Capítulo 53

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Bianca

Olho as pessoas que vão chegando, todos com a expressão de cansaço e desgaste, outras doentes e eu aqui esperando a vez de ser atendida. Tô aqui no postinho do morro, porque ontem à noite, o Clóvis arranhou o calcanhar da Monique, o corte foi bem na veia, por isso sangrou bastante e eu tive que vir acompanhar ela até aqui.

Isso aconteceu depois que as meninas foram embora, a Monique ficou reclamando por a Tifanny falar que ela queria chamar a atenção do Victor, eu fiquei calada só ouvindo, porque já tava saturada daquela situação. Minha avó ficou conversando com ela, no momento de surto dela, ela piso no rabo do gato e deu no que deu.

Olho ela sentada no banco ao meu lado, balançando as pernas desde que chegou, o rosto vermelho do choro. Ela passou a noite toda chorando, mas o postinho tava cheio, então minha avó cuidou do ferimento e estamos aqui só pra ela tomar uma injeção. Ajeito meus cachos respirando fundo e ela me olha falando comigo.

Monique: Aquilo tudo foi culpa da sua amiga - ouço calada e ela limpa os olhos com as mãos - Menina mal educada, fica de conversinha querendo me tirar a ruim da história - cruzo minhas pernas olhando a enfermeira falando com um paciente.

Eu: Tu passou o dia inteiro esnobando todo mundo - falo tirando os olhos da enfermeira e encaro ela - O dia inteiro, quando chegou a noite ficou reclamando do homem não ter falado contigo - me refiro ao Victor e ela franze as sobrancelhas.

Monique: Você acha mesmo que foi isso? - confirmo, vendo ela sorrir negando - Eu só não gosto do jeito que vocês vivem, não gosto desse jeito do pessoal daqui - ela olha pros lados e volta falando - No geral mesmo, esse pessoal daqui se comporta tudo desse jeito - faço cara feia pra ela e vejo quando aponta pra mim - E você tá indo no mesmo ritmo.

Eu: Jura? - ela confirma - Se você acha tão ruim por que não vai embora? - passo a língua nos lábios e continuo - Às vezes só basta olhar pro próprio umbigo e ver que o problema pode estar em nós mesmos - engulo o acúmulo de saliva, vendo ela calada - Sempre tivemos uma relação normal, mas agora eu percebi como você gosta de destratar as pessoas - ela nega e tenta falar - Deixa eu terminar, tu deu um surto do nada só porque o cara não te deu um "boa noite", Monique.

Monique: Só achei falta de educação da parte dele - vejo a numeração da ficha e ainda não é a vez dela ser atendida - Mas eu me garanto muito, Bianca, se eu quiser ficar com ele, eu fico - confirmo cruzando meus braços - Sempre tive vários homens ao meus pés e com ele não seria diferente, você duvida?

Fico calada, olhando as coisas e evito falar com ela, sinceramente? Já tô irritada com essa situação, a pior coisa é conviver com uma pessoa insuportável, pode ser o tempo que for, o mínimo possível, mas mesmo assim é horrível.

Monique: Achei mesmo ele bonito e me interessei, mas não gostei da falta de educação de falar só contigo e com a vó - confirmo calada - O nome dele é Borges né? - dou ombros.

Eu: Não sei, procura você - fico calada pelos próximos minutos e vejo a numeração com o nome dela aparecendo no telão - É a tua vez, tu vai pra salinha ali na direita e toma a injeção.

Monique: Odeio tomar injeção - ela vai se levantando, ajeitando a bolsa dela - Espero que dessa vez tu tire aquele gato de casa, não serve pra nada e ainda me arranha - levanto o polegar pra ela e vejo ela sendo acompanhada pela enfermeira.

Olho o tempo lá fora, ainda é manhã, o sol bem fraquinho. Olho meu celular e desligo quando vejo umas motos passando pela porta do hospital. Parece até carriata, coço o cantinho do meu nariz e pego meu celular de novo, quando sinto vibrando, na tela aparece o nome da minha avó.

📱 Vó Marisa

Eu: Oi, vó - me encosto na parede ouvindo o silêncio dela, então repito - Tô ouvindo, pode falar.

Além do ImpossívelOnde histórias criam vida. Descubra agora