Capítulo 80

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Borges

Dirijo até a rua de cima, virando na esquina do bar cheio de homem em volta, logo uma hora dessa. O Braz mexe nos papéis dentro do carro, depois fecha o porta luvas pegando os chocolates que eu comprei pra pretinha, ele come alguns e me oferece, mas eu nego. Reduzo a velocidade, olhando os motoboy passando de uma esquina a outra, o Braz guarda a caixa de chocolate e faz menção de limpar o dedos no banco do meu carro.

Eu: Se tu sujar essa porra eu te faço limpar com a língua, não testa não - aponto pra ele, que dá ombros, mas leva os dedos até à boca - Parece criança mexendo em tudo, para de comer o chocolate, porque é da minha mulher - ele me olha, ajeitando o feixe do boné vermelho e eu arrasto o carro pelos becos estreitos.

Braz: Minha mulher... - ele resmunga, balançando a cabeça e depois me olha - Tu quer ela mermo? - viro meu rosto pro lado, vendo os moleque armado e depois ouço sua voz - Ela é muito boa pra passar pelas coisas que tu faz.

A bipolaridade é de família pelo visto, porque o cara tava me ignorando desde o ocorrido e hoje falou comigo na boa, só tá mais na defensiva, mas tá falando de boa.

No fundo eu entendo o receio que ele sente ao me ver com a prima dele. Desde o início que eu demonstrei interesse nela, ele sempre me deu fora, falando que ela era muito boa pra mim e que eu faria merda. Eu não gosto que ele fale isso, mas o cara fala baseado no que presenciou de mim durante esse tempo todo ao meu lado. Toda merda que eu fazia ele sabia, ele e o Choco, então é compreensível, mas não é a intenção que eu tô com ela agora.

Eu: Quero e tô tendo né? - ele me olha, tem os mesmos olhos pretos dela, até o formato meio arredondado - Tu viu tudo que aconteceu comigo durante esses anos todos, são 5 anos de amizade, então tu viu muita coisa ruim de mim - passo a mão no meu nariz gelado, sentindo o timbre rouco da minha voz - Mas não tenho intenção de fazer nenhuma merda com ela, minha palavra é uma só e isso eu prometi a ela.

Braz: Ainda bem que tu sabe, eu soube das suas traições com a Lorena lá no Israel - ele fala, ajeitando o fuzil no piso da BMW - Depois presenciei a tua putaria com a Nayara e a Dandara, no final deu no que deu - ele dá ombros e eu respiro fundo, passando a marcha - Meses atrás, tu vivia falando que não era homem de uma só mulher e vai ser justo com a Bianca? - olho pra ele, mascando meu chiclete.

Eu: E não sou, mas com ela a parada funciona diferente - ele franze as sobrancelhas e eu reparo no reflexo atualizado, mas volto minha atenção pros seus olhos pretos - Vivi a minha vida de cachorro esse tempo todo, tive consequências me envolvendo com piranha, agora com 29 anos eu tô preso em uma menina de 18, é foda pra mim também.

Braz: Eu nem vou me meter, ela tem 18 anos, trato como se fosse a minha irmã, mas não sou pai e nem mãe dela, se a velha Marisa aceitou o que eu posso fazer? - ele abre os braços e eu confirmo, ligando a seta pro lado direito - Eu não acho que tu vai fazer merda com ela, porque ela é novinha, mas pro seu azar não é nenhuma otária - eu confirmo, disso eu sei muito bem - Só falei aquilo no calor do momento, mas eu também não confio em você quando se trata de mulher.

Eu: Aquilo pesou na mente dela, se ela terminasse comigo quem ia pagar era você - aponto meu dedo pra ele, que dá risada - Tô falando sério - passo a mão no cavanhaque, lembrando de ontem e logo mudo de assunto - Fui na Nova Holanda ontem e encontrei a Dandara junto com a Nayara - ele me olha rápido, franzindo as sobrancelhas e eu estaciono na esquina com sombra, vendo o Choco fumando ao lado do Peitolisca.

Braz: Conta tudo - ele fala, segurando meu braço, mas eu puxo, descendo da BMW e ele fica gritando - Conta tudo, Borges! Conta logo!

Fecho a porta e ele desce me olhando do outro lado, mas eu não revido apenas travo meu carro, guardando as chaves no bolso. É guardando a chave e puxando o baseado, acordei estressado com tudo que rolou ontem, não tem marra que me sustente quando o assunto envolve a minha filha.

Além do ImpossívelOnde histórias criam vida. Descubra agora