Braga, 34 anos.
📍 Rocinha.09:45AM
Carioca: Cofoi, da licença aqui. — A porta do QG é aberta e sua voz ecoa pelo lugar. — A gringa do German chegou aí. — Sua informação faz com que os integrantes presentes me olhassem com olhares de dúvida. Eu solto a fumaça do baseado respirando fundo, deixando cair no chão as cinzas dele que está preso entre meus dedos.
Esperando apenas a minha resposta, os demais seguem calados. Para acabar com todo o silêncio que predomina, eu jogo o cigarro de maconha no chão e arrasto a cadeira em que estou sentado para trás, causando um barulho vago.
Me levanto e jeito a polo vermelha em que estou vestindo e trago minhas correntes grossas a mostra, deixando jogadas no meu peitoral. Passando a mão pela minha cintura eu ajeito o meu coldre, me virando de frente para o cara moreno com os cabelos pintados na cor verde, e o seu fuzil jogado pelo corpo, me olhando atento, esperando uma direção.
— Trás ela pra cá. — Minha voz sai grossa e firme, é a primeira vez que eu falo desde que cheguei aqui. Todos os outros debateram sobre o possível assunto que eu jogaria no peito deles, mas eu não me pronunciei ainda.
Caminho até a parede em que estão penduradas todas as armas dos caras, passando a minha mão pelo meu fuzil na cor preta, gravado com o meu vulgo. Braga. As vezes eu fico fascinado pela forma que eu consigo manusear e comandar tudo isso tão bem.
Bracelete: Qual foi, eu tenho filho e mulher em casa, tô aqui a exatas duas horas e você não abriu a boca nesse tempo pra dizer o por que acionou a gente até aqui. — Manuseio minha cabeça na sua direção, levando minha atenção para o rapaz de vinte e sete anos, recém chegado no tráfico e dono de um achismo absurdo que pode falar o que bem entende, quando bem quer. — Não é por mal não Braga, mas.... — Ele tenta se justificar quando me pega analisando ele.
— Quando você decidiu entrar pra facção, sabia muito bem que no combo vinha minutos, horas e talvez dias longe da família. — Cruzo meus braços e caminho na sua direção. Vejo ele respirar fundo e passar a mão na boca. — Sua prioridade é isso aqui, então eu acredito que entrou pro nosso meio na intenção de vir a hora que for chamado, tô certo?
Ele demora apenas segundos para confirmar com a cabeça, me olhando nos olhos.
— Certo, mais algum aqui está insatisfeito com as duas horas perdidas longe de quem quer que seja? — Pergunto me virando para o restante que estão sentados na mesa, analisando rapidamente as expressões sérias de cada um. Todos negam. — Ótimo.
Me direciono a minha cadeira que a alguns minutos atrás eu estava sentado e me aposento nela outra vez. Pronto para abrir o jogo para todos eles.
— Bom, O German me passou a visão sobre tudo que eu vou dizer aqui, á um mês atrás. — Começo a falar e dois dos dez que estão aqui, soltam alguns xingamentos. — A viagem que eu fiz para o México foi para agilizar todo o processo da exportação das drogas que ele vai mandar pra cá. Vocês todos sabem que não depende somente de mim toda a burocracia das maconhas, cocaínas e as demais que ele manda exportada pra cá. — Tento ser o mais claro.
Costa: Tem que vim alguém de lá, pra não corrermos o risco da mercadoria ser encaminhada para outro lugar... — Meu braço direito termina a frase que eu iria dizer. Eu só concordo. — E o German que veio?
— É aí que entra no assunto que eu quero tratar com vocês. — Limpo a garganta e coloco meus braços em cima da mesa, atento no olhar de cada um deles. — Ele mandou a filha dele, a Estela.
A informação acaba fazendo com que os caras fiquem parados e calados por um tempo, tentando assimilar o que eu disse. Depois de uns dois minutos começam o burburinho, me fazendo descansar minhas costas na cadeira. Antes deles dizerem qualquer coisa, a porta do QG é aberta novamente, trazendo com ela o barulho de saltos no chão.
Carioca: Ela tá aqui, chefe. — Sua voz entra nos meus ouvidos, atento a informação direcionada a mim, eu me levanto e me viro para ele.
Do seu lado estava a mulher que muitos dessa sala evita olhar por muito tempo, ou que mesmo trocar um papo por mais de um minuto. Estela. Filha legítima e a única do German. Ela tem traços do pai, misturado com alguns de sua mãe. A Estela é morena, cabelos longos e pretos, dela vem uma energia forte, o pai dela criou ela na intenção de algum dia passar todo o seu império de narcotraficante no México para ela, mas não sei como anda essa situação.
Estela: Olá rapazes. — Ela dá um meio sorriso e balança no ar os seus dedos, na intenção de se apresentar para todos nós. Eu continuo em silêncio a observando, assim como os outros. — O que interessam á vocês veio com o maior cuidado do mundo, e chegou comigo.
Canário: Essa mulher não deveria hablar o espanhol? — Ele solta uma de suas perguntas fora do momento, trazendo com ela algumas risadas.
Eu me afasto deles e vou até uma parede próxima, me apoiando nela. Analisando de longe tudo que ela iria dizer.
Estela: Passei por muitos professores no México durando alguns anos para hablar também o Português. — Ela entra na onda do Canário e se aproxima da mesa, afastando a cadeira que eu estava sentado, apoiando suas mãos em cima da mesa, olhando para o rosto de cada um deles. — Pero no importa. — Estela mistura o seu espanhol na frase, mudando o sotaque. — A mercadoria que o meu pai mandou, chegou muito bem cuidada.
Costa: Os moleques que foram buscar, deixou aonde tudo? — Ele é o primeiro a perguntar sobre a carga, com os olhos no Carioca.
Carioca: Na boca. — Eu olho atento para ele e confirmo com a cabeça. — Aonde ela vai ficar, chefe?
— Isso eu já resolvi. — Falo sério. — E creio que você sabe onde vai ficar, Estela. — Olho para ela, que se vira pra mim, ajeitando no corpo o vestido na cor preta, detalhando algumas curvas do seu corpo, deixando o seus seios fartos avantajados no decote.
Estela: Eu sei. — Ela me olha, e não esconde de ninguém a analisada da cabeça aos pés que ela me dá. — Pretendo ficar por um tempo, o Brasil no defrauda, muchos motivos para que venga.
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Perfil literário: @autoralivdarwin