Jhennyfer...
Narração terceira pessoa on.
A escuridão parecia sufocante, um nevoeiro denso envolvia tudo ao seu redor, tornando o ar pesado, quase impossível de respirar. Ela estava no meio de uma estrada deserta, sem entender onde estava, mas o sentimento de perda e desespero a consumia.
O silêncio era esmagador, até que de repente, uma nuvem de fumaça surgiu à distância, cinza e densa, como se o mundo estivesse pegando fogo. A fumaça se espalhava rapidamente, engolindo tudo no caminho, tornando o cenário ainda mais claustrofóbico.
Ela tentou correr, mas seus pés estavam pesados, como se afundasse em areia movediça. Foi quando ouviu, no fundo daquela neblina sufocante, o som de cães latindo — primeiro baixo e distante, depois cada vez mais alto, mais próximo, como se os animais estivessem em pânico. Os latidos eram desesperados, misturados com um eco distante de algo que ela ainda não conseguia identificar. O som a deixou paralisada, como se soubesse que aquilo era um aviso.
O prenúncio de uma tragédia avassaladora.
De repente, os latidos foram cortados por um estampido alto, seco, e então outro, e mais outro — tiros. Ela então, com uma força bruta, girou os pés que estavam fincados na areia movediça e moveu lentamente seu corpo. Os disparos ecoaram no vazio, perfurando o silêncio e atravessando seus ouvidos com brutalidade, cada tiro como uma facada no coração de Jhennyfer.
O seu peito expandiu-se, e o ar lhe faltou. Ela tentou gritar, mas sua voz não saía. Tentou correr na direção dos sons, mas suas pernas não obedeciam. Tudo o que conseguia fazer era assistir enquanto a fumaça engolia tudo ao redor.
Em meio àquela escuridão, um vulto apareceu, e ela soube, instintivamente, que era Canário. Ele estava imóvel, como uma sombra à beira da fumaça. Os tiros cessaram, mas o silêncio agora era ainda mais aterrorizante. Ela queria correr até ele, alcançá-lo, mas algo a prendia no lugar.
Ela queria abraçá-lo, mas não tinha forças para ir em sua direção. Algo a prendia. Algo a sufocava.
Foi então que a fumaça o envolveu completamente, e o som de um último disparo ecoou, mais alto que todos os outros. Os cães latiram uma última vez, e a escuridão caiu sobre tudo. A escuridão que parecia querer envolver seu corpo por completo a qualquer instante, fincou sobre o chão escuro como uma névoa seca.
E todo o cenário evaporou dos seus olhos.
Narração off.
Acordei de repente, como se tivesse sido arrancada de um abismo profundo. Meu corpo estava encharcado de suor frio, as mãos tremiam enquanto eu tentava encontrar alguma sensação de realidade ao meu redor. O peito subia e descia com força, cada batida do coração ecoando descontrolado na carne do meu peito, que apertava como se estivesse prestes a explodir. Ainda podia sentir o cheiro da fumaça do meu sonho, podia ouvir os latidos incessantes dos cães e, pior, os tiros que pareciam ecoar dentro da minha mente.
Era um sonho. Apenas um sonho.
Levei as mãos ao rosto, tentando afastar o terror que ainda me envolvia, mas o pressentimento estava cravado em mim. Eu não acreditava em sonhos, nunca acreditei, mas o que senti naquela madrugada era diferente.
Engoli o choro que ameaçava se soltar. Minha garganta doía, e minha cabeça estava à beira de explodir. Respirei fundo, tentando me convencer de que estava apenas me deixando levar pelo medo. Mas não conseguia. Fechei os olhos com força, desesperada para me agarrar ao que era real. Mas a imagem do meu Samuel, do meu Canário, com os olhos vazios, perdidos e sem vida, me atravessou, cortando meu peito. Um soluço escapou, sufocado, enquanto eu apertava a respiração e o peito.