Lorenna
Passei por muito na minha vida para conseguir me reerguer depois do acontecido com meu filho! quando decidi me envolver com o Matheus, eu já vim sabendo de tudo, porque eu cresci nisso, não com pessoas da família metida no crime, mas porque sempre morei em comunidades! sabia do perigo em me relacionar com um homem que é preenchido da cabeça aos pés de problemas que existem da vida no crime, de todas as merdas que aconteceriam quando eu e ele alarmasse pra comunidade seja em foto, ou simplesmente andando juntos por aí.
No começo, o burburinho rolou e de cara foi as mulheres nas quais ele já se envolveu, ou as que queriam ele. Mentiam, especularam traições dele comigo, e vice versa. Mas eu nunca desconfiei dele, não coloco minha mão no fogo porque apesar de amar muito aquele desgraçado, ele é homem. Mas no fundo eu sempre soube que nós dois pertenciamos um ao outro sem isso de traições, de mentiras.
O nosso primeiro filho, o meu neném, o nosso neném. Eu perdi. Os inimigos de facções rivais num período doloroso de guerra conseguiram me pegar, nunca apanhei tanto na minha vida, me deixaram jogada na barricada toda ensaguentada, os olheiros e o Carioca que no dia, estava trocando ideia com os meninos lá embaixo que me viram.
Matheus mesmo com toda guerra, troca de tiros e correndo perigo de ser morto, saiu do morro comigo, me levou pro hospital mas chegando lá não tinha mais jeito, infelizmente tínhamos perdido o nosso Gael. Foi a época mais dolorosa da minha vida.
Depois daquilo prometemos um para o outro que estaríamos juntos e apesar de tudo, íamos permanecer, sem falhas. O mundo ao redor não importava muito, até porque quando decidir que seria ele com quem eu queria compartilhar os melhores ou os piores momentos, como aquele, era real e sempre foi.
Agora, grávida de novo, meu mundo desabou. Era para ter sido um momento alegre, de primeira mostrar pra ele um teste de gravidez e fazer aquelas coisas bonitas como na primeira gravidez, comprar boddy com frase bonitinha, mas não é assim. A vida real é dura, é cruel e quando caímos sobre ela e o peso descansa sobre nós, dói muito.
Eu não quero que aconteça a mesma coisa, não quero que o mundo por fora se quer toque no meu filho, ainda mais agora que ele tomou frente na Vila Cruzeiro, estamos mais por lá. E eu fui, mas não com a ideia de termos uma responsabilidade a mais, um cuidado a mais.
Respiro o mais fundo que consigo, contendo minhas lágrimas, mas num ato falho, não conseguindo cessar o choro. Entro dentro de casa fechando a porta atrás de mim, encostando a cabeça nela, não consegui ficar muito tempo com as meninas.
— Porra. - faço um biquinho, com a boca trêmula. - Porra.
Costa: Preta? - a voz rouca com o timbre forte me chama a atenção, de forma rápida abro os olhos, limpando as lágrimas na maçã do meu rosto. Levo meus olhos na direção dele, o rosto sério e barba preta pigmentada, ralinha. Percorro meu olhar pelo corpo; camiseta branca, bermuda jeans escura, na cintura o coldre se faz presente portando sua arma e um radinho preso na lateral. Engulo em seco, voltando pro seu rosto, seu olhar me analisa, dominando toda minha face por completo, percorrendo por todo canto seus pares de olhos claros.
— Oi, meu amor. - meus lábios tremem e minha voz sai baixinha, penetrando sua escuta. - Eu tô aqui.
Ele caminha em passos lentos na minha direção, o corpo forte e alto esconde o única fleche de luz da lâmpada da cozinha, o ambiente escurecido toma forma e eu engulo em seco, ao sentir suas mãos segurarem firmemente meu rosto, tomando segundos para analisar meus dois olhos, nos quais se inebriam com as lágrimas no meu globo ocular. Fico toda encolhidinha quando ele me puxa pra perto segurando firme na minha nunca, usando seus dedos da mão direita, colocando os fios dos meus cachos atrás da minha orelha.
Costa: Conta pra mim, conversa comigo, Lorenna. - diz baixinho.. - Olha pra mim. - encaro seu rosto, fungando o nariz. - Sou teu, tô com você em todos os momentos da sua vida, é alguma coisa que eu fiz? eu fiz algo errado? não me faz pensar besteira, eu tô te pedindo. Te perguntei há dias.
— Eu.. - aperto seu pulso, puxando ele pra um abraço forte, guardando meu rosto na curvatura do seu pescoço. — Me desculpa, me desculpa por deixar você pensando besteira, não era o que eu queria.
Costa: Shii.. - abraço mais forte. - Eu tô aqui, eu te amo preta, amo muito.
— Lindo, olha pra mim. - me afasto do seu toque, dessa vez, eu quem seguro seu rosto em minhas mãos. Enxergo atravéz das suas íris, o leve toque de receio, medo, talvez do que iria soar da minha boca. — Lembra da última vez que conversamos sobre o Gael? - a respiração pesada me encontra, o maxilar fica trincado no momento seguinte, junto com a cabeça mexendo levemente em concordância. - Eu falei que ficaria confusa e com muito medo na hora que descobrisse uma nova gravidez, eu ficaria perdida. Matheus, eu...
Costa: Lorenna. - ele sorri, minha garganta seca. - Tu não tá... Papo reto? - o sorriso se alarga no rosto, a pele branca fica vermelha em poucos segundos pela lágrimas, meu sorriso toma forma junto o com seu.
Tento dizer algo mas nada sai, minha boca se abre mas eu não consigo me expressar. Meu peito dói, não consigo imaginar algo de ruim acontecendo com esse bebe, mas se eu tiver ele comigo, eu tenho tudo. Nada mais é tão importante quanto isso, ter ele comigo. Matheus é o homem que eu escolhi pra minha vida, para todos os momentos que vier, é ele. Com ele que eu quero ficar.
Costa: Vamos ter mais um filho? tu.. eu, porra. - me agarra, seus braços grandes perpassam pelo meu corpo, abraçando minha cintura. O cheiro dele me preenche, o cheiro conhecido por todos os meus sentidos e dono dos meus sentimentos mais profundos, o homem que arranca de mim todas as possibilidades de haver dores no meu coração. Eu amo o Matheus. E amo a família que iremos construir. - É sempre a merma sensação, quando você fica estranha, meu coração parece que inflama no peito, preta. Eu juro por tudo, eu sinto cada merda de sentimento ruim que tu me transmite só com esses olhos. - fala tudo com o rosto coladinho no meu. - Eu te amo, Lorenna. Amo a nossa família, tudo que vamos construir.
— Ele tá feliz pela gente. - deslizo meus lábios pelo dele. - Eu também. Não falei por medo, o medo de algo acontecer com o nosso filho, mas eu preciso deixar ela pra trás, a sensação ruim. Não vai acontecer de novo.
Costa: Não vai. - afirma, selando nossos lábios. - Não vai, eu preciso gritar pro mundo essa porra, eu vou ser pai! pai, porra! - me ergue nos seus braços, o gritinho sai do fundo da minha garganta, gargalhando junto dele.
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