Borges
Espero a Kaylane sair de casa pra poder ir junto com ela até o local em que tudo vai acontecer. Eu tô desde cedo na pilha por esse momento, tem que dar certo, porque se ele não rodar, quem vai rodar sou eu, o comando já tá sendo atingido aos poucos, toda semana é um inocente morrendo e o meu nome não fica bom na cena desse jeito, até mesmo dentro do crime.
Passo a mão no meu rosto, já impaciente com a demora dessa porra e logo buzino pra ver se ela adianta. Eu tentei deixar a Kaylane ir com os outros caras, mas a contenção tem que tá junta e na moto tá indo o Braz junto com o Choco. O caô de ir acompanhado dela é meu, hoje já tive problema pra caralho e se a Bianca souber disso ela vai ficar enchendo a porra do meu saco.
Eu: Adianta, Kaylane, já tá tarde pra caralho e tu tem que chegar primeiro que o cara! - falo daqui, com os vidros da janela abaixados e ela vem se equilibrando no salto alto - Demorasse mais um pouco, tu ia de moto, papo reto.
Kaylane: A pressa é inimiga da perfeição - ela dá risada, abrindo a porta e aponta o dedo pro corpo dela, vejo o vestido preto, aberto na coxa e ela coloca a perna tatuada no piso do carro, logo se senta e fecha a porta - Tive que me arrumar mais, porque o bofe tem que me ver daquela jeito - eu fico calado e ligo meu carro, saindo daqui.
Ajeito minha camisa vermelha no meu corpo, porque a outra ficou com a Nayara, eu não sei que caralho eu tava fazendo da cabeça pra deixar ela com a minha camisa, porque eu não confio naquela filha da puta. Mas já tá feito, dá pra fazer mais nada agora, giro o volante pro lado, ouvindo a música baixa que toca aqui dentro e em dois tô na pista.
Kaylane: Assim que ele chegar, tu vai entrar ou é pra eu fazer alguma coisa antes? - ela pergunta, ajeitando os fios de cabelo que grudaram na boca dela - Porque se ele tiver distraído é mais fácil pra você.
Eu: Você vai entrar com escuta, na hora tu fala alguma palavra que vai ser o código pra eu entrar - falo sério, passando meu boné pra trás, enquanto dirijo na avenida pouco movimentada - Só faz isso e o resto eu dou conta, tá ligada? - ela confirma e eu fico calado.
É matar e fingir que nada aconteceu, porque eu tenho uma morte na conta e é de um sargento, outro caso desse seria assinar a minha morte, então é manter tudo de baixo do tapete. Bagulho é pra me livrar de caô, não é arrumar mais, por isso que depois disso eu vou pra NH, se eu tiver na pista nesse tempo é capaz de me associarem ao ocorrido, porque logo na pista, voltando pro morro, tem uma central de polícia.
Kaylane: A palavra vai ser gostoso - eu olho pra ela, franzindo as minhas sobrancelhas, mas fico quieto, apenas troco a marcha da BMW - Depois que tu fizer tudo, eu mando outra mensagem pro celular dele, falando que sou casada com o preso que tu me arrumou - eu passo a língua pelos meus lábios, confirmando - Tranquilo né? - confirmo mais uma vez e pela lateral dos olhos, percebo ela ajeitando o decote do vestido.
Muitos relacionamentos não dão certo, porque alguma parte falhou na missão, o papo é esse. Eu falo por mim mermo, nas vezes que tive alguma coisa com alguém eu vacilei, tirando a Dandara, que é outro caso. Mas se não envolver sentimentos já era, falo isso porque já tive muita oportunidade de botar tudo a perder com a pretinha, e a maoiria foi tudo hoje, papo reto. Só que eu tô laçado de outro jeito, então nem me instiga.
Kaylane: Na volta eu venho contigo, né? - eu viro meu rosto pro outro lado, olhando o movimento dos carros na hora de fazer o retorno e ela cutuca o meu braço - Volto com você, Borges? Porque seria bom comemorar que deu tudo certo.
Eu: Sei não, a gente vai ter que ir na Nova Holanda depois de tudo, mas eu posso pagar um uber pra te levar, tem caô nenhum - acelero o carro, entrando numa estrada de terra pra cortar caminho - Mas não vai ter comemoração nenhuma, tem nada pra comemorar.
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Além do Impossível
Hayran KurguAmar não é olhar um para o outro, é olhar juntos na mesma direção.