Capítulo 51

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Bianca

Depois que nós subimos o morro até aqui, agora tô ajudando minha prima com as bolsas. As meninas acabaram de levantar e não falaram com ela ainda. Eu só fico olhando o clima maravilhoso que tá nessa casa.

Elas são assim porque antes de eu vir morar aqui, quando era pequena, eu e minha prima sempre vinha pra cá. A gente brincava e tudo, mas a Monique sempre falou umas coisinhas sem sentido por causa do lugar, mas como era todo mundo criança eu relevava e acho que ela pode ter mudado. A Tifanny e a Thalita brincava com a gente, mas a nossa amizade de verdade só aconteceu quando eu vim morar aqui.

Eu ajeito minha postura, sentindo o calor batendo forte e o barulho que o Clóvis faz arranhando a porta com as garrinhas, ele passa perto da minha prima que reclama.

Monique: Eu tenho asma e esse gato não vai facilitar meu processo - eu olho pra ela e fico calada, as meninas pegam o Clóvis no colo e ficam brincando com ele - A senhora deveria não deixar criar gato aqui, vó - minha avó só confirma, olhando a televisão - É um animal nojento que traz muitas doenças.

Tifanny: E tu quer que faça o que? Jogar o gato na rua? - a Monique olha pra ela e fica calada - Pode até ser a casa da tua avó, mas não é assim que funciona as coisas não, o gato mora aqui, ao contrário de você.

Eu chego perto do quarto, colocando as bolsas na entrada pra arrumar depois, a Monique fica calada quando a Tiffany fala e depois olha pra mim franzindo as sobrancelhas, eu estalo os dedos das mãos e olho pra ela esperando falar algo.

Monique: Por que minhas coisas vão ficar naquele quarto? - aponta pro quarto que tá vago, geralmente o Hugo fica aí, mas ele nem dorme em casa direito - Queria dormir contigo, prima.

Eu: Não vai dar, tu dorme nesse mesmo, porque às vezes as meninas dormem comigo - ela dá uma risada baixa negando - O quarto tem tudo, Monique.

Thalita: Deveria dormir na sala - ela fala baixo e minha avó dá risada.

Monique se senta no sofá olhando o iPhone dela e se espalha, encostando na Tifanny que encara ela e eu dou risada negando. Já percebi que não vai ser fácil, parecem tudo criança e a Monique é extremamente mimada e não vai facilitar isso.

Misericórdia...

Depois de um dia longo pra ser mais específica, eu tô voltando do salão da Rosângela, hoje foi pouco movimento por ser segunda e o movimento que teve era de manutenção. Agora eu tô passando pela mercearia pra comprar alguma besteira pra comer com as meninas. Ando até à sessão de doces e pego umas barras de chocolate, da mais barata porque eu sou mão de vaca mesmo.

Zezinho: Vai ser só isso mesmo, Bia? - confirmo pro senhorzinho que sorri pra mim - Cabelo tá bonito, o creme que tu compra chega próxima semana só - faço bico e ele empacota minhas barras - Tentei de tudo pra trazer o que você gosta, mas deu problema com o fornecedor.

Eu: Vou ficar com meu cabelo de palha mesmo - dou o troco a ele, que ri - Mas obrigada viu, seu Zé, o senhor sempre fortalecendo, porque por aqui nunca tem do creme que eu gosto.

Zezinho: É porque aqui sai mais aquele outro, o skala - eu pego minhas bolsas e vou me afastando ainda olha ele - Mas quando o estoque chegar eu aviso - mostro o polegar pra ele e vou subindo de novo.

Ando mais um pouquinho olhando os homens armados nessa rua daqui, como é perto da principal os bandidos armados ficam por aqui. O resto da favela é menos concentrado, onde eu moro é próximo da principal, mas não tem tanto, então sempre fui mais privada dessa parte, graças a Deus. Em minutos eu chego em casa, ouvindo o silêncio.

Eu: Trouxe chocolate - levanto a sacola, a Tifanny e a Thalita vem pra cima de mim e a Monique olha e vira o rosto pro celular de novo - Vai colocar no pote e traz pra gente comer.

Além do ImpossívelOnde histórias criam vida. Descubra agora