Estela
Dia seguinte…
Escuto a chuva cair sobre o telhado, ao mesmo tempo que o aroma do café recém coado impregna em minhas narinas. Enquanto a música baixinha toca no meu celular, deslizo meu polegar pela tela, observando as mensagens chegarem.
Beirava às quatro da tarde, o Canário me deixou em casa a mais ou menos dez minutos. Estávamos na Vila Cruzeiro, visitando a Lorenna, mas o tempo fechou completamente e aí viemos embora.
Hoje cedo, o Braga me disse que iria resolver “um bagulho” na Vila Cruzeiro, ele me levou e depois que resolveu tudo por lá, veio direto pra Rocinha, porque segundo ele, o menor da contenção dele tinha recebido alta do postinho e ele queria resolver a situação antes que se transformasse em algo maior.
Retorno meus pensamentos ao momento atual, desligando a música e deixando o celular sobre a mesa. Deslizo a língua pelo lábio, respirando fundo, eu aproximo minha palma da mão até a xícara de café. Sedenta, trago até os meus lábios, mas, assim que ia dar um gole no café preto, os trovões se intensificam no céu e junto deles o latido fino ecoa pela sala. Meu corpo sofre um espasmo involuntário e, de imediato, largo a xícara.
Meus olhos recaem em meu boddy preto que tem um detalhe no meio dos meus seios, deslizo-os em meu corpo e fixo o short branco. Outra vez os latidos da Crystal se tornam audíveis e eu coloco as havaianas nos meus pés, indo em direção a sala.
— Mi pequeña princesa. — minha voz disputa espaço com as pancadas fortes de chuva que cai lá fora. Aponto na sala, observando de longe a pequena bolinha de pelinhos brancos encolhidinha em cima do seu tapete rosa. — Todo estará bien. — ressoou meu sotaque de forma baixa, me aproximando devagar do seu corpinho. Em pequenos passos, me agacho na sua frente, que se afasta da parede e vem na minha direção, choramingando baixo. — Vem aqui. — apalpo a Crystal e seguro ela em meus braços. — É o medo mamãe, eu estou com muito medo da chuva.
Antes de me levantar, alcanço seu tapete e grudo o mesmo em minha palma da mão, levantando-me e indo até o sofá maior.
— Vou te deixar aqui, do meu lado no sofá. Tá bom? — deixo o tapete no chão, na ponta do sofá e, em seguida, me sento e deixo a Crystal no cantinho para ela não se sentir acuada. — Já, já a chuva passa.
O choramingo é mais baixo, Crystal apoia uma patinha e deita sua cabeça em cima, me olhando nos olhos. Meu sorriso se forma no rosto, deixo a respiração lenta escapar dos meus lábios e acaricio seus pelos.
Me levanto rapidamente e viro-me de frente para a porta da rua. É questão de segundos para que meu corpo paralise e minha palpitação sanguínea acelera, meus olhos se arregalam e por um minuto o trovão iluminou com força seu corpo parado no meio da sala. Examino sua feição e o olhar sério me causa um arrepio em toda minha estrutura física. Fecho os olhos com força e o ar é deliberado dos meus lábios imediatamente, depois que meus pulmões começam a funcionar.
— Mierda, santo infierno! — minha mão esquerda, trêmula, vai de encontro ao meu peito. — Ferreira, puta que pariu! — como uma pena leve, sento minha bunda no sofá. Minha respiração fica desregulada.
Ferreira: Caramba, achei que tinha me ouvido dizer que iria entrar! — sua voz grave adentra meus ouvidos. Tomo outro susto quando de forma rápida sua mão grande deixa um aperto em meu ombro direito. — Desculpa, minha princesa.
— Com esses trovões, como eu vou te ouvir?! — pelo medo repentino, meu tom saiu mais áspero do que eu desejava. — O que você está fazendo aqui? — engulo em seco, sentindo meu corpo suar frio. Minhas mãos ainda tremiam. — Nico e Lion estavam atrás de você o dia todo. Você sumiu. — giro meu pescoço por cima do ombro e cravo seu rosto. Seu corpo está muito próximo do meu.