Além do Impossível

Capítulo 32

Borges

Acordo com o rosto nos peitos da pretinha, tô até desnorteado, papo reto. Ela tá dormindo toda bonitinha ainda e eu só sinto a sensação da ressaca, tô ligado que bebi pra caralho ontem, deve ter sido isso que me fez acordar tarde pra porra e dormir tranquilinho, pesadelo? Nunca nem vi, irmão.

Deito meu rosto de novo no pescoço dela, com o braço tatuado em volta da cinturinha fina, sentindo ela alisar minhas costas enquanto eu tô criando coragem pra levantar e ir resolver minhas pendências do dia a dia, pra manter a vida cara tem que botar a cara pra jogo, isso que é foda.

Eu: Achei que tu tava dormindo - falo com a voz mais grossa pelo sono.

Bianca: Eu tô de olhos fechados sentindo a sensação de dormir, dormir é bom a gente deveria sentir mais a sensação - fala com a voz baixinha e suave, sinto o cheiro de morango saindo da boca dela - não pense que não tenho bafo pela manhã, é só uma bala.

Eu: Eu nem disse nada, pô - mas pensei - enquanto tua boca cheira morango, eu sinto o gosto forte de whisky na minha, bebi muito ontem não foi? - passo a perna por cima dela.

Bianca: A noite toda, ainda tentei te parar no baile, tava até bonzinho, mas quando chegou aqui ficou pior - eu dou risada colocando uma mão no peito dela - a gente tava na piscina e eu fiquei com medo quando tu afundou e não subiu mais.

Eu vou ouvindo ela falar, dando risada de algumas coisas e da forma como ela conta de um jeitinho meigo e exagerado. Eu sou um cara chato com relação a muita coisa, mas se a pessoa souber me ter, ela tem uma versão boa de mim. Ela conversa comigo sem forçar intimidade e na leveza o papo flui, não gosto de gente que força o inexistente, pra a parada acontecer leva tempo, pô. Lembro das primeiras vezes que falei com ela e como era tímida, nem falava direito, agora tá mais soltinha e a tendência é essa, sempre evoluir.

As pessoas têm de mim o que me dão, se é na bondade, vai receber bondade e se for ao contrário vale do mesmo pensamento. Só não gosto de muita melação pro meu lado, odeio gente grudenta, gosto do meu espaço, tô fora desse papo meloso. Por isso nunca me dei bem em nenhum relacionamento, na primeira mancada eu já me estresso e faço merda, traí todas com quem eu me envolvi. Isso porque no fundo, no fundo, aquele papo de que homem não presta é verdade. Não é nem que a carne é fraca, é só a vontade de fazer o errado mermo, ainda mais gente dessa vida, a cada canto que vai é droga e mulher pra caralho, pra não se perder é só tendo muito foco na vida, papo reto.

Eu: Eu não afundei não - nego brincando com o biquinho do peito dela, me amarro nos peito dela, pô - eu tava bêbado, mas lembro de relance tu tentando me afogar, botou as mãos no meu ombro e me forçou pra baixo, eu tô lembrando agora...

Ela força meu rosto pra levantar do pescoço dela e me olha fazendo uma cara de desentendida, mas eu forço meu rosto pra baixo de novo, deitando em cima dos seus seios.

Bianca: E tu dorme e fica agarrado na pessoa que tentou te matar? - pergunta engolindo corda da minha gastação - eu tenho cara de Flordelis?

Eu: Vou puxar as câmera e te mostro que tô falando a verdade - levanto o rosto dando um selinho nela.

Fico pensando se em algum momento eu não acabei sonhando e falando algumas paradas, eu tô ligado que quando eu tenho pesadelo fico com alguns transtornos. Sei porque quando durmo na casa da minha mãe ela chega no quarto, na madrugada, só pra me acordar do pesadelo. Por isso fico meio inseguro de dormir fora de casa ou passar a noite com alguém, ontem eu só tive coragem de pedir pra ela ficar comigo, porque tava bêbado. Qual foi? Sou um bandido que fica bêbado e carente, pô.

Eu: Tu ouviu eu falando alguma coisa enquanto dormia? - ela nega com a mãos na minha orelha, mexendo no meu brinco - nada mermo?

Bianca: Não ouvi nada não, tu não tem noção do tanto que bebeu, né? - ela passa a unha pelo meu pescoço alisando devagar - a tua bebida levantava até defunto, mas derrubava na mesma proporção, tu deitou e apagou em cima de mim, ainda acha que é leve.