio, nunca fui homem de uma só mulher, mas sempre honrei com meus princípios.

Quando recebi a notícia dada pela Dandara, naquela noite, foi só naquilo que eu me apeguei e fiquei só com ela, isso até meus 27 anos, há dois anos atrás... e no fim a parada foi interrompida por ela mermo, até hoje condeno tudo que me fez ficar com aquela mulher, sem neurose.

E hoje tô aqui, muito melhor financeiramente, gestão a todo vapor, mais gostoso que antes e solteiro, pô, sempre assim. Mas e a mente? Fudida pra caralho, isso foi só consequência do processo, a visão é que eu não me arrependo de nada.

Confirmo a presença, evento daqui 3 semanas, provavelmente vai ser em uma lancha cheia de traficante, drogas e mulher. Probabilidade de dar merda é grande, mas essa é a vida que nós leva, tem nem pra onde correr. Passo a mão pela barba colocando o celular virado pra baixo em cima da mesa de vidro bem em frente a mim.

Além do ImpossívelOnde histórias criam vida. Descubra agora