Capítulo 72

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Borges

Aliso as pernas dela que estão por cima das minhas, o pé diteito envolvido por uma bolsa de gelo, enquanto ela tá abraçada no meu pescoço, chorando desde que chegou. Olho a mesa a minha frente, com um prato de comida cheio de coisa, porque tá comendo eu e ela, as amigas dela já vieram aqui falar com a pretinha e agora tão mais distante, em uma mesa diferente.

Eu: Já chega de tanto choro, tu já tá comendo aqui comigo e continua nessa - falo sério, tentando tirar os braços dela do meu pescoço, ouvindo ela fungar toda hora - Me explica o motivo de tanto choro, porque eu já fiz tudo e tu ainda tá chorando - ela dá aquele suspiro de quem tá chorando e eu dou risada, esticando meu braço pra pegar minha bebida na mesa.

Bianca: Eu tô chorando não é tanto pelo dor, mas sim por causa da minha comida - ela fala devagar, com a voz de choro, ainda abraçada em mim.

Eu: Eu já trouxe comida pra tu, então para de choro, vou me estressar já já - estalo a língua no céu da boca e ela chora mais, olho pro lado vendo as pessoas olhando pra cá, mas depois desviam.

Bianca: Você não entende o que é ter vontade e o prato cair no chão - tento segurar a risada e me inclino, tirando a bolsa de gelo do pé pequeno pra não queimar a pele dela, ainda ouvindo ela lamentar - Só tinha uma porção de strogonoff, aí eu tava bem feliz, mas caiu tudo no chão, o prato ainda quebrou - pego mais comida no garfo e trago pra perto dela, que come e volta a se deitar no meu pescoço.

Eu: Se o problema for esse, tá resolvido, quando chegar em casa eu mando comprar uma panela toda pra tu comer - falo enquanto mantenho a atenção no Ferreira, que tá evitando me olhar desde que me viu com ela, desvio minha atenção e volta a falar - Mas para de chorar, já tem minutos que tu tá desse jeito.

Quando ele subiu cá pra cima, veio logo querer entender qual o motivo de não poder subir lá no morro. Dei o papo reto e ainda meti a real do bagulho, não quero e pronto, ele entendeu como ameaça e quis meter marra pra cima de mim, dizendo que a arma que eu tenho, ele também tem. Comédia mermo, fiquei na minha e disse pra ele testar que a coisa sairia da teoria e eu mostraria na prática, é simples, pô.

Se ele tá vivo, é graças ao local que nós estamos, aqui eu não posso fazer merda pra respingar em mim mermo, então é melhor me  segurar e esperar uma próxima oportunidade. Eu tô ligado que ele vê ela com maldade, paga de bom, mas é safado. Não caio nesse papinho de chamar ela pra cá e depois aceitar a amiga, se ele tá com a amiga dela, é porque foi o que teve, a segunda opção mermo, porque a primeira tá aqui comigo.

Como o último pedaço de carne e pego um doce pra ver se essa mulher se cala, coloco perto da boca dela e ela come, ficando quita no meu colo. Tá parecendo aqueles bicho de jaula, tem que dar a comida já esperando o bote, bagulho é pra ser sagaz.

Eu: Mexe o pé pra ver se tá doendo - falo e ela gira o pé, com as unhas pintadas de preto e uma pulseirinha de prata em volta do tornozelo, eu fico olhando e pergunto a ela - Tá doendo alguma coisa? - ela nega e eu estalo a língua no céu da boca - Fala pra eu ouvir, parece que é muda, pô - estalo a língua no céu da boca e ela fala comigo.

Bianca: Não tá doendo, seu insuportável - ela levanta o rosto e eu dou risada vendo os olhos todo vermelho e os cílios molhados, ela me olha fazendo bico, se apoiando em mim pra pegar outro brigadeiro - Come um pedaço - eu nego e ela enfia na minha boca - É pra comer quando eu oferecer, Victor.

Eu: Tava chorando toda mimada e agora tá me agressivando? - pergunto a ela, que dá risada enquanto limpa a minha boca - Vamo tomar banho pra ir embora, tu já fez estrago de mais.

Bianca: Não fiz nada, eu só fui vítima desse dia que tinha tudo pra ser perfeito - ela traz os dedos sujos de brigadeiro até a minha boca, e eu chupo sentindo o gostinho doce, fazendo minha boca salivar, ouvindo sua voz de choro falando comigo - Mas eu não me conformo com o meu strogonoff - passo as mãos no rosto dela, limpando o molhado.

Além do ImpossívelOnde histórias criam vida. Descubra agora