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Braga

Analiso, percorrendo meus olhos pelas íris castanhas da minha mãe, seu rosto de traços finos, rosto magro. Escutar isso da boca dela me faz pensar pra caralho, não era meu, isso eu sei. Fernanda sempre foi filha da puta, se fosse agir na base da mentira e conseguindo o que ela queria, ela agia.

— O papo que ela me deu, foi que inventou essa merda toda! e eu vou continuar firme nessa ideia, que não passou de mais uma loucura dela. - meu tom de voz firme soa dos meus lábios.

Lúcia: Eu fui com ela fazer a merda do teste, fui eu. Ela estava grávida, Caio. E se aquela criança fosse sua? - fico calado. - Não acha que fez errado?

— Eu? não, não acho que fiz, pô. A pessoa vive toda a vida toda atrás de caô, procura problema e quando é pra sustentar, não sustenta.. E eu faço errado? - ela estreita o olhar na minha direção, deixando os olhos fixos nos meus. -  Ela errou pra caralho, desde que a gente se conhece eu deixei claro pra ela! não sou moleque não, ela achou que por ter tido algo comigo, se ela agisse na pura maldade iria passar.

Lúcia: Meu deus.. - o semblante choroso se faz presente na sua face, eu continuo sério. - A criança que ela estava esperando não tinha culpa.

— Mas ela sim, e não me sinto culpado, quando ela me viu pela última vez, as palavras dela foram que inventou toda essa história de gravidez pra tentar me separar da Estela. Não pense que eu vou me remoer por dentro, com culpa. - deslizo a língua entre meus lábios, conversando com ela na boa, sem me alterar.

Não minto quando digo que não me sentiria culpado, não vou pagar de coração mole, com ela? não, caralho. A mulher enquanto viva era só de inferninho procurando sair por cima, mas fazendo a coisas que até o próprio diabo duvida.

— Sabe que no dia que a Estela chegou aí com corpo mole, drogada, foi porque ela mandou colocar o bagulho na bebida dela, né? - largo o copo, me virando pra ela outra vez, quebrando o silêncio que se predominou por uns segundos, com minha voz grave. - A senhora mermo viu como ela chegou, foi aquela filha da puta que mandou, porque coragem pra bater de frente no papo que eu dava, ela não tinha. Se algo de pior tivesse acontecido com a Estela, só a forma que eu matei ela não ia ser suficiente.

Lúcia: Tudo bem, não vamos conversar mais sobre isso. - fito quando ela respira fundo, passando as mãos pelo rosto. - Eu não quero discutir com você.

Intensifico a marcação do meu maxilar travado, quando inspiro mais fundo que consigo. Papo reto, ideia que não vai entrar na minha cabeça nem mudar porra nenhuma da minha vida. Tá morta, não vou atrasar meu tempo nem o corre da minha caminhada por caô que ela mermo procurou pra própria mente.

— É o melhor pra nóis dois, minha velha. - permaneço calmo, segurando firmemente a garrafa de café em minha palma da mão direita, abrindo com a outra ao escorregar meus dedos pela tampa, sentindo o cheiro doce invadir meu olfato e impregnar minhas narinas. - Já acabou, isso não vai trazer problemas pra nossa mente não.

O silêncio se instala e percebo que nenhum se incomodou o suficiente com isso, calados permanecemos. Me viro de frente pra sua direção, me encostando na pia, tomo um gole do líquido quente que desce pelas paredes da minha garganta. O barulho da porta da sala se abrindo chama minha atenção, levo meus olhos pro vão da cozinha, aperto meu olhar e enxergo a Karina entrando dentro de casa com a Bruna enquanto conversam entre si.

Circulo com a língua pelo lábio, brisando umas parada na própria mente terminando de tomar meu café. Balanço a cabeça, negando, e me aproximo da minha velha que está caladona, sentada em uma das cadeiras que comprometem à mesa. Apoio o copo sobre a própria, atento nas palavras que iriam sair da minha boca.

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