Capítulo 108

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Borges

Dentro da X6, fico olhando a resenha lá na frente, na casa do Marcola, a rua tá fechada e só entra quem é do movimento. Já tem um tempo que eu tô aqui dentro, não sei nem se era pra eu vim pra cá, mas também não tinha outra alternativa, sendo que o meu pensamento era voltar e ficar com ela, mas não foi o que ela quis. Sozinho eu também não quero ficar, então foi o que me restou agora...

Encosto minha cabeça no encosto do banco, fechando meus olhos mais uma vez, sentindo o coração acelerando toda vez que lembro de tudo, só de imaginar meu peito fica naquela angústia e eu já consigo sentir a sensação de estar sozinho de novo. No início eu me sentia sozinho, mas não era nada comparado a isso, porque eu não tinha ela e não dá pra sentir falta do que a gente nunca teve, mas agora eu já posso sentir falta.

Passo a mão pelos meus olhos, sentindo meu rosto úmido e a saliva mais densa, afundo o boné no meu rosto e desço do carro, recebendo o vento fresco da noite fria. Olho a esquina cheia de traficante fazendo a segurança, eu guardo as chaves no bolso da calça e desço até eles, à medida que eu me aproximo, vou conhecendo uns rostos, vejo o Buceda e o Toloce no meio dos caras armados.

Eu: O outro lado também tá reforçado ou a segurança é só pra esse lado? - pergunto com a voz mais grossa, ouvindo apenas o som da resenha, porque todo mundo se cala quando me vê - Eu quero reforço nos quatro canto do morro, não tem necessidade de vocês tá aqui, essa porra já tá muito bagunçado e eu não tô com a cabeça boa pra resolver, vou esperar alguém tomar a frente do bagulho e fazer o certo pelo menos uma vez! - ouço o barulho do fuzil batendo no chão e todo mundo me encara, tentando achar meus olhos escondidos pelo boné - Pode circular e ir fazer a segurança do morro todo, não é pra deixar nada passar, porque eu tô tentando entender como um carro entra aqui e ninguém faz porra nenhuma, da próxima vez eu vou resolver e vai ser do meu jeito - aponto pro Toloce e Buceda, chamando os dois pra um canto mais afastado e saio da esquina da rua fechada.

Buceda: Cheguei hoje, patrão - ouço a voz dele e continuo caminhando pra perto do meu carro, olhando a rua cheia de fio enrolado nos postes - Tava lá no Barbante desde aquele dia, morro tá calmo, só aqui que tá mais agitado - me encosto na porta da X6 e alterno meu olhar entre ele e o outro moleque.

Eu: Tô ligado como tá a gestão por lá, mas quero falar com os dois pra resolver outro assunto - eles me olham e eu acendo um baseado pra tentar me acalmar do meu agito interno - Quero vocês dois e mais outros pra fazer a contenção da minha mulher, porque essa semana eu vou gerenciar o Barbante, não fico mais por esse lado - eles franze o rosto, mas confirmam e eu sopro a fumaça pro lado, totalmente sem rumo na vida.

Toloce: Vai começar por hoje ou amanhã? - eu enrolo os dedos e ele entende, fazendo um jóia - E tu vai passar um tempo lá pra resolver as coisas ou vai deixar algum frente aqui e vai mudar pra lá?

Eu: Não vou ficar aqui mais não, o Barbante é morro novo, então quem tem que arrumar sou eu, que sou o dono - me afasto da X6 e eles confirmam, ajeitando a postura - Toloce sabe onde é a casa dela, eu não quero que ninguém chegue perto, só quem for conhecido, não deixa ela sair sozinha e me mantém informado de tudo, tudo mermo - passo a mão pelo meu cavanhaque e dou um passo a frente, falando mais baixo - Tem gente rondando o morro, eu ainda não sei quem é, então faz o bagulho direito e deixa ela longe disso, porque agora eu não tô podendo fazer, tô confiando em vocês - aponto pra eles e faço um toque com cada um, ouvindo o barulho do tapa.

Buceda: Tranquilo, nossa atenção vai ficar nela e não tem outro papo, chefe - ele me olha nos olhos e eu encaro a íris escura, vendo o aparelho nos dentes dele, quando ele volta a falar - Com a morte do Peitolisca eu fiquei meio sem rumo, então vai ser bom focar em outra coisa e vai ser na segurança da tua fiel - eu confirmo e ele se afasta, puxando o Toloce junto.

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